segunda-feira, 25 de março de 2013


EVANGELHO

Evangelho quer dizer “boas novas, boas notícias”. O portador das boas notícias é Jesus de Nazaré. As boas notícias são que “o Reino de Deus chegou”. E as notícias ficam melhores ainda quando entendemos que Jardim do Éden, paraíso, céu e Reino de Deus são expressões sinônimas.

Céu e paraíso são expressões que descrevem uma condição existencial resultante de uma qualidade de relacionamento entre o ser humano e o Deus Criador. O céu é o ambiente em que a vontade de Deus é feita em perfeição, isto é, ambiente em que o Universo funciona absolutamente dentro dos padrões definidos pela natureza, a essência e o caráter do Deus Criador. É exatamente isso que é o Reino de Deus.

O evangelho de Jesus é a afirmação de que o Reino de Deus está disponível, desde já, para todos aqueles que abandonarem o reino do “eu” e abrirem mão de sua pretensão de ser, para si mesmos, o padrão de bem e de mal. Essa é a experiência que o Novo Testamento chama de arrependimento. Esse foi o chamado de Jesus: “Arrependei-vos e crede”. E porque devemos nos arrepender e crer? Simples, “porque o Reino de Deus está próximo”, isto é, o Reino de Deus está acessível, disponível. Basta crer e viver à luz dessa verdade para que, a seu redor, o caos comece a entrar em ordem, isto é, o Jardim comece a dar seus sinais.

O chamado ao arrependimento significa “mudem completamente seu jeito de viver e de fazer as coisas, creiam que os recursos de Deus estão disponíveis e que o mundo pode ser diferente”.

Essa perspectiva de céu e terra amaldiçoada dá um novo significado ao nosso conceito e nossa atitude em relação ao trabalho. O trabalho deixa de ser um castigo que acompanha a expulsão do paraíso. Na verdade, mesmo no paraíso, o ser humano tinha trabalho. Deus o colocou no paraíso para cuidar do jardim e cultivá-lo. É fato que, expulsos do paraíso e habitando uma terra amaldiçoada que produz espinhos e cardos, as coisas ficam mais difíceis. 

Mas também é fato que, quando abrimos mão da nossa pretensão de controle e dedicamos as coisas para que sobre elas venha o Reino de Deus, e a vontade de Deus seja feita fora do paraíso como é feita dentro do paraíso, o caos começa a entrar em ordem.

Construir é cooperar com Deus para colocar ordem no caos. Construir é plantar jardins no meio do caos. Esse caos pode ser seu mundo interior, seu ambiente familiar, suas relações de trabalho e a sociedade onde você vive. Não importa. O que importa é que você cumpra sua vocação de cooperar com Deus.

A partir dessa experiência, tudo o que você faz é inserido na dimensão do sagrado. Todo serviço passa a ser um ato de cooperação com Deus para a redenção do Universo. Não importa se esse serviço é falar palavras de encorajamento e de consolo para alguém em aflição, consertar um automóvel, fazer um parto, dar uma aula de matemática, fechar um balanço da empresa ou passar a manhã de sábado com os filhos no parque.

Todo trabalho realizado com devoção a Deus é também uma dádiva ao próximo e um sinal do Reino de Deus. O bispo sul-africano Desmond Tutu disse que “é por meio do trabalho que nos tornamos cooperadores de Deus”.

Talvez por isso Jesus nos advertiu que o julgamento final seria nos termos da solidariedade e da promoção da justiça: tive sede, e você me deu de beber; fome, e você me deu de comer; estive preso, e você me visitou; nu, e você me vestiu; desabrigado, e  você me deu terra para plantar, sem horizontes, e você me deu crédito; oprimido, e você foi meu advogado; era analfabeto, e você me alfabetizou; fiquei doente, e você me operou; estava na fila, e você me atendeu com dignidade; com dor de dente; e você me fez sentir alívio; desempregado, e você me deu oportunidade; triste, e você me fez rir; chorando sozinho, e você chorou comigo.

Estamos aqui para mostrar ao mundo que outro mundo é possível – que pretensão maravilhosa. Essa é a pretensão que move os cidadãos do Reino de Deus. Acreditamos que o caos pode entrar em ordem, que o deserto pode florescer e que este mundo, este lado de cá do céu, é digno de ser trabalhado. Somos vocacionados para plantar jardins.

Ó vinde, vós, os povos de todas as nações, erguei-vos e cantai com alegria.
Fazei soar nos ares a nova melodia que Jesus Cristo traz libertação.
É tempo de romper a vil escravidão que em vós exercem os homens ou idéias.
É tempo de dizer que só Deus pode ser o único Senhor da humanidade.
A verdade vos libertará, sereis em Cristo verdadeiramente livres.

