“Paulo, apóstolo de Jesus Cristo, pela
vontade de Deus, aos santos que estão em Éfeso, e fiéis em Cristo Jesus” –
Efésios 1:1
O traço peculiar que caracteriza a Epístola
aos Efésios é que nela o apóstolo parece estar, como ele mesmo diz, nos
“lugares celestiais”, e dessa posição privilegiada ele está contemplando o
grandioso panorama da salvação e da redenção. O resultado é que nesta Epístola
há muito pouca controvérsia; e isso porque o seu grande interesse foi dar aos
Efésios, e a outros fiéis a quem a carta é dirigida, uma visão panorâmica desta
maravilhosa e gloriosa obra de Deus em Jesus Cristo nosso Senhor.
A Bíblia é o livro de Deus, é uma
revelação de Deus, e o nosso pensamento sempre deve começar com Deus. Grande
parte do problema da Igreja hoje deve-se ao fato de que somos muito
interessados em nós mesmos, muito egocêntricos. Esse é o erro peculiar ao presente
século. Tendo-nos esquecido de Deus, e havendo-nos tornado tão interessados em
nós mesmos, tornamo-nos miseráveis e infelizes, e passamos o tempo em
“frivolidades e misérias”. Do princípio ao fim, a mensagem da Bíblia tem o
propósito de levar-nos de volta a Deus, humilhar-nos diante de Deus e
habilitar-nos a ver a nossa verdadeira relação com Ele.
Esse é o grande tema desta Epístola; ela
nos põe face a face com Deus, com o que Deus é e com o que Deus fez e faz; toda
ela salienta a glória e a grandeza de Deus – Deus, o Eterno, Deus sempiterno,
Deus sobre todos – e a indescritível glória de Deus; Deus auto-suficiente em Si
mesmo, de eternidade a eternidade, que não necessita de ajuda de ninguém. Deus
vivo que habita em Sua glória duradoura, absoluta e eterna, é o grande tema
desta Epístola. Não devemos examiná-la pensando em nós mesmos e nas nossas
necessidades; devemos começar com Deus, e esquecer-nos de nós.
Os nossos antepassados deleitavam-se com
essas expressões; estas eram as expressões dos reformadores protestantes, dos
puritanos e dos pactuários. Eles tinham prazer em passar o tempo contemplando
os atributos de Deus. Note que o Apóstolo Paulo enfatiza esse ponto, “Paulo,
apóstolo de Jesus Cristo, pela vontade de Deus” – não por sua própria vontade!
Paulo não se chamou a si mesmo, e a igreja não o chamou; foi Deus quem o
chamou. Ele é o apóstolo pela vontade de Deus. Ele expõe isso muito explicitamente
na Epístola aos Gálatas, onde diz: “...quando
aprouve a Deus, que desde o ventre de minha mãe me separou”. Há sempre
ênfase à soberania de Deus.
Foi Deus que escolheu em Cristo todo aquele
que é cristão; foi Deus que nos predestinou. Faz parte de Seu propósito que
sejamos salvos. Jamais haveria salvação alguma, se Deus não a planejasse e não
a pusesse em execução. Foi Deus que “amou o mundo de tal maneira”: foi Deus que
“enviou seu filho, nascido de mulher, nascido sob a lei”. É tudo de Deus e de
acordo com o Seu propósito. É “segundo o conselho da sua vontade” que todas
estas coisas aconteceram.
Vemos claramente que, nesta Epístola, o
apóstolo nos revela que é Deus quem decide o tempo em que tudo deve acontecer,
e assim nos ensina que Ele é quem determina o tempo para que as coisas todas
aconteçam. Deus é sobre todos, dominando sobre todos, e marcando o tempo de
cada acontecimento, em Sua infinita sabedoria. Numa época como esta, não sei de
nenhuma outra coisa que seja mais consoladora e que dê mais segurança do que
saber que o Senhor continua reinando, que Ele continua sendo o soberano Senhor
do universo, e que, apesar de que “se amotinam as gentes, e os povos imaginam
coisas vãs”, Ele estabeleceu o seu Filho sobre o Seu santo monte de Sião (Salmo
2). Virá o dia em que todos os Seus inimigos lamberão o pó, virão a ser o
estrado dos Seus pés e serão humilhados diante dEle, e Cristo será “tudo em
todos”.
Dessa maneira a soberania de Deus é
ressaltada na introdução desta Epístola e repetida até o fim dela, porque é uma
das doutrinas cardinais, sem a qual realmente não entenderemos a nossa fé
cristã. Ao caminhar através da Epístola, veremos que não somente a salvação é
inteiramente de Deus em geral; também é de Deus em particular. Vejam, por
exemplo, o grande tema que Paulo desenvolve no capítulo 3. A tarefa especial
que lhe foi confiada como apóstolo é: “demonstrar
a todos qual seja a dispensação do mistério, que desde os séculos esteve oculto
em Deus, que tudo criou” (“por Jesus Cristo”). O mistério é que os gentios
sejam co-herdeiros com Jesus. Foi
esse o “mistério” que noutras eras não foi dado a conhecer aos filhos dos
homens, e agora é revelado aos Seus santos apóstolos e profetas pelo Espírito.
Haverá algo mais maravilhoso, mais
encantador, mais glorioso para o cristão do que contemplar os mistérios de
Deus? Espero que ao aproximarmos destes grandes temas, você esteja cheio de um
sentimento de divina expectação, e aspire aprofundar-se mais e mais. Um dos
aspectos mais maravilhosos da vida cristã é que nela você está sempre avançando.
Você pensa que já conhece Deus em sua totalidade, e então dobra uma esquina e
de repente vê algo que não conhecia, e vai adiante, sempre adiante...
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