segunda-feira, 25 de junho de 2012


O QUE SIGNIFICA ACEITAR CRISTO

Poucas coisas, felizmente poucas, são assuntos de vida ou morte, tal como uma bússola para uma viagem marítima ou um guia para uma viagem através do deserto. Ignorar coisas assim vitais não é só lançar sortes ou correr risco, mas é puro suicídio; ou seja, estar certo ou estar morto.

Nosso relacionamento com Cristo é uma questão de vida ou morte, e num plano muito superior. O homem que conhece a Bíblia sabe que Jesus Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores e que os homens são salvos apenas por Ele sem qualquer influência por parte de quaisquer obras meritórias que o homem possa praticar.

Para a pergunta: “O que devo fazer para ser salvo?” devemos aprender a resposta correta. Falhar nesse ponto não envolve apenas arriscar nossas almas, mas garantir o exílio eterno da face de Deus. É aqui que devemos estar certos ou nos perderemos para sempre.

Os cristãos evangélicos fornecem três respostas a esta pergunta: “Creia no Senhor Jesus Cristo”, “Receba Cristo como seu Salvador pessoal” e “Aceite Cristo”. Duas destas respostas são extraídas quase literalmente das Escrituras: 

“Responderam eles: Crê no Senhor Jesus Cristo, e serás salvo, tu e tua casa” (At 16:36) e “Mas a todos os que o receberam, àqueles que crêem no seu nome, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus” (Jo 1:12). 

Enquanto a terceira é uma espécie de paráfrase, resumindo as outras duas. Não se trata então de três, mas de uma só.

Por sermos espiritualmente preguiçosos, tendemos a reproduzir o que ouvimos de outros por ser mais fácil. Dessa forma damos continuidade a algo sobre o qual não meditamos de forma profunda e esclarecedora. Assim sendo, a fórmula “Aceite Cristo” tornou-se uma panacéia de aplicação universal, a qual tem sido fatal para muitos.

A dificuldade está em que a atitude “aceite Cristo” é provavelmente errada. Ela mostra Cristo suplicando a nós, em lugar de nós suplicarmos a Ele. Ela faz com que Jesus fique de pé aguardando o veredicto a respeito d’Ele, em vez de nos ajoelharmos com os corações contritos esperando que Ele nos julgue. 

Esta fórmula equivocada pode permitir que pessoas aceitem Cristo mediante um impulso emocional ou mental, sem qualquer dor, sem prejuízo do seu ego, e sem que tenha de mudar os inconvenientes de sua vida normal, ou seja: Tudo pode continuar como sempre esteve.

Para essa maneira ineficaz de tratar de um assunto vital, podemos imaginar alguns paralelos; como se, por exemplo, Israel tivesse “aceito” no Egito o sangue da páscoa, mas continuasse vivendo em cativeiro, ou o filho pródigo “aceitasse” o perdão do pai e continuasse entre os porcos no país distante. 

Não fica claro que se aceitar Cristo deve significar algo. É preciso que haja uma ação moral em harmonia com essa atitude?
Entendemos que “aceitar Cristo” deve representar um esforço sincero por parte do pecador. Vejamos então o que queremos ou devemos indicar ao fazermos uso desta frase. Aceitar Cristo é dar ensejo a uma ligação com a Pessoa de nosso Senhor Jesus. Essa é uma experiência única na vida de qualquer pessoa.

Espera-se que, naquele momento, o crente esteja intelectualmente convencido de que Jesus é tanto Senhor como Cristo; ele decidiu segui-lo a qualquer custo e seu coração está regozijando pela singular doçura de sua companhia. O verdadeiro crente confessa Cristo como o seu Tudo em Todos sem reservas.

Ele crê no Senhor Jesus Cristo, o Cristo abrangente, sem modificação ou reserva, e recebe com alegria tudo o que Ele fez na sua obra de redenção, tudo o que está fazendo agora no céu a favor dos seus, e tudo o que opera neles e através deles.

