segunda-feira, 11 de março de 2013


C O F R E S

Jesus nos aconselha a não acumular tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem destroem e os ladrões roubam e furtam. Melhor é acumular tesouros no céu. A maioria das pessoas faz uma distinção entre riquezas da terra e riquezas do céu. Separam a realidade em duas, em que bens materiais (como casa, carros e jóias) são considerados riquezas da terra, e os bens imateriais (como caráter, liberdade e alegria) são chamados tesouros do céu.

Mas Jesus não fez a distinção entre tesouros da terra e tesouros do céu. Jesus falou de tesouros na terra e tesouros no céu. Ele não fez distinção entre tipos de riquezas, mas sim entre lugares onde essas riquezas estão armazenadas ou guardadas: na terra ou no céu.

A realidade é una. Lembrando sempre que somos pó da terra e fôlego de vida, o pão e a alegria são partes indispensáveis da aventura de viver. A casa e o acolhimento fraterno são faces complementares do abrigo. Abrir mão de possuir para encontrar a alegria é uma experiência pessoal, própria para aqueles cujos corações não estão cativos da realidade material.

As trilhas estóica e franciscana não são, necessariamente, os únicos caminhos para a bem-aventurança. O segredo não é deixar de ter, mas saber ter. A sabedoria não consiste em abrir mão dos tesouros da terra, mas sim em colocar os tesouros da terra no céu.

A maneira como lidamos com o dinheiro determina “quem é o dono de quem”, como diz o poeta. Jesus mostrou dois caminhos possíveis: ser escravo do dinheiro e ser súdito do Reino de Deus. Não dá para ser-fazer as duas coisas. E uma coisa é certa: o dinheiro é um deus que reivindica lealdade absoluta. É chamado de Mamom, um deus, o que surpreende muita gente, pois desfaz a noção de que o dinheiro é neutro.

Está enganado aquele que pensa que o dinheiro não é bom nem mau e que mau é o amor ao dinheiro. Na verdade, o dinheiro tem a capacidade de aprisionar o coração, “pois onde estiver o seu tesouro, aí também estará o seu coração”. Por essa razão Jesus recomendou que o dinheiro fosse colocado no céu, pois somente lá não apenas ele estará seguro, como também nós estaremos seguros em relação a ele.

John Wesley, fundador do Metodismo, disse que tão logo o dinheiro chegava a seu bolso, ele dava um jeito de livrar-se dele, para que o dinheiro não encontrasse o caminho do seu coração. Acho que “livrar-se do dinheiro” é uma possível tradução para “ajuntar tesouros no céu”.

Acredito que existem ótimas maneiras de nos livrarmos do dinheiro. A primeira é por meio da restituição. Não se iluda. Se você tem nas mãos dinheiro que jamais deveria ser chamado de seu, dinheiro que foi ganho de maneira ilícita, então tem no seu bolso uma bomba de tempo, que cedo ou tarde vai explodir, deixando sua vida em cacos. Zaqueu foi um homem que encontrou a felicidade quando imergiu no Reino de Deus e descobriu que deveria devolver tudo quanto havia roubado e usurpado.

A segunda maneira de ajuntar tesouros no céu é por meio da doação. Certa vez um homem rico foi perguntar a Jesus como poderia herdar a vida eterna. Depois de um breve diálogo tratando de obediência aos mandamentos divinos – questões morais e comportamentais -, Jesus foi direto ao ponto:

- “Venda tudo o que você possui e dê o dinheiro aos pobres, e você terá um tesouro nos céus. Depois venha e siga-me”.  

Por trás desse evento, existem duas sabedorias que contrariam o senso comum. A primeira é a noção de que Jesus mandou trocar as riquezas da terra pelas riquezas do céu. Mas já sabemos que Jesus não faz essa distinção. Não se trata de abrir mão de ter aqui para ter depois da morte. Depois que o homem rico foi embora, de volta para seu dinheiro, Jesus explicou a seus discípulos que “ninguém que tenha deixado casa, mulher, irmãos, pia ou filhos por causa do Reino de Deus deixará de receber, na presente era, muitas vezes mais, e, na era futura, a vida eterna.

Isso não significa que o ingresso no Reino de Deus implica abandono do lar e de todo e qualquer tipo de posse. Não é que você dá as costas para o que possui e para as pessoas que ama e fica de frente para Deus. O segredo consiste em colocar Deus entre você, suas posses e as pessoas que você ama. Isso significa que, a partir do ingresso no Reino de Deus, suas relações com tudo e com todos são mediadas por sua disponibilidade a Deus.

Nada estará em suas mãos como posse, mas sim como dádiva, primeiro a Deus e depois a quem precisar. De fato, “é dando que se recebe”, pois uma vez que você dá a quem precisa, por amor ao Reino de Deus, você recebe cem vezes mais, isto é, abre mão do pouco que possui para ter acesso a tudo quanto Deus possui.

 A segunda sabedoria desse conselho de Jesus, “vende tudo e dê o dinheiro aos pobres, para receber cem vezes mais agora e no futuro a vida eterna”, é que se imagina que a vida eterna é uma experiência apenas futura. Acredito que a vida eterna começa agora. O paraíso começa aqui. O céu é, também, um estado de espírito, um senso de plenitude. O paradoxo é que somente o tesouro que não é retido egoisticamente satisfaz o coração humano. Somente quem abre mão de possuir é agraciado com a sensação de possuir tudo.

Qualquer riqueza utilizada de modo egocêntrico será sempre riqueza que se esvai pelos dedos, deixando a sensação de nunca ter existido, imprimindo no coração a sensação de empobrecimento. Riqueza despendida egoisticamente é riqueza consumida que vai deixando a sensação de perda. Riqueza partilhada é riqueza multiplicada.

A terceira maneira de nos livrar do dinheiro e de ajuntar tesouros no céu é negociando. Negociar é colocar dinheiro em circulação. Colocar dinheiro em circulação significa duas coisas: criar oportunidades para a multiplicação de riquezas e correr o risco de perder dinheiro.

Quem opta pela retenção dos tesouros achando ser esse o caminho de maior segurança acaba sendo réu de juízo, acusado de interromper o fluxo das riquezas, num universo em que tudo deve estar em constante movimento, sob pena de tornar-se absoleto e de deteriorar-se até apodrecer e morrer.

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