quinta-feira, 17 de novembro de 2011

SANTOS E IRREPREENSÍVEIS DIANTE DELE EM AMOR


“Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor”
Efésios 1:4

Em sua epístola aos efésios, o apóstolo Paulo tem o cuidado de dizer-nos que “em Cristo” Deus nos separou; nos escolheu, da humanidade,  para sermos herdeiros de grandes bênçãos; e tudo isso no Senhor Jesus Cristo e por intermédio d’Ele. A melhor prova a respeito da passagem que estamos examinando se acha no capítulo 17 do Evangelho Segundo João, onde temos o que comumente se conhece como a oração sacerdotal do nosso Senhor. Ali vemos Jesus fazer declarações concernentes a Si mesmo, declarações como estas: “... lhe deste poder sobre toda a carne, para que dê a vida eterna a todos quantos lhe deste” (versículo 2).

O ensino aí é que o Pai deu essas pessoas ao Filho. Vejamos também o versículo 6: “Manifestei o teu nome aos homens que do mundo me deste: eram teus, e tu mos deste, e guardaram a tua palavra”. Essas pessoas – pessoas cristãs, que incluem todos nós que cremos em Cristo -  pertenciam a Deus antes de pertencerem ao Filho. Primariamente, a nossa posição não depende de nada do que fazemos; nem primariamente da ação do Filho. A ação primária é a de Deus o Pai, que escolheu para Si um povo, de toda a humanidade, antes da fundação do mundo, e depois o presenteou, deu esse povo que Ele escolhera ao Filho, para que o Filho o redimisse e fizesse tudo quanto era necessário para reconciliá-lo com Ele. Esse é o ensino dado pessoalmente por Jesus Cristo.

Ele veio a este mundo e realizou a obra que Lhe competia realizar em favor de todas as pessoas que Lhe foram dadas pelo Pai. Assim, Ele prossegue e diz: “Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus” (versículo 9). Mas é de vital importância que nos lembremos de que tudo isso é feito “n’Ele”. O apóstolo repete continuamente a verdade segundo a qual não há absolutamente nada que seja dado aos cristãos independentemente do Senhor Jesus Cristo; não há nenhuma relação com Deus que seja verdadeira e salvadora, exceto a que é no Filho de Deus e por meio d’Ele. “Há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem” (I Timóteo 2:5).

Tendo estabelecido estas verdades, podemos passar agora ao restante desta grande declaração: “Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor”. Aqui vemos que cada frase, quase cada palavra, requer a mais cuidadosa e séria consideração. Cada uma das declarações está carregada de verdade, de verdade vital, de verdade da máxima importância. Portanto, passar às pressas por estas grandes e momentosas declarações é tolice; é real e verdadeiramente pecaminoso.      

É nos dito que fomos escolhidos “para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor”. Aqui, de novo, o apóstolo nos propicia uma das mais extraordinárias sinopses do evangelho todo. Ele quer dizer que é o propósito de Deus em Cristo para o Seu povo desfazer, remover e retificar completamente os efeitos do pecado e da queda do homem. O objetivo de Deus na salvação é retificar completamente os resultados e as conseqüências daquele evento terrível e sumamente desastroso. Isso está claro nas Escrituras.

O apóstolo Paulo diz em Efésios 5:27, que o propósito supremo de Cristo para a igreja é, não somente que ela seja santa, mas também esteja “sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante”. A igreja deve ser irrepreensível (ou sem culpa), como também pura; ela deve ser perfeita por fora e por dentro. Deus é absoluta luz e glória e perfeição; Ele é absolutamente puro, sem sequer qualquer suspeita da presença de uma liga redutora ou de qualquer mistura; o que é dito em Tiago 1:17 é que Ele é o “Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação”. E o assombroso que nos é dito é que Deus nos escolheu em Cristo para nos tornarmos como Ele. Esse é o propósito de Deus para nós; esse é o nosso destino, sermos semelhantes a Deus, “santos e irrepreensíveis”.

Pois bem, devemos passar à segunda expressão, “santos e irrepreensíveis diante dele” . Noutras palavras, diante dele, no sentido em que Paulo usa a expressão, significa que o objetivo e propósito da nossa vocação e eleição é que andemos com Deus; não somente que entremos numa consciente comunhão com Deus, mas que andemos e permaneçamos nessa comunhão, ou, como João o expressa, que andemos na luz com Deus.

“Eu sou o Deus Todo-poderoso, anda em minha presença e sê perfeito”. Foi um convite que Deus fez a Abraão. Naturalmente, para fazer isso o homem tem que ser perfeito porque Deus é perfeito. “Andarão dois juntos, se não estiverem de acordo?” (Amós 3.3). Andar diante de Deus e ser perfeito estão inevitavelmente juntos por causa da natureza de Deus.