Aceitar Cristo é conhecer o significado das palavras: “pois segundo Ele é, nós somos neste mundo” (1 Jo 4:17). Nós aceitamos os amigos dele como nossos, seus inimigos como inimigos nossos, seus caminhos como os nossos, sua rejeição como a nossa rejeição, sua cruz como a nossa cruz, sua vida como a nossa vida e seu futuro como o nosso futuro.

Se é isso que queremos dizer quando aconselhamos alguém a aceitar Cristo, será melhor explicar isso ao ouvinte, pois é possível que se envolva em profundas dificuldade espirituais caso não entenda claramente o assunto.
    

segunda-feira, 18 de junho de 2012


O GRANDE DESAFIO DESTE SÉCULO

Vista da perspectiva da eternidade, a maior necessidade da época atual pode ser perfeitamente a de que a Igreja seja tirada do seu longo cativeiro babilônico e que o nome de Deus seja nela glorificado, como no passado. 

Não devemos, porém, pensar na Igreja como um corpo anônimo ou uma abstração mística. Nós cristãos somos a Igreja, e aquilo que fazemos é o que a Igreja está fazendo. A questão é, portanto, pessoal, para cada um de nós. Qualquer avanço na Igreja terá de partir do indivíduo.

O que nós, crentes comuns, poderemos fazer para trazer de volta a glória que se foi? Há algum segredo que possamos aprender? Há alguma fórmula para um avivamento pessoal que possa ser aplicada à presente situação, à nossa situação? A resposta é SIM.

O segredo já está desvendado, o crente pode sabê-lo facilmente. É simplesmente o antigo e sempre novo conselho: Conheça a Deus. Para recuperar o tempo perdido, a Igreja precisa ver o céu aberto e ter uma visão transformadora de Deus.

Mas o Deus que devemos ver não é o “deus” utilitário, tão popular hoje, cujo principal atrativo é sua capacidade de fazer com que os homens sejam bem-sucedidos em suas diversas ocupações, e por essa razão está sendo adulado e lisonjeado por todo aquele que deseja um favor.

Temos de aprender a conhecer o Deus que é Majestade nos céus, Pai onipotente, Criador do céu e de terra, o único Deus sábio, nosso Salvador. É Ele que se assenta sobre o círculo da terra, que estende os céus como uma cortina e os desdobra como uma tenda para Sua habitação; que chama as hostes de estrelas pelos seus nomes, pela grandeza de Seu poder; que vê as obras do homem como vaidade; que não se fia nos príncipes e não busca nos reis o conselho.

Não se pode ter conhecimento de tal Ser apenas pelo estudo. Este conhecimento vem por uma sabedoria desconhecida do homem natural, pois é espiritualmente que se discerne. Conhecer a Deus é, a um tempo, a coisa mais fácil e a mais difícil sobre a terra. É fácil porque o conhecimento do Deus santo é um dom gratuito dado aos homens prontos para recebê-lo. Mas, tal conhecimento é difícil porque existem condições a serem satisfeitas e a natureza obstinada do homem não as aceita com facilidade.

A primeira condição é que abandonemos o pecado. A crença num Deus santo que não pode ser conhecido pelos homens perversos não é novidade para a religião cristã. As palavras de Jesus confirmam este critério: “Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus”.

Em segundo lugar, devemos reconhecer que morremos para o pecado e estamos vivos para Deus em Cristo Jesus; Seguindo-se a isso uma completa abertura da nossa personalidade, tornando-nos receptivos à entrada do Espírito Santo. Teremos então de praticar a autodisciplina que o andar no espírito requer, e mortificar a concupiscência da carne.

Talvez tenhamos também de nos separar do textualismo sem vida que prevalece entre as igrejas evangélicas, e protestar contra o caráter frívolo de muitas coisas que passam por cristianismo entre nós. Com isso talvez percamos amigos e ganhemos uma reputação de sermos “santinhos”; mas, homem algum que estivesse preocupado com as opiniões dos outros seria digno do Reino de Deus.