Vinde todos, sim, vinde já, e celebrai com alegria a vossa libertação.
E vós os oprimidos, e vós os explorados, e vós os que viveis em agonia, e vós os cegos, coxos, vós cativos, sós, sabei que em breve vem um novo dia. Um dia de justiça, um dia de verdade, um dia em que haverá paz na terra, e que a vida vencerá a morte, e a escravidão, enfim, acabará.

segunda-feira, 18 de março de 2013


REDENÇÃO

A tradição cristã interpreta o ato de comer da árvore do conhecimento do bem e do mal não como o surgimento da consciência, mas como um ato de rebeldia, um grito de independência da criatura para com o Criador.

Ao comer da árvore do conhecimento do bem e do mal, a criatura não pretende adquirir consciência do bem e do mal, mas sim tomar nas mãos a prerrogativa de determinar o bem e o mal e, nesse sentido, “ser igual a Deus”. O que está em questão é o questionamento a respeito de quem será o padrão para o funcionamento do Universo e das relações que nele se processam: Deus ou o homem? A resposta cristã é que a morte é a conseqüência natural do fato de a criatura viver como se Deus não existisse.

Ao afirmar que “o homem se tornou como um de nós”, Deus não estava concordando com a Serpente. A expressão “ser igual a Deus” não trata de atributos e potências, mas sim de status, isto é, não descreve o que o homem pretendia ser – poderoso tal qual a divindade, mas sim o que o homem havia se tornado, um padrão de existência autônomo e rebelde, em oposição à divindade.

A expulsão do paraíso não coloca o ser humano fora de um ambiente geográfico, mas sim de uma condição existencial. Expulso do paraíso, o homem não está longe de uma terra, mas sim alijado de um relacionamento, o relacionamento com Deus, o Criador. Porque pretende ocupar o lugar do Criador é que o ser humano fica impedido de ter acesso ao paraíso. Talvez você esteja se perguntando: “Que Criador melindroso é esse que não é capaz de conviver com adversários?

Mas a questão não é essa. Quando dizemos que o sujeito está com frio porque está longe da fogueira, isso não quer dizer que a fogueira é melindrosa e recusa-se a dar o seu calor.
Os paralelos ficam bem claros e fecham o quebra-cabeças do dilema da raça humana. O Reino de Deus equivale ao paraíso. A terra amaldiçoada equivale ao lado de fora do paraíso. Para que a terra amaldiçoada seja transformada em paraíso, a rebeldia da raça humana deve ser substituída pela rendição à autoridade e soberania amorosa do Criador: “Venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu”.

A vocação de cada ser humano continua sendo cooperar com Deus para colocar ordem no caos. O resultado da reconciliação entre criatura e Criador é a unidade do Universo, em que céu e terra não estão mais em oposição, e o paraíso abraçou e redimiu toda a terra amaldiçoada, isto é, o Reino de Deus chegou em plenitude. Assim, existirá “o céu e tudo o mais”, em vez de “o céu e nada mais”. Por isso é que o homem deve lutar contra sua ambição de fuga para o paraíso. Deve acreditar que este lado do céu é digno de ser trabalhado: plantar jardins na terra maldiçoada. A dicotomia entre céu e terra deve acabar. 

Negar a terra como se houvesse apenas céu e nada mais é trair o propósito de Deus, que delegou a terra aos cuidados da raça humana.
O reino de Deus é o equivalente ao jardim, de onde o homem foi expulso. O jardim é o mundo sob o comando de Deus. Toda vez que um ambiente, uma relação, uma atividade é submetida a Deus, o caos começa a entrar em ordem, isto é, o jardim dá seus sinais. Haverá um dia em que o caos será transformado em jardim. Então, o Reino de Deus, que já foi inaugurado, estará consumado.

Enquanto o Reino de Deus não vem em plenitude, nós trabalhamos para que ele seja sinalizado ao nosso redor. Enquanto o mundo todo não é transformado em um grande jardim, nós construímos alguns jardins no mundo.

Essa vocação de cooperar com Deus para colocar ordem no caos, vocação de todo ser humano, é que sintetizo no propósito de construir. Construir é exercer poder para dominar a terra. Construir é insurgir-se contra a Serpente e contra todos os agentes da morte para promover a vida.
Construir é plantar jardins em meio ao caos!      

segunda-feira, 11 de março de 2013


C O F R E S

Jesus nos aconselha a não acumular tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem destroem e os ladrões roubam e furtam. Melhor é acumular tesouros no céu. A maioria das pessoas faz uma distinção entre riquezas da terra e riquezas do céu. Separam a realidade em duas, em que bens materiais (como casa, carros e jóias) são considerados riquezas da terra, e os bens imateriais (como caráter, liberdade e alegria) são chamados tesouros do céu.

