segunda-feira, 23 de julho de 2012



EXPOSIÇÃO REQUER APLICAÇÃO

Por Aiden Wilson Tozer

Charles G. Finney acreditava que o ensino da Bíblia sem aplicação moral podia ser pior do que não ministrar nenhum ensino e podia resultar em verdadeiro dano aos ouvintes. Podemos achar que esta poderia ser uma posição extremista, mas, após muitos anos de observação, chegamos a ter uma opinião quase idêntica a ela.

Dificilmente haverá alguma coisa mais sem sentido como ensinar doutrina bíblica apenas por amor da doutrina. A verdade divorciada da vida não é verdade no sentido bíblico, mas é coisa diferente e inferior. A teologia é um conjunto de fatos a respeito de Deus, do homem e do mundo. Esses fatos podem ser, e muitas vezes são, expostos como valores em si mesmos; e aí está a armadilha, tanto para o mestre como para o ouvinte.

A Bíblia é, entre outras coisas, o livro da verdade revelada. Isto é, são revelados nele certos fatos que não poderiam ser descobertos pela mente mais brilhante. Estes fatos são de tal natureza que poderiam passar despercebidos. Estavam ocultos atrás de um véu e, enquanto certos homens que falaram quando foram movidos pelo Espírito Santo não tiraram o véu, nenhum mortal pôde conhecê-los. A este levantar do véu de coisas conhecidas partindo de coisas não suscetíveis de serem descobertas, chamamos revelação divina.

Contudo, a Bíblia é mais do que um volume que contém fatos até então ignorados sobre Deus, o homem e o universo. É um livro de exortação baseada naqueles fatos. Em grande proporção, a maior parte do livro é dedicada a um insistente esforço para persuadir as pessoas a mudarem os seus caminhos e a pôr as suas vidas em harmonia com a vontade de Deus como exposta em suas páginas.

Ninguém fica melhor por saber que no princípio Deus criou os céus e a terra. O diabo o sabe, como também o sabiam Acabe e Judas Iscariotes. Ninguém fica melhor por saber que de tal maneira amou Deus ao mundo, que deu o seu Filho unigênito para morrer para a sua redenção. No inferno há milhões que sabiam disso. A verdade teológica é inútil enquanto não é obedecida. O propósito por trás de toda doutrina é assegurar a ação moral.

O que geralmente se passa por alto é que a verdade, como ela é exposta nas Escrituras cristãs, é uma coisa moral; não se dirige somente ao intelecto, mas também à vontade. Ela ocupa a cidadela do coração humano, e não ficará satisfeita enquanto não subjugar tudo que há ali. Cabe à vontade aparecer e entregar a sua espada. Tem de ficar em posição de alerta para receber ordens, e tem de obedecer a essas ordens. Menos do que isso, qualquer conhecimento da verdade é inadequado e inútil.

Expor a Bíblia sem fazer aplicação moral não provoca oposição nenhuma. É só quando o ouvinte é levado a compreender que a verdade está em conflito com o seu coração que a resistência começa. Enquanto as pessoas puderem ouvir a verdade divorciada da vida, freqüentarão e sustentarão as igrejas e as instituições sem objeção. Se a verdade é uma canção amena, e se torna agradável visto que não pede nada, senão alguma soma em dinheiro, e oferece boa música, amizades agradáveis e confortável sensação de bem-estar, por certo não encontrará resistência por parte dos fiéis.

Muita coisa que passa por cristianismo neotestamentário é pouco mais que a verdade objetiva adocicada com canções e tornada saborosa por meio de entretenimentos religiosos. Provavelmente nenhuma porção das Escrituras pode comparar-se com as epístolas paulinas na produção de santos artificiais. Pedro advertiu que os ignorantes e os instáveis torcem, para a própria destruição deles, os escritos de Paulo, e basta que compareçamos a uma conferência sobre a Bíblia, dessas que se fazem comumente, e ouçamos algumas preleções para sabermos o que Pedro quis dizer.

O que é nefasto é que as doutrinas paulinas podem ser ensinadas com completa fidelidade à letra do texto, sem melhorar os ouvintes nem um pouco. O mestre pode, e frequentemente o faz, ensinar a verdade de molde a deixar os ouvintes sem senso de obrigação moral.

Uma razão do divórcio entre a verdade e a vida pode ser a falta de iluminação do Espírito. Outra é decerto a falta de disposição do mestre para meter-se em dificuldades. Qualquer homem dotado de belos dons para o púlpito pode trabalhar em harmonia com a igreja normal, se simplesmente a “alimentar” e a deixar a sós. Dê uma porção de verdades objetivas e nunca insinue que estão errados e precisam corrigir-se, e ficarão contentes.

Por outro lado, o homem que prega a verdade e a aplica às vidas dos seus ouvintes, sentirá os cravos e os espinhos. Levará uma vida dura, mas gloriosa. Queira Deus levantar muitos profetas assim. A igreja tem aguda necessidade deles.    

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