Devemos manter a majestade de Deus em pleno destaque em todos os nossos cultos públicos. Não só as nossas orações particulares devem louvar a Deus, mas o nosso testemunho, o nosso cântico, a nossa pregação e aquilo que escrevemos deverá centralizar-se na Pessoa do nosso santo Senhor; exaltando continuamente a grandeza da Sua dignidade e poder. 

Há um homem glorificado à destra da Majestade nos céus, representando-nos fielmente ali. E nós, que permanecemos por um tempo entre os homens, devemos ter o cuidado de representá-lo fielmente aqui.  

segunda-feira, 11 de junho de 2012


O MINISTÉRIO EXIGE INTEGRIDADE

A Bíblia deixa claro que o ministério exige integridade e que não se deve separar o mensageiro da mensagem. Quando tal coisa acontece, tanto o mensageiro quanto a mensagem perdem a integridade.

Não é suficiente pregar a mensagem correta; precisamos pregar com os motivos certos. “Pois a nossa exortação não procede de... impureza” (1 Ts 2.3). Certa versão da Bíblia diz “de motivos impuros”. Paulo não se fez perito em agradar homens a fim de se tornar um pregador popular, nem explorou o povo a fim de se tornar um pregador rico. O motivo básico do seu ministério era agradar a Deus, e foi isso que lhe deu forças. Ele sabia que Deus testava o seu coração constantemente para ver se os seus motivos eram puros.

Henry David Thoreau escreveu: “Não há cheiro tão mau quanto o que exala da virtude corrompida”. E poucas coisas corrompem a virtude como a ganância, o desejo de ser popular e o sentimento que toma conta do nosso ser ao exercermos poder sobre pessoas que nos oferecem a sua adoração idólatra. Quando nossos motivos são errados, nosso ministério é errado; e as conseqüências são trágicas para nós, para aqueles que nos seguem e para a igreja toda.

Talvez seja impossível alguém sobre a terra ministrar com motivos absolutamente puros, mas, pela graça de Deus, podemos tentar. Quando percebermos que estamos resistindo às críticas e cultivando os elogios, saberemos que algo está errado. Quando começamos a acreditar em todas as coisas agradáveis que dizem a nosso respeito, estamos em perigo. Se nosso coração está reto perante Deus, o elogio deve tornar-nos humildes e não vaidosos.

Nos últimos anos, a igreja tem tido celebridades demais e servos de menos, um número demasiado grande de pessoas com muitas medalhas, mas sem cicatrizes. Observando suas vidas e ouvindo as suas mensagens, jamais saberíamos que o evangelho se refere a um humilde judeu que foi pobre, rejeitado e crucificado; nem tampouco suspeitaríamos que ele disse: “Bem-aventurados vós os pobres, porque vosso é o reino de Deus” (Lc 6.20), ou “Mas ai de vós, os ricos! Porque tendes a vossa consolação” (Lc 6.24).

A celebridade religiosa fabrica a mensagem que mais realce a sua popularidade e talvez aumente a sua renda. O servo verdadeiro se preocupa tanto com a sua integridade quanto com a da mensagem.

O apóstolo Paulo estava interessado, também, em que os métodos estivessem corretos. Não há lugar para a “fraude” no ministério do evangelho. A fraude não tem lugar na promoção do evangelho. A fraude e a fé não andam de mãos dadas. Tenho ouvido cristãos sinceros dizer: “Não me preocupo com os métodos, contanto que a mensagem seja correta!” Essas pessoas deviam considerar o fato fundamental de que a mensagem ajuda a determinar o método.