Mas Jesus não fez a distinção entre tesouros da terra e tesouros do céu. Jesus falou de tesouros na terra e tesouros no céu. Ele não fez distinção entre tipos de riquezas, mas sim entre lugares onde essas riquezas estão armazenadas ou guardadas: na terra ou no céu.

A realidade é una. Lembrando sempre que somos pó da terra e fôlego de vida, o pão e a alegria são partes indispensáveis da aventura de viver. A casa e o acolhimento fraterno são faces complementares do abrigo. Abrir mão de possuir para encontrar a alegria é uma experiência pessoal, própria para aqueles cujos corações não estão cativos da realidade material.

As trilhas estóica e franciscana não são, necessariamente, os únicos caminhos para a bem-aventurança. O segredo não é deixar de ter, mas saber ter. A sabedoria não consiste em abrir mão dos tesouros da terra, mas sim em colocar os tesouros da terra no céu.

A maneira como lidamos com o dinheiro determina “quem é o dono de quem”, como diz o poeta. Jesus mostrou dois caminhos possíveis: ser escravo do dinheiro e ser súdito do Reino de Deus. Não dá para ser-fazer as duas coisas. E uma coisa é certa: o dinheiro é um deus que reivindica lealdade absoluta. É chamado de Mamom, um deus, o que surpreende muita gente, pois desfaz a noção de que o dinheiro é neutro.

Está enganado aquele que pensa que o dinheiro não é bom nem mau e que mau é o amor ao dinheiro. Na verdade, o dinheiro tem a capacidade de aprisionar o coração, “pois onde estiver o seu tesouro, aí também estará o seu coração”. Por essa razão Jesus recomendou que o dinheiro fosse colocado no céu, pois somente lá não apenas ele estará seguro, como também nós estaremos seguros em relação a ele.

John Wesley, fundador do Metodismo, disse que tão logo o dinheiro chegava a seu bolso, ele dava um jeito de livrar-se dele, para que o dinheiro não encontrasse o caminho do seu coração. Acho que “livrar-se do dinheiro” é uma possível tradução para “ajuntar tesouros no céu”.

Acredito que existem ótimas maneiras de nos livrarmos do dinheiro. A primeira é por meio da restituição. Não se iluda. Se você tem nas mãos dinheiro que jamais deveria ser chamado de seu, dinheiro que foi ganho de maneira ilícita, então tem no seu bolso uma bomba de tempo, que cedo ou tarde vai explodir, deixando sua vida em cacos. Zaqueu foi um homem que encontrou a felicidade quando imergiu no Reino de Deus e descobriu que deveria devolver tudo quanto havia roubado e usurpado.

A segunda maneira de ajuntar tesouros no céu é por meio da doação. Certa vez um homem rico foi perguntar a Jesus como poderia herdar a vida eterna. Depois de um breve diálogo tratando de obediência aos mandamentos divinos – questões morais e comportamentais -, Jesus foi direto ao ponto:

- “Venda tudo o que você possui e dê o dinheiro aos pobres, e você terá um tesouro nos céus. Depois venha e siga-me”.  

Por trás desse evento, existem duas sabedorias que contrariam o senso comum. A primeira é a noção de que Jesus mandou trocar as riquezas da terra pelas riquezas do céu. Mas já sabemos que Jesus não faz essa distinção. Não se trata de abrir mão de ter aqui para ter depois da morte. Depois que o homem rico foi embora, de volta para seu dinheiro, Jesus explicou a seus discípulos que “ninguém que tenha deixado casa, mulher, irmãos, pia ou filhos por causa do Reino de Deus deixará de receber, na presente era, muitas vezes mais, e, na era futura, a vida eterna.

Isso não significa que o ingresso no Reino de Deus implica abandono do lar e de todo e qualquer tipo de posse. Não é que você dá as costas para o que possui e para as pessoas que ama e fica de frente para Deus. O segredo consiste em colocar Deus entre você, suas posses e as pessoas que você ama. Isso significa que, a partir do ingresso no Reino de Deus, suas relações com tudo e com todos são mediadas por sua disponibilidade a Deus.

Nada estará em suas mãos como posse, mas sim como dádiva, primeiro a Deus e depois a quem precisar. De fato, “é dando que se recebe”, pois uma vez que você dá a quem precisa, por amor ao Reino de Deus, você recebe cem vezes mais, isto é, abre mão do pouco que possui para ter acesso a tudo quanto Deus possui.

