segunda-feira, 22 de julho de 2013

O CRISTIANISMO INSTANTÂNEO

O cristianismo instantâneo entrou em cena com a era da máquina. Os homens inventaram as máquinas com dois propósitos. Queriam obter trabalho importante com maior rapidez e facilidade do que se poderia conseguir manualmente, e queriam executar o trabalho de modo que pudessem dedicar tempo a objetivos mais de acordo com seus gostos, tais como o lazer ocioso e o gozo dos prazeres do mundo.

Ora, o cristianismo instantâneo serve aos mesmos propósitos, na religião. Dispensa o passado, garante o futuro e dá ao cristão a liberdade para seguir as mais refinadas inclinações da carne sem qualquer constrangimento e com um mínimo de restrição.

Com “cristianismo instantâneo” nos referimos ao tipo de cristianismo que se encontra em quase toda parte nos círculos evangélicos. Ele nasceu da noção equivocada de que podemos praticar um ou dois atos de fé e ficar aliviados de toda a ansiedade quanto à nossa condição espiritual. Somos santos por vocação, continuamos a ouvir as pregações da palavra, e daí inferimos que não há motivo para procurarmos ser santos pelo caráter. Essa é uma falsa conclusão, completamente fora do estilo da fé do Novo Testamento.

É verdade que a conversão a Cristo pode produzir alegria, principalmente quando percebemos que fomos perdoados dos pecados e agora somos filhos de Deus. Onde o fardo do pecado tem sido pesado, a percepção do perdão é normalmente clara e alegre. O verdadeiro cristão encontrou-se com Deus. Ele sabe que tem a vida eterna e provavelmente sabe onde e quando a recebeu. Também aqueles que foram cheios do Espírito Santo alegram-se pelo fato de sentir em seu coração a presença de Deus.

Mas o problema é que nós tendemos a pôr a nossa confiança em nossas experiências, e, em conseqüência, interpretamos mal todo o Novo Testamento. Não podemos esquecer de que há decisões a serem tomadas, questões a serem resolvidas imediatamente. Há decisões que podem e devem ser tomadas de uma vez para sempre. Há questões pessoais que deverão ser resolvidas por um determinado ato da vontade em resposta à fé alicerçada na Bíblia.

O cristianismo instantâneo tende a tornar a fé um ato terminal e assim abafa o desejo de progresso espiritual. Não entende a verdadeira natureza da vida cristã, que não é estática, mas dinâmica e tendente a expandir-se. Omite o fato de que o novo cristão é um organismo vivo, tal como um bebê, e precisa de nutrição e de exercício para crescer normalmente. Não leva em consideração que o ato de fé em Cristo ocasiona uma relação pessoal entre dois seres morais inteligentes, Deus e o homem reconciliado, e essa relação deve ser aprofundada pelo exercitar de uma amizade íntima entre eles.

Ao tentarem envolver tudo o que constitui a salvação numa só experiência, ou duas, os advogados do cristianismo instantâneo desprezam a lei de desenvolvimento vigente em toda a natureza. Ignoram os efeitos santificantes do sofrimento, de levar a cruz e da obediência prática. Passam de largo pela necessidade de treinamento espiritual, pela necessidade de formar hábitos religiosos corretos e pela necessidade de lutar contra o mundo, o diabo e a carne.

Uma exagerada preocupação com o ato inicial de crer tem criado em alguns uma sensação de contentamento, ou pelo menos de ausência de expectação. Isso infundiu certo desapontamento com a fé cristã. Deus parece estar demasiado longe, o mundo está perto demais, e a carne é poderosa demais para que se lhe possa resistir.

Outros se alegram ao aceitar a certeza de uma bem-aventurança automática. Esta sensação os exime da necessidade de vigiar, lutar e orar, e os deixa livres para gozarem este mundo enquanto esperam o mundo vindouro. O cristianismo instantâneo é uma ortodoxia do século vinte. Fico a indagar se o Senhor Jesus e seus discípulos reconheceriam tal cristianismo como aquele pelo qual morreram. Temo que não. 

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