Alguns métodos do ministério evangélico são indignos do evangelho. No seu relacionamento com as pessoas, Paulo era franco e honesto. Não tentava seduzi-las com o evangelho. Se perguntarmos por que os pregadores do evangelho do êxito raramente pregam sobre pecado, arrependimento ou julgamento, provavelmente teremos a seguinte resposta: “Porque sabem que a maioria das pessoas não dá ouvidos a esse tipo de pregação”. Daí porque, eles seduzem as pessoas com seus sermões sobre o êxito, e depois uma equipe tenta fazer um trabalho nos bastidores para que o povo entenda o evangelho.

Não encontro esse tipo de evangelização em lugar algum no ministério de Jesus, no dos seus discípulos ou no da igreja primitiva. Às vezes Jesus usava paralelos interessantes para conseguir a atenção dos seus ouvintes, mas depois fazia com que enfrentassem seus pecados. Obteve a atenção da mulher junto ao poço falando sobre “água viva”, mas depois ela teve de encarar os seus pecados. Jesus estava longe de ser um pregador do êxito. Na realidade, algumas das suas mensagens foram tão condenadoras que os ouvintes desejavam matá-lo!

Sermões que adulam os pecadores jamais os salvam. A pregação do evangelho verdadeiro exalta Deus e condena o pecador; não estimula o seu orgulho. O ego pecaminoso do homem precisa ser esmagado perante um Deus santo; e é isso que a mensagem do evangelho faz. Antes de aceitarmos as boas-novas a respeito de Jesus, precisamos aceitar as más novas sobre nós mesmos.

Outro artifício é: oferecer respostas simples a problemas complexos. O pregador que brada “Jesus é a resposta!” está fazendo uma afirmação válida. Mas está beneficiando as pessoas tanto quanto o médico que grita aos pacientes na sala de espera: “Cirurgia é a resposta!” É pura demagogia, mesmo tendo o apoio de um versículo bíblico. A natureza humana decaída deseja crer em mentiras, especialmente nas “mentiras religiosas”, o que facilita o êxito dos demagogos.

James Fenimore Cooper definiu demagogo como “o indivíduo que promove seus próprios interesses simulando uma dedicação profunda aos interesses dos outros”. De todos os demagogos, os religiosos são os mais desprezíveis. Eles sabem como seduzir.
Agimos de conformidade com o que cremos e nosso comportamento e fé determinam o que viremos a ser. Se crermos na verdade, ela nos santificará (Jo 17.17) e nos libertará (Jo 8.31-32). Se crermos em mentiras, aos poucos nos tornaremos uma mentira à medida que perdemos a integridade e começamos a praticar a duplicidade.

É o princípio fundamental que nos tornaremos semelhantes ao deus que adoramos. Se o deus é falso, seremos falsos. “Tornem-se semelhantes a eles (deuses falsos) os que os fazem, e quantos neles confiam” (Salmo 115.8).

Filhinhos, guardai-vos dos ídolos” (1 Jo 5.21).


quinta-feira, 7 de junho de 2012


REGRESSÃO

“Deus criou números inteiros, tudo o mais é obra humana”. Leopoldo Kronecker

Para compreender integridade, precisamos entender que há duas forças operando no mundo: (1) Deus está unindo as coisas e, (2) o pecado as está separando. Deus deseja unidade; Satanás quer divisão. O propósito de Deus é “fazer convergir em Cristo todas as coisas” (Ef 1.10), e Cristo não pode aceitar neutralidade: “Quem não é por mim, é contra mim; e quem comigo não ajunta, espalha” (Lc 11.23).

O programa de Deus, afinal, será bem sucedido, e um dia o seu universo se tornará uma gloriosa unidade. Mas, até que isso aconteça, você e eu precisamos viver num mundo dividido e sofrer os problemas decorrentes dessa divisão.

A igreja é o principal instrumento que Deus tem neste mundo para unir as coisas; e, a fim de bem executar o seu trabalho, ela própria precisa possuir inteireza. Se há um lugar onde o povo desorientado de nossa sociedade fraturada deve procurar integridade, é na igreja local. Afinal nós, os cristãos, estamos reconciliados com Deus e unidos uns aos outros; portanto, as pessoas têm todo o direito de esperar ver integridade na igreja.

O que é integridade? Segundo o Dicionário da Língua Portuguesa, a palavra vem do latim “integritas” e quer dizer “inteireza física”, “inteireza moral”, “retidão”. A raiz da palavra é integer”, que significa “inteiro”, “completo”, “perfeito”. A integridade está para o caráter do indivíduo ou da empresa como a saúde está para o corpo ou como a visão perfeita está para os olhos.

Uma pessoa íntegra não é dividida (o que indica duplicidade) nem fingida (o que indica hipocrisia). É “inteira”; a vida é harmoniosa e todas as coisas operam em harmonia. Pessoas íntegras nada têm a esconder e nada temem. Suas vidas são livros abertos. São inteiras.
Eis como Jesus descreveu integridade:

“Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem destroem e onde os ladrões arrombam e roubam. Mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem destroem e onde os ladrões não arrombam nem roubam. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração. A lâmpada do corpo são os olhos. Se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo terá luz. Se, porém, os teus olhos forem maus, todo o teu corpo estará em trevas. Portanto, se a luz que há em ti são trevas, quão grandes são essas trevas! Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar a um e amar o outro, ou se devotará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas” (Mateus 6.19-24).

Jesus tornou claro que a integridade envolve toda a pessoa interior: o coração, a mente e a vontade. A pessoa íntegra possui um coração honesto. Não tenta amar a Deus e ao mundo ao mesmo tempo. Seu coração está no reino do céu, pois é lá que se encontra o seu tesouro. “Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele” (I Jo 2.15). Uma pessoa íntegra leva a sério a seguinte ordem: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração” (Mt 23.37).

A pessoa íntegra também possui uma mente honesta, um ponto de vista honesto (“olhos”) que leva a vida para a direção certa. Afinal, o ponto de vista ajuda a determinar o resultado; “o homem de ânimo dobre (é) inconstante em todos os seus caminhos” (Tg 1.8). Ló foi um homem de ânimo dobre, o que ajuda a explicar a razão de ter ele escolhido ter uma casa em Sodoma em vez de uma tenda no acampamento de Abraão.

O que ajudou Abraão a se manter no caminho certo foi o seu ponto de vista honesto. Ele era estrangeiro e peregrino na terra, tendo os olhos da fé fixos em Deus e na cidade celestial (Hebreus 11.13-16).

Ninguém pode servir a dois senhores. Tentar tal coisa é tornar-se uma pessoa dividida, e uma pessoa dividida não pode ter integridade, pois seu coração, mente e vontade estão divididos. Jesus explicou que a “visão honesta” deixa entrar a luz, ao passo que a “visão dupla” – dois pontos de vista e dois senhores na vida – resulta em trevas. Preveniu então que a pessoa sem integridade realmente pensa que as trevas são luz!

O apóstolo João descreve esse processo alarmante de degeneração moral e espiritual: “E esta é a mensagem que dele ouvimos, e vos anunciamos: que Deus é luz, e nele não há treva nenhuma. Se dissermos que temos comunhão com ele, e andarmos nas trevas, mentimos, e não praticamos a verdade” (I Jo 1.5-6).

É este o primeiro passo na direção das trevas: hipocrisia, mentir aos outros sobre nossa comunhão com o Senhor. Há muitas maneiras de fazer tal coisa: pregar o que não praticamos, orar por coisas que não queremos, fingir que fazemos alguma coisa. Mas fingimento é apenas o começo, pois o problema torna-se pior. João continua a dizer: “Se dissermos que não temos pecado nenhum, enganamo-nos a nós mesmos e não há verdade em nós” (I Jo 1.8).

Certamente a situação torna-se mais séria, pois agora estamos mentindo não somente aos outros, mas também a nós mesmos e acreditamos nessa mentira! A hipocrisia agora passou a ser duplicidade. Não mais apenas fingimos; a mentira agora é nosso modo de viver, e nada vemos de errado nele. A hipocrisia deu lugar à duplicidade.