 A segunda sabedoria desse conselho de Jesus, “vende tudo e dê o dinheiro aos pobres, para receber cem vezes mais agora e no futuro a vida eterna”, é que se imagina que a vida eterna é uma experiência apenas futura. Acredito que a vida eterna começa agora. O paraíso começa aqui. O céu é, também, um estado de espírito, um senso de plenitude. O paradoxo é que somente o tesouro que não é retido egoisticamente satisfaz o coração humano. Somente quem abre mão de possuir é agraciado com a sensação de possuir tudo.

Qualquer riqueza utilizada de modo egocêntrico será sempre riqueza que se esvai pelos dedos, deixando a sensação de nunca ter existido, imprimindo no coração a sensação de empobrecimento. Riqueza despendida egoisticamente é riqueza consumida que vai deixando a sensação de perda. Riqueza partilhada é riqueza multiplicada.

A terceira maneira de nos livrar do dinheiro e de ajuntar tesouros no céu é negociando. Negociar é colocar dinheiro em circulação. Colocar dinheiro em circulação significa duas coisas: criar oportunidades para a multiplicação de riquezas e correr o risco de perder dinheiro.

Quem opta pela retenção dos tesouros achando ser esse o caminho de maior segurança acaba sendo réu de juízo, acusado de interromper o fluxo das riquezas, num universo em que tudo deve estar em constante movimento, sob pena de tornar-se absoleto e de deteriorar-se até apodrecer e morrer.

segunda-feira, 4 de março de 2013


AUTORIDADE ESPIRITUAL

Estamos vivendo em meio a uma forte crise de autoridade. Os homens tomam posse de seus cargos, mas não conseguem conquistar os corações de seus subordinados. A sociedade, vez por outra, promove discussões sobre qual é a melhor forma de governo para um país. Democracia presidencialista, monarquista ou parlamentarismo.

Se prestarmos bastante atenção às páginas das Escrituras, veremos que o único regime de governo que funcionou, de fato, foi a Teocracia. As decisões, neste sistema de governo, são centralizadas em Deus e não no homem. Numa Teocracia, toda autoridade é delegada por Deus e não pelo povo. Homens permanecem em suas posições enquanto fazem o que o Senhor manda, da forma como o Senhor quer.

Baseada na premissa de que a voz do povo é a voz de Deus, a democracia praticada pelos governos, determina que os líderes assumam e permaneçam no poder enquanto o povo assim o desejar. Este tipo de governo faz de seus líderes representantes do povo, enquanto a Teocracia determina que os líderes são representantes de Deus. Enquanto Jesus não vier estabelecer pessoalmente seu reino, teremos que conviver com a democracia em nosso país, mas na Igreja o domínio de Deus deve ser estabelecido.

Um princípio bíblico que deve ficar bem claro é que toda autoridade foi instituída por Deus (Rm 13.1). Quando nós, como igreja, não aceitamos a autoridade instituída por Deus, estamos nos rebelando contra o próprio Senhor que a instituiu. Portanto, a menos que haja uma verdadeira aberração doutrinária ou de comportamento, devo permanecer submisso aos meus líderes. Isso deverá acontecer enquanto eles mesmos estiverem submissos à Palavra de Deus.

Dentro do corpo de Cristo a comunicação se dá de cima para baixo e não de baixo para cima. Deus mostra direção ao pastor e este à Igreja. Afinal, é o pastor que sabe onde estão os pastos verdejantes e não as ovelhas, pois se estas soubessem, não precisariam de pastores. É assim que a Igreja deve funcionar, quando cada um sabe exatamente qual é o seu lugar no corpo.

Uma comunidade cristã precisa mais do que estrutura e organização, ela carece de gente espiritual, capaz de falar em nome de Deus. Um organograma é fácil de ser feito, difícil é produzir homens e mulheres espirituais.

A Igreja se prepara para enfrentar dias em que a fé será exigida como nunca. Quando assumirmos nossa autoridade como profetas e sacerdotes, que estão aqui para expandir o Reino, então alcançaremos alturas ainda não experimentadas e seremos capazes de fazer exatamente o que Deus quer. Verdades, antes ocultas, começam a ser desenhadas diante de nossos olhos estarrecidos. O Espírito Santo está falando à Igreja.

Se hoje estamos ouvindo sua voz, não endureçamos nossos corações. Vamos simplesmente atender a seu chamado e caminhar rumo a este futuro que nos está proposto. Você também é parte disso. Se cada um de nós descobrir o seu papel nesta história dos últimos dias, então grandes coisas acontecerão em nosso meio.