SANTOS E IRREPREENSÍVEIS EM AMOR

Para que fossemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor”

Não há dúvida de que a essência da santidade é o amor. Na Epístola aos Romanos Paulo afirma que “o cumprimento da lei é o amor” (13.10). Só concebemos fielmente a santidade quando o fazemos em termos do amor. O amor é o oposto da inimizade, o oposto do ódio, o oposto da contenda.

O apóstolo está dizendo que, como resultado do fato de Deus ter nos escolhido, o que acontece é que o pecado é removido, o obstáculo entre nós e Deus é removido, e assim podemos comparecer perante Ele. E não somente isso, mas comparecemos à presença de Deus “em amor”. Só pensar em comparecer à presença de Deus como nosso juiz é algo terrível! A grandiosa realização feita a nosso favor, em nossa salvação, é que comparecemos perante Deus “em amor”.

Esse é o maior resultado da anulação dos efeitos da Queda. Como vimos, a condição do homem é por natureza exatamente o oposto desta santidade e amor. É inimizade contra Deus; sua mente não se sujeita à lei de Deus, e na verdade não pode sujeitar-se. O homem decaído tem um grande impedimento quando se trata de aceitar o Deus das escrituras. Tem facilidade em aceitar o deus da filosofia, um deus que eles idealizaram em suas mentes. Tiram de Deus, como Ele é revelado nas Escrituras, tudo o que não lhes agrada. Não acreditam na ira, não acreditam no juízo, não acreditam na justiça ou no ensino sobre o derramamento do sangue de Cristo, e na morte na cruz.

A mente “carnal” é inimizade contra Deus (Rm 8.7). Quando o homem caiu, começou a odiar a Deus e, como resultado da Queda, o homem se opõe a Deus e está em inimizade contra Ele. Contudo, como resultado da salvação em Cristo, o homem comparece perante Deus “em amor”. Gostamos da vida cristã? Queremos ser mais parecidos com Cristo, cada dia? Se respondermos sim, é porque o amamos.

Realmente, a lei de Deus nos chama para amarmos. O nosso Senhor ensinou isto em certa ocasião, quando foi interrogado por alguns homens que tentavam apanhá-Lo mediante perguntas. Perguntaram-Lhe: “Qual é o primeiro de todos os mandamentos? Sua resposta foi que o primeiro de todos os mandamentos é: “Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças: este é o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes”. (Mc 12.28-31). Todo o objetivo da lei de Deus é primeiro o amor, sua relação com Deus, e depois sua relação com o seu semelhante. É tudo uma questão de amor.

Portanto, devemos ser “santos e irrepreensíveis diante dele em amor”, amando a Deus, amando nossos semelhantes, amando a lei de Deus, tendo prazer nela, e não meramente nos conformando mecanicamente com um padrão moral. O ensino do apóstolo Paulo é que o fim e objetivo supremo da nossa escolha por parte de Deus, da nossa eleição, é que nos tornemos pessoas com aquele caráter. Naturalmente, não alcançaremos essa perfeição nesta existência, neste mundo; essa é a nossa meta suprema.

A vontade de Deus quanto a nós é a perfeição absoluta, e nós, cristãos, finalmente estaremos diante d’Ele “sem defeitos e inculpáveis”, “sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante”. Então, não haverá quem possa lançar acusação contra nós. Seremos semelhantes ao nosso Senhor. Mas não nos esqueçamos de que, embora só atinjamos perfeitamente o alvo no mundo vindouro, o processo já começou neste mundo. O princípio está em nós, aqui e agora; a semente já foi implantada em nós.

O autor da Epístola aos Hebreus expressa esta verdade no capítulo 3 onde escreve: “Pelo que, irmãos santos, participantes da vocação celestial...” (Versículo 1). O cristão é participante da vocação celestial. Fomos santificados, o que significa que somos santos, e mesmo aqui e agora este princípio de santidade está em nós. Já somos “participantes da natureza divina”, e a natureza divina é santa. Esta santidade essencial está em nós, e crescerá e se desenvolverá até que finalmente estejamos em condições de perfeição absoluta, na presença de Deus. Este, diz-nos o apóstolo,é o objetivo supremo da escolha que Deus fez de nós.

Lembrem-se também de que nós estamos “em Cristo”. O que nos faz cristãos é que estamos em Cristo; não somente porque fomos perdoados, embora isso seja essencial. E se estamos “em Cristo”, só temos que ser santos porque Ele é “santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores” (Hebreus 7.26). À luz disso tudo, há certas deduções essenciais que são da máxima importância. Primária e essencialmente, salvação significa estar na relação correta com Deus – nada menos que isso. Não se deve pensar na salvação em termos da felicidade nem em termos das leis, nem da moralidade. Não se deve pensar nela, unicamente em termos do perdão.

Salvação significa estar em uma correta relação com Deus. É preciso que seja assim porque a essência do pecado é a separação de Deus.

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