De A.W.Tozer – Tozer era pastor
de uma igreja da Aliança Cristã e Missionária no Canadá, até seu falecimento
nos anos 60. Ele é conhecido como um dos mais famosos pregadores deste século e
como “um profeta” da nossa geração.
Há muitos anos um filósofo
alemão disse alguma coisa no sentido de que, quanto mais um homem tem no
coração, menos precisará de fora; a excessiva necessidade de apoio externo é
prova de falência do homem interior.
Se isso é verdade (e eu creio
que é), então o desordenado apego atual a toda forma de entretenimento é prova
de que a vida interior do homem moderno está em sério declínio. O homem comum
não tem nenhum núcleo central de segurança moral, nenhum manancial em seu
peito, nenhuma força interior para colocá-lo acima da necessidade de repetidas
injeções psicológicas para dar-lhe coragem para continuar vivendo. Tornou-se um
parasita no mundo, extraindo vida do seu ambiente, incapaz de viver um só dia
sem o estímulo que a sociedade lhe fornece.
Schleiermacher afirmava que o
sentimento de dependência está na raiz de todo culto religioso, e que por mais
alto que a vida espiritual possa subir, sempre tem que começar com um profundo
senso de uma grande necessidade que somente Deus poderia satisfazer. Se este
senso de necessidade e um sentimento de dependência estão na raiz da religião
natural, não é difícil ver por que o grande deus Entretenimento é tão
ardentemente cultuado por tanta gente. Pois há milhões que não podem viver sem
diversão. A vida para eles é simplesmente intolerável. Buscam, ansiosos, o
bendito alívio dado por entretenimentos profissionais e outras formas de
narcóticos psicológicos como um viciado em drogas busca sua injeção diária de
heroína. Sem essas coisas eles não poderiam reunir coragem para encarar a
existência.
Ninguém que seja dotado de
sentimentos humanos normais fará objeção aos prazeres simples da vida, nem às
formas inofensivas de entretenimento que podem ajudar a relaxar os nervos e
revigorar a mente exausta de fadiga. Essas coisas, se usadas com discrição,
podem ser uma benção ao longo do caminho. Isso é uma coisa. A exagerada
dedicação ao entretenimento como atividade da maior importância para a qual e
pela qual os homens vivem, é definitivamente outra coisa, muito diferente.
O abuso numa coisa inofensiva é
a essência do pecado. O incremento do aspecto das diversões da vida humana em
tão fantásticas proporções é um mau presságio, uma ameaça às almas dos homens
modernos. Estruturou-se, chegando a constituir um empreendimento comercial
multimilionário com maior poder sobre as mentes humanas e sobre o caráter
humano do que qualquer outra influência educacional na terra. E o que é ominoso
é que o seu poder é quase exclusivamente mau, deteriorando a vida interior,
expelindo os pensamentos de alcance eterno que encheriam a alma dos homens, se tão-somente
fossem dignos de abrigá-los. E a coisa toda desenvolveu-se dando numa
verdadeira religião que retém os seus devotos com estranho fascínio, e,
incidentalmente, uma religião contra a qual agora é perigoso falar.
Por séculos a igreja se manteve
solidamente contra toda forma de entretenimento mundano, reconhecendo-o pelo
que era – um meio de desperdiçar o tempo, um refúgio contra a perturbadora voz
da consciência, um esquema para desviar a atenção da responsabilidade moral. Por
isso a igreja sofreu rotundos abusos dos filhos deste mundo. Mas ultimamente
ela cansou dos abusos e parou de lutar. Parece ter decidido que, se ela não
consegue vencer o grande deus entretenimento, pode muito bem juntar suas forças
às dele e fazer o uso que puder dos poderes dele. Assim, hoje temos o espantoso
espetáculo de milhões de reais derramados sobre o trabalho profano de
providenciar entretenimento terreno para os filhos do Céu, assim chamados. Em muitos lugares o entretenimento
religioso está eliminando rapidamente as coisas sérias de Deus. Muitas igrejas
nestes dias têm-se transformado em pouco mais que pobres teatros onde
“produtores” de quinta classe mascateiam as suas mercadorias falsificadas com
total aprovação de líderes evangélicos conservadores que podem até citar um
texto sagrado em defesa da sua delinqüência. E raramente alguém ousa levantar a
voz contra isso.
O grande deus entretenimento
diverte os seus devotos principalmente lhes contando estórias. O gosto por
estórias, característico da meninice, depressa tomou conta das mentes dos santos
retardados dos nossos dias, tanto que não poucas pessoas pelejam para construir
um confortável modo de vida contando lorotas, servindo-as com vários disfarces
ao povo da igreja. O que é natural e bonito numa criança pode ser chocante
quando persiste no adulto, e mais chocante quando aparece no santuário e
procura passar por religião verdadeira.
Não é uma coisa esquisita e um
espanto que, com a sombra da destruição atômica pendendo sobre o mundo e com a
vinda de Cristo estando próxima, os seguidores professos do Senhor se entreguem
a divertimentos religiosos? Que numa hora em que há tão desesperada necessidade
de santos amadurecidos, numerosos crentes voltem para a criancice espiritual e
clamem por brinquedos religiosos?
"Lembra-te,
Senhor, do que nos tem sucedido; considera, e olha para o nosso opróbrio...
Caiu a coroa da nossa cabeça; ai de nós porque pecamos! Por isso caiu doente o
nosso coração; por isso se escureceram os nossos olhos.” Amém. Amém.
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