O OPRÓBRIO – UMA REFLEXÃO SOBRE
OS TEMPOS ATUAIS
Se
eu lhe pedisse para descrever em uma só palavra a situação atual da igreja, que
palavra você escolheria?
Reavivamento? Duvido, mas seria ótimo se fosse verdade!
Vemos muita evangelização por toda a parte, e isso nos alegra; mas o vento do
Espírito parece muito suave, e o ar um tanto abafado.
Renovação? Talvez em alguns ministérios; na
maioria, porém, é “um negócio como qualquer outro”. Para renovar a igreja é
preciso haver algo mais do que alguns cartazes ou mudança na ordem do culto.
Reavaliação? Sim, há muitos estudos a respeito, e
esperamos que sejam úteis. Temo, entretanto, que estejamos fazendo uma
autópsia. Mas creio que a igreja esteja precisando mesmo é de ressurreição.
Ruína? Não, pois Deus está no trono e há pessoas
dispostas a ouvir e obedecer! Não importa quão sombria seja a hora, as estrelas
ainda brilham; mas temos de levantar os olhos para vê-las. Sou realista, mas
não pessimista.
Depois
de muito pensar, cheguei à conclusão de que a palavra que melhor descreve a
situação atual da igreja evangélica é opróbrio
e tenho a impressão de que muitas pessoas concordam comigo. Na realidade, opróbrio
parece descrever outros setores da sociedade além da igreja: esportes, ensino
superior, governos, congresso nacional, e até mesmo a gestão de pequenas
creches. O escândalo parece ser a ordem do dia. Tivemos o “Mensalão”, e estamos
vendo o desenrolar da CPI do “cachoeira”, para não falar no escândalo das mega
igrejas, a se debicarem na mídia nacional.
Não
é de admirar que os meios de comunicação sérios tenham uma pergunta: “O que
aconteceu à ética?” O que realmente aconteceu à ética? Talvez nada. Talvez a
sociedade ainda seja um tanto ética, e essas situações desagradáveis não sejam
realmente escândalos, mas apenas o resultado de uma boa reportagem e uma
cobertura ampla do noticiário. Afinal, sempre houve escândalos no governo, nos
altos negócios, nos esportes e até mesmo na igreja.
Por
que, então, nos agitamos tanto? A igreja tem tido a sua porção de hipócritas e
mercenários quase desde o começo, e o joio e o trigo crescerão juntos até a
volta do Senhor. Por que tanta excitação? Isso também vai passar.
Sábio seria esperar até que um novo escândalo
chegasse às manchetes dos jornais e o público não mais se interessasse pela
roupa suja da igreja. Mas o problema não é tão simples, nem é fácil a solução.
Por que? Porque a crise que a igreja enfrenta hoje atinge o âmago da sua
autoridade e ministério.
Nosso
problema não é o público haver descoberto, de repente e para o constrangimento
dos cristãos, pecadores na igreja. Não, há muito tempo o público sabe que há
pecado na igreja; e, seja como for, ela tem sobrevivido. Os cristãos
evangélicos não são um grupo de pequenos colegiais, que coram quando pegos em flagrante
infringindo regras. Mais parecemos um exército derrotado, despidos perante
nossos inimigos e incapazes de revidar por haverem eles feito uma alarmante
descoberta: a igreja está desprovida de integridade.
Defrontamo-nos
com uma crise de integridade. Não somente a conduta da igreja está em debate,
mas também o seu próprio caráter. O mundo está perguntando – Pode-se confiar na
igreja? – e como respondemos é tão importante quanto o que respondemos.
Durante
vinte séculos a igreja vem dizendo ao mundo que reconheça seus pecados,
arrependa-se e creia no evangelho. Hoje, no raiar do século vinte e um, o mundo
diz à igreja que enfrente seus pecados, arrependa-se e comece a ser a
verdadeira igreja desse evangelho. Nós, os cristãos, gabamo-nos de não nos
envergonharmos do evangelho de Cristo, mas talvez esse evangelho se envergonhe
de nós. Por alguma razão, nosso ministério não combina com a nossa mensagem.
Algo está errado, quanto à integridade da igreja.
A
igreja acostumou-se a ouvir as pessoas contestarem a mensagem do evangelho,
porque essa mensagem é loucura para os perdidos. Mas hoje a situação está embaraçosamente
invertida, pois o mensageiro passou a ser suspeito. Tanto o ministério quanto a
mensagem perderam a credibilidade perante um mundo atento, que parece estar-se
divertindo com o espetáculo.
“Por
que deveríamos escutar a igreja?” pergunta o mundo crítico. “Com que autoridade
vocês, cristãos, pregam para nós sobre pecado e salvação? Ponham ordem na
própria casa; depois talvez queiramos escutá-los”.
Minha
conclusão é que o escândalo referente à igreja é o sintoma de problemas
cruciais no mundo evangélico, problemas tão profundos e sérios que não serão
resolvidos por medidas rápidas. Pregar sobre integridade, nomear novos líderes
e estabelecer padrões mais rígidos de responsabilidade financeira podem ajudar,
mas só irão atingir a superfície. A igreja não precisa de maquiagem, e, sim, de
cirurgia.
A
igreja é o sal da terra, mas parece que não está suficientemente salgada para
impedir a corrupção no governo, nos altos negócios, nos esportes ou até mesmo
no ministério religioso.
A igreja é a luz do mundo, mas parece que sua luz está
fraca demais para exercer influência nos corruptos dos dias de hoje.
É
estranho que esses escândalos ocorram numa época em que muitos cristãos se
vangloriam da força e da popularidade do cristianismo, pois temos igrejas
cheias, mega-ministérios pela televisão, grandes convenções, escritores e
músicos cristãos “globais”. Alguns dos importantes líderes da igreja são
entrevistados pelos meios de comunicação de massa e entre lês há os que exercem
influência no cenário político. Mas, apesar destas conquistas, os escândalos
aconteceram. Algo deve estar errado.
Alguma
coisa deve estar radicalmente errada quando o ministério evangélico é tão
popular e ao mesmo tempo tão fraco. Talvez a sua popularidade seja a causa da
sua fraqueza; afinal, reputação e caráter são coisas bem diferentes. Parece que
nossa mão direita não sabe o que faz a esquerda e, como resultado, nossa
mensagem e nosso ministério estão divididos.
É
uma questão de integridade, portanto devemos começar exatamente desse ponto a
reexaminar nossos princípios e ética.
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