“ASSENTAR”
“Peço
que Deus abra a mente de vocês para que vejam a luz dele e conheçam a esperança
para a qual ele os chamou. E também para que saibam como são maravilhosas as
bênçãos que ele prometeu ao seu povo e como é grande o seu poder que age em nós,
os que cremos nele... ” (Ef 1.18-19).
“Esse
poder que age em nós é a mesma força poderosa que ele usou quando ressuscitou
Cristo e fez com que ele se assentasse ao seu lado direito no mundo celestial.
Cristo reina sobre todos os governos celestiais, autoridades, forças e poderes.
Ele tem um título que está acima de todos os títulos das autoridades que
existem neste mundo e no mundo que há de vir. Deus colocou todas as coisas
debaixo da autoridade de Cristo e deu Cristo à igreja como único senhor de tudo”.
(v. 20-22).
“Por
estarmos unidos com Cristo Jesus, Deus nos ressuscitou com ele para reinarmos
com ele no mundo celestial” ( Ef 2.6).
Estas passagens revelam o
segredo de uma vida celestial. Aqui vemos que a vida cristã começa com o
assentar. A era cristã iniciou-se com Cristo. Sobre Cristo ficamos sabendo que
depois de ter “feito por si mesmo a purificação dos nossos pecados, assentou-se