Para onde nos leva esse estado de coisas?

Quando a hipocrisia (mentir a outros) e a duplicidade (mentir a nós mesmos) começam a assumir a direção, a integridade desgasta-se gradualmente até ser destruída. O resultado é sempre apostasia (afastamento de Deus). É desta que forma que, aos poucos, a luz transforma-se em trevas.

E tudo isso acontece enquanto a pessoa ou o ministério aparenta um relacionamento fiel com Deus. Quando o inesperado acontece, o povo fica surpreendido e chocado. A luz tornou-se trevas, daí por que não mais conseguem discernir o certo do errado.

Integridade significa que a luz está brilhando no interior porque a pessoa (ou o grupo) possui um coração honesto, uma mente honesta e uma vontade honesta. Hipocrisia significa que houve divisões e as trevas penetraram. Duplicidade significa que a luz tornou-se trevas, o errado tornou-se certo e o pecado tornou-se aceitável. É esse o tipo de pessoa que Jesus tinha em mente ao dizer:

“Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos dirão naquele dia: Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade!” (Mt 7.21-23).

Dizer as palavras certas, ter as credenciais certas, pregar sermões de textos certos, ajudar pessoas com problemas, e até mesmo fazer milagres, jamais pode tomar o lugar de fazer a vontade de Deus. A tragédia de hoje, porém, é que muitos não conhecem a diferença entre a realidade e o fingimento; o que a maioria chama de “benção” pode ser de fato julgamento de Deus!





   








   

segunda-feira, 4 de junho de 2012


O OPRÓBRIO – UMA REFLEXÃO SOBRE OS TEMPOS ATUAIS

Se eu lhe pedisse para descrever em uma só palavra a situação atual da igreja, que palavra você escolheria?

Reavivamento? Duvido, mas seria ótimo se fosse verdade! Vemos muita evangelização por toda a parte, e isso nos alegra; mas o vento do Espírito parece muito suave, e o ar um tanto abafado.

Renovação? Talvez em alguns ministérios; na maioria, porém, é “um negócio como qualquer outro”. Para renovar a igreja é preciso haver algo mais do que alguns cartazes ou mudança na ordem do culto.

Reavaliação? Sim, há muitos estudos a respeito, e esperamos que sejam úteis. Temo, entretanto, que estejamos fazendo uma autópsia. Mas creio que a igreja esteja precisando mesmo é de ressurreição.

Ruína? Não, pois Deus está no trono e há pessoas dispostas a ouvir e obedecer! Não importa quão sombria seja a hora, as estrelas ainda brilham; mas temos de levantar os olhos para vê-las. Sou realista, mas não pessimista.

Depois de muito pensar, cheguei à conclusão de que a palavra que melhor descreve a situação atual da igreja evangélica é opróbrio e tenho a impressão de que muitas pessoas concordam comigo. Na realidade, opróbrio parece descrever outros setores da sociedade além da igreja: esportes, ensino superior, governos, congresso nacional, e até mesmo a gestão de pequenas creches. O escândalo parece ser a ordem do dia. Tivemos o “Mensalão”, e estamos vendo o desenrolar da CPI do “cachoeira”, para não falar no escândalo das mega igrejas, a se debicarem na mídia nacional.

Não é de admirar que os meios de comunicação sérios tenham uma pergunta: “O que aconteceu à ética?” O que realmente aconteceu à ética? Talvez nada. Talvez a sociedade ainda seja um tanto ética, e essas situações desagradáveis não sejam realmente escândalos, mas apenas o resultado de uma boa reportagem e uma cobertura ampla do noticiário. Afinal, sempre houve escândalos no governo, nos altos negócios, nos esportes e até mesmo na igreja.

Por que, então, nos agitamos tanto? A igreja tem tido a sua porção de hipócritas e mercenários quase desde o começo, e o joio e o trigo crescerão juntos até a volta do Senhor. Por que tanta excitação? Isso também vai passar.

Sábio seria esperar até que um novo escândalo chegasse às manchetes dos jornais e o público não mais se interessasse pela roupa suja da igreja. Mas o problema não é tão simples, nem é fácil a solução. Por que? Porque a crise que a igreja enfrenta hoje atinge o âmago da sua autoridade e ministério.

Nosso problema não é o público haver descoberto, de repente e para o constrangimento dos cristãos, pecadores na igreja. Não, há muito tempo o público sabe que há pecado na igreja; e, seja como for, ela tem sobrevivido. Os cristãos evangélicos não são um grupo de pequenos colegiais, que coram quando pegos em flagrante infringindo regras. Mais parecemos um exército derrotado, despidos perante nossos inimigos e incapazes de revidar por haverem eles feito uma alarmante descoberta: a igreja está desprovida de integridade.

Defrontamo-nos com uma crise de integridade. Não somente a conduta da igreja está em debate, mas também o seu próprio caráter. O mundo está perguntando – Pode-se confiar na igreja? – e como respondemos é tão importante quanto o que respondemos.

Durante vinte séculos a igreja vem dizendo ao mundo que reconheça seus pecados, arrependa-se e creia no evangelho. Hoje, no raiar do século vinte e um, o mundo diz à igreja que enfrente seus pecados, arrependa-se e comece a ser a verdadeira igreja desse evangelho. Nós, os cristãos, gabamo-nos de não nos envergonharmos do evangelho de Cristo, mas talvez esse evangelho se envergonhe de nós. Por alguma razão, nosso ministério não combina com a nossa mensagem. Algo está errado, quanto à integridade da igreja.

A igreja acostumou-se a ouvir as pessoas contestarem a mensagem do evangelho, porque essa mensagem é loucura para os perdidos. Mas hoje a situação está embaraçosamente invertida, pois o mensageiro passou a ser suspeito. Tanto o ministério quanto a mensagem perderam a credibilidade perante um mundo atento, que parece estar-se divertindo com o espetáculo.

“Por que deveríamos escutar a igreja?” pergunta o mundo crítico. “Com que autoridade vocês, cristãos, pregam para nós sobre pecado e salvação? Ponham ordem na própria casa; depois talvez queiramos escutá-los”.

Minha conclusão é que o escândalo referente à igreja é o sintoma de problemas cruciais no mundo evangélico, problemas tão profundos e sérios que não serão resolvidos por medidas rápidas. Pregar sobre integridade, nomear novos líderes e estabelecer padrões mais rígidos de responsabilidade financeira podem ajudar, mas só irão atingir a superfície. A igreja não precisa de maquiagem, e, sim, de cirurgia.

A igreja é o sal da terra, mas parece que não está suficientemente salgada para impedir a corrupção no governo, nos altos negócios, nos esportes ou até mesmo no ministério religioso. 

A igreja é a luz do mundo, mas parece que sua luz está fraca demais para exercer influência nos corruptos dos dias de hoje.

É estranho que esses escândalos ocorram numa época em que muitos cristãos se vangloriam da força e da popularidade do cristianismo, pois temos igrejas cheias, mega-ministérios pela televisão, grandes convenções, escritores e músicos cristãos “globais”. Alguns dos importantes líderes da igreja são entrevistados pelos meios de comunicação de massa e entre lês há os que exercem influência no cenário político. Mas, apesar destas conquistas, os escândalos aconteceram. Algo deve estar errado.

Alguma coisa deve estar radicalmente errada quando o ministério evangélico é tão popular e ao mesmo tempo tão fraco. Talvez a sua popularidade seja a causa da sua fraqueza; afinal, reputação e caráter são coisas bem diferentes. Parece que nossa mão direita não sabe o que faz a esquerda e, como resultado, nossa mensagem e nosso ministério estão divididos.

É uma questão de integridade, portanto devemos começar exatamente desse ponto a reexaminar nossos princípios e ética.