A VONTADE E AS EMOÇÕES NA VIDA
CRISTÃ
Emoção, diz o Dictionary of
Psicology, de Drever, é um estado de excitação ou perturbação, caracterizado
por um forte sentimento e, geralmente, por um impulso para uma definida forma
de comportamento.
“Excitação, perturbação,
sentimento”. São estados mentais com os quais todos estamos familiarizados. Num
mundo violento e cheio de conflitos como é o nosso, esses estados mentais vêm e
vão, resplandecem e fenecem no peito do homem comum cem vezes por dia. O homem
e a mulher normais experimentam no transcurso de uns poucos meses, todos os
graus de emoção, do êxtase, ou quase, ao desânimo ligeiro, sem que
aparentemente melhore ou piore por isso. Naturalmente aqui só tenho em mente o
homem e a mulher normais. A personalidade psicopática está fora do campo deste
estudo.
As emoções não devem ser
temidas nem desprezadas pois, em primeiro lugar, são uma parte normal de nós
mesmos, como Deus nos fez. Na verdade, sem elas seria impossível a vida humana
plena. A gente tende a afastar-se do homem a quem falta todo sentimento porque
não sabemos se lidamos com alguém frio ou com um mero vegetal, como às vezes se
acha nas enfermarias em nossos hospitais para doentes mentais.
Um sentimento de piedade nunca
surgiria no coração humano se não fosse despertado por um quadro mental da
aflição de outrem, e sem o golpe emocional para ativar a vontade, não haveria
nenhum ato de misericórdia. O que estou dizendo aqui não é nada novo. Toda mãe,
todo estadista, todo líder, todo pregador da Palavra de Deus sabe que é preciso
apresentar um quadro mental ao ouvinte antes que se possa movê-lo a agir, mesmo
quando a ação é em seu próprio benefício.
É da intenção de Deus que a
verdade nos mova à ação moral. A mente recebe idéias, quadros mentais das
coisas como elas são. As idéias ou quadros mentais provocam os sentimentos e,
por sua vez, esses levam a vontade a agir de acordo com a verdade. Assim é que
deveria ser, e seria, se o pecado não tivesse entrado. Por causa do pecado, a
simples seqüência verdade-sentimento-ação pode romper-se em qualquer uma das
suas três partes.
A mente, criada para receber a
verdade, muitas vezes se inclina para a falsidade, e os sentimentos deste modo
estimulados, podem incitar a vontade a uma ação má. A contemplação de um erro
ou de uma coisa proibida só pode inflamar os sentimentos levando-os a simpatizar com o mal.
Um lamentável exemplo disso é o
de Davi a observar demoradamente a bela Bate-Seba a banhar-se. O rei foi movido
pelo que viu e agiu de acordo, e as amargas e trágicas conseqüências o
perseguiram até o fim dos seus dias. Ele viu, sentiu e agiu – para o mal. Note
que, dependendo do olhar, podemos ter resultados diferentes. Davi olhou para
uma mulher formosa; Jesus olhou para uma multidão sofredora. Um olhar levou ao
pecado, o outro a um ato de misericórdia; mas ambos foram decorrentes da
simples lei da sua estrutura interior.
Outro rompimento da seqüência
verdade-sentimento-ato dá-se quando, por motivos egoísticos, o coração se
endurece contra a Palavra de Deus. É este o estado de quantos amam as trevas
mais do que a luz e, por essa razão, afastam-se de vez da luz ou, quando
expostos à luz, recusam-se obstinadamente a lhe obedecer. O homem ganancioso vê
a necessidade humana e duramente se recusa a deixar-se comover pelo que vê.
Render-se ao impulso da
generosidade naturalmente despertada pela visão da pobreza exigiria que ele
renunciasse a uma parte de seus amados bens, e isso ele não quer fazer. Assim a
fonte da generosidade se congela em sua origem. O avarento conserva o seu tesouro,
o pobre continua sofrendo em sua pobreza e todo o curso da natureza se
transtorna. É de admirar que Deus odeie a cobiça?
O cristão que se demora
contemplando os prazeres carnais deste mundo não pode fugir a um certo
sentimento de simpatia por eles, e esse sentimento levará inevitavelmente a um
comportamento mundano. Expor nossos corações à verdade e, persistentemente,
recusar ou negligenciar obedecer aos impulsos por ela despertados é paralisar
os movimentos da vida dentro de nós e, se continuarmos nisso, estaremos
entristecendo e silenciando o Espírito Santo.
As escrituras e a nossa
constituição humana concordam em ensinar-nos a amar a verdade e a obedecer aos
amenos impulsos da justiça por ela despertados dentro de nós. Se amamos as
nossas almas, não nos atreveremos a agir doutro modo.
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