OS
PROFETAS AINDA SÃO INDISPENSÁVEIS
“A
pregação é indispensável ao Cristianismo. Sem a pregação, perde-se parte
necessária de sua autenticidade. Pois o Cristianismo é, em sua essência, uma
religião da Palavra de Deus” - John R. W. Stott.
O
tipo errado de pregadores, compelido por motivos errados, criou o tipo errado
de cristãos mediante a pregação da mensagem errada. Esse é o quadro da igreja
atual. Diante disso, que tipo de pregadores precisamos hoje na igreja?
A igreja de hoje precisa de pregadores como
Jeremias e João Batista. É interessante notar o quanto esses dois homens têm em
comum e quanto podemos aprender com eles. Nascidos para ser sacerdotes, ambos
foram chamados para ser profetas. Se dependesse de mim, preferiria ser
sacerdote a profeta. Afinal, o trabalho do sacerdote judaico era rotina.
Tinha
apenas de estudar os livros de Moisés e seguir os regulamentos e programas
ordenados por Deus. Havia poucas ocorrências inesperadas no altar e poucas
possibilidades de entrar em atrito com o povo. Apenas fazia o que estava
determinado e guiava-se pelos livros. Mas não era assim com o profeta! Ele
nunca sabia qual seria o seu ministério de um dia para o outro. Não somente
tinha de entender a Palavra de Deus, como também tinha de entender o povo e a época
em que vivia.
Precisava
saber como aplicar a Palavra imutável a tempos mutáveis. O sacerdote podia
cumprir sua tarefa sem jamais prestar atenção às notícias do dia, mas não o
profeta. Este tinha de saber o que estava acontecendo! O sacerdote possuía segurança;
o profeta era vulnerável. O sacerdote podia calar-se; o profeta tinha de
entregar a mensagem de Deus, quisesse o povo ouvi-la ou não.
É
preciso coragem para ser profeta. Tanto Jeremias como João Batista, ao
declararem a verdade de Deus, enfrentavam com ousadia homens poderosos e
congregações hostis; e ambos foram mortos por terem sido fiéis a essa verdade.
Do ponto de vista humano, foram um fracasso.
O
ministério dos sacerdotes não era primariamente um ministério da Palavra,
apesar de terem a obrigação de ensinar ao povo as leis de Deus. Os sacerdotes
conduziam um ministério de “preceitos”. Tinham apenas de seguir os regulamentos
escritos nos livros e tomar cuidado para que a cerimônia não se transformasse
em ritual. Infelizmente, isso acontecia com demasiada freqüência!
Os
sacerdotes do Antigo Testamento lidavam principalmente com a parte “exterior”
da religião: os sacrifícios, as purificações, as dietas e os dias especiais.
Mas os profetas tinham de lidar com a parte “interior”. Tinham de tentar mudar
o coração humano pecaminoso, o que não é fácil. Havia muita religião popular
nos dias de Jeremias e João Batista, mas ela não alcançava o coração do povo.
O
profeta tinha de ser radical e atingir a raiz dos problemas. Foi por isso que
João Batista clamou: “Já está posto o
machado à raiz das árvores” (Mt 3.10); e foi por isso que Jeremias
denunciou os falsos profetas que aplicavam bálsamo quando deveriam ter
realizado uma cirurgia (Jr 6.13-14). Se Jeremias e João Batista tivessem sido
sacerdotes e não profetas, é possível que os líderes os tivessem aceitado; mas,
sendo os seus ministérios proféticos, os líderes se lhes opuseram e depois os
eliminaram.
O
principal dever do sacerdote era preservar o passado e proteger a situação do
momento. Mas o dever do profeta era interpretar o presente à luz do passado e
então dar uma orientação que ajudasse garantir o futuro. João Batista e
Jeremias desafiaram a situação do momento. Ousaram anunciar que Deus estava
produzindo abalos e preparava-se para fazer mudanças! As pessoas que desejavam
uma religião confortável não reagem de bom grado a esse tipo de mensagem.
Ao
ler a profecia de Jeremias do princípio ao fim, podemos listar algumas imagens
do seu ministério, que nos ajudarão a melhor compreender o tipo de ministério
de que a igreja precisa mas nem sempre deseja. Eis o que era Jeremias:
Um
destruidor, um construtor e um plantador – “Olha que hoje te constituo sobre as
nações e sobre os reinos, para arrancares e derribares, para destruíres e
arruinares, e também para edificares e para plantares” (Jr 1.10).
Uma
cidade, uma coluna e um muro – “Eis que hoje te ponho por cidade fortificada, por coluna
de ferro, e por muros de bronze” (Jr 1.18).
Um
sacrifício – “Eu era como manso cordeiro, que é levado ao matadouro” (Jr
11.19).
Um
pastor – “Mas, se isto não ouvirdes, a minha alma chorará em segredo,
por causa da vossa soberba; chorarão os meus olhos amargamente, e se desfarão
em lágrimas, porquanto o rebanho do Senhor foi levado cativo” (Jr 13.17).
Um
agitador – “Ai de mim, minha mãe! Pois me deste à luz homem de rixa e
homem de contendas para toda a terra!” (Jr 15.10).
João
Batista podia dizer um forte “Amém!” a cada imagem de Jeremias , mas será que
eu posso? Imagino quantos ministros da Palavra podem honestamente dizer que têm
tido esse tipo de ministério? Se essas imagens descrevem um ministério
profético verdadeiro, não há muitos profetas hoje. Realmente a igreja é uma
organização sem profetas.
A
maioria das pessoas não quer um profeta por perto porque ele faz com que se
sintam desconfortáveis. O profeta chora quando os outros riem, ele usa um jugo
que atrapalha o caminho dos outros e derruba enfeites caros das prateleiras.
Enquanto os que estão satisfeitos com a situação controlam o conformismo
religioso, o profeta arrasa para poder construir, desarraiga para poder
plantar.
Enquanto
os líderes populares se dobram com o vento, o profeta permanece firme como um
muro, de modo a levar a nação para a frente.
Igreja, clame por profetas!