segunda-feira, 12 de novembro de 2012


O “EVANGELHO DO ÊXITO”.

O moderno “evangelho do êxito” ajusta-se bem a uma sociedade como a nossa que cultua a saúde, a riqueza e a felicidade. As pessoas que pregam esse evangelho mergulham vez por outra no Antigo Testamento para conseguir textos de prova, mas voluntariosamente rejeitam “todo o desígnio de Deus” (At 20.27).

O evangelho do êxito é uma mensagem barata destinada às pessoas que procuram uma “solução rápida” para as suas vidas, mas não mudança permanente no seu caráter. A.W. Tozer expressou melhor essa idéia: “Parece que muitos cristãos desejam desfrutar a sensação de sentir-se justos, mas não estão dispostos a agüentar a inconveniência de ser corretos”.

Por que estará Deus tão interessado em que preguemos a mensagem correta? Porque acredita na integridade, e um evangelho falso destrói a integridade. Para começar, a mensagem do evangelho está vitalmente relacionada à própria natureza divina. Jesus não apenas salva; ele é o Salvador. Quando mudamos a mensagem de Deus, mudamos o Deus da mensagem.

O Deus dos pregadores do “êxito” não é o da Bíblia ou da igreja primitiva. É um deus manufaturado, um ídolo. A.W. Tozer lembra-nos: “A essência da idolatria é a consideração de pensamentos a respeito de Deus que são indignos dele”. O evangelho popular do êxito tenta levar-nos a crer que o maior interesse divino é tornar-nos felizes, não fazer-nos santos, e que ele está mais preocupado com a parte física e material do que com a moral e espiritual.
O “deus do êxito” é um menino de recados celestial cuja única responsabilidade é atender a todos os nossos pedidos e assegurar que estamos desfrutando a vida.

À medida que ouço esses pregadores, algumas perguntas vêm-me à mente: Onde, na sua teologia, está o Deus de Abraão, que recebeu a ordem de sacrificar o seu único filho? Onde está o Deus de Isaque, que concordou em ser colocado no altar? Onde está o Deus de Jacó, cujos filhos lhe trouxeram pesar e vergonha? Onde está o Deus de Moisés, o qual ficou fora da Terra Prometida porque despojou a Deus de sua glória?

Onde está o Deus dos apóstolos, que foram presos, chicoteados e finalmente mortos por não se calarem a respeito de Jesus? Onde está o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, que sofreu como ninguém havia sofrido, “ferido de Deus, e oprimido”? (Isaías 53.4).

Não encontro esse Deus na pregação desses homens. Por que? Porque ele não se encaixa na mensagem deles. Eles têm um evangelho sem integridade, uma mensagem truncada, afastada do próprio Deus que dizem representar. Um evangelho parcial não é evangelho em absoluto, pois não pode haver boas-novas quando Deus é deixado de fora.

O evangelho do êxito não somente apresenta uma visão distorcida de Deus, mas também deturpa a doutrina bíblica da Pessoa e obra de Jesus Cristo. Deus tem todo o direito de julgar aqueles que pregam um falso evangelho, porque a mensagem do evangelho custou-lhe o seu Filho! Jesus derramou o seu sangue para cumprir a santa lei divina a fim de que os pecadores perdidos pudessem ser perdoados e reconciliados com Deus.

Jesus não morreu para tornar-nos saudáveis, ricos e felizes. Ele morreu para fazer-nos santos. Transformar o Calvário em cartão de crédito santificado que nos dê o privilégio de uma orgia de compras hedonista é depreciar a coisa de mais alto preço que Deus já fez.  
O objetivo de Deus para cada um de nós, para cada indivíduo, é que sejamos “conformes à imagem de seu Filho” (Rm 8.29). Ele deseja tornar-nos semelhantes a Jesus e dá início a esse processo no instante em que nascemos em sua família. À medida que crescemos na vida cristã, “somos transformados de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito” (2 Co 3.18).

Mas os pregadores do êxito não vêem na semelhança de Cristo o objetivo da vida cristã. Certamente devem ficar perturbados quando têm de enfrentar o fato de que, de acordo com sua própria mensagem, Jesus não foi um êxito. Ele não foi rico, e passou a vida entre os pobres e os desprezados. Foi um “homem de dores e que sabe o que é padecer” (Is 53.3), e não uma celebridade com uma vida extravagante.

Posso estar enganado, mas acredito que, se Jesus estivesse hoje na Terra, ele condenaria a vida exagerada e ostensiva dos pregadores do êxito e seus discípulos. Em sua vida e ministério, em seus ensinamentos e especialmente em sua morte, Jesus Cristo repudia o evangelho do êxito.

Os pregadores do êxito dão-nos uma visão deturpada de Deus, do Salvador, da vida cristã e da igreja. Segundo eles, a igreja de Jesus Cristo é um ajuntamento de pessoas felizes que desfrutam a vida. Segundo a Bíblia, a igreja é um ajuntamento de pessoas sofridas que procuram tornar-se santas na presença de Deus e úteis em um mundo necessitado.

É claro que deve haver louvor e regozijo quando a igreja se reúne para o culto; mas também deve haver compartilhamento de fardos, lenitivo para as ofensas e cura de corações partidos. Mas, de conformidade com o evangelho do êxito, os cristãos não deviam estar sofrendo de modo nenhum!

A igreja é uma família que se reúne para encorajamento, nutrição espiritual e disciplina. É um exército que se agrupa a fim de se preparar para a batalha e a fim de ouvir as ordens de Deus. É um rebanho que procura a proteção de Deus em um mundo perigoso, uma noiva que expressa devoção ao noivo celestial, um grupo de servos que procuram conhecer a vontade do seu Mestre.

Reuni-mo-nos não para fugir da vida, mas para nos equipar e estimular mutuamente a fim de estarmos preparados para enfrentar a vida cotidiana com seus fardos e batalhas. É verdade que temos nossas horas de felicidade, mas não é esse o nosso alvo principal. Nossos objetivos são a santidade, a obediência e a prestação de serviço; a felicidade é apenas um subproduto.

  Quando a igreja prega a mensagem errada, provoca divisão e o ministério perde a integridade. Não podemos separar a mensagem daquilo que Deus é, do que Deus fez no Calvário, do que Deus está fazendo no mundo hoje e fará no futuro.
Quando uma pessoa fabrica o seu próprio evangelho, logo passa a praticá-lo, e então começa a perder a integridade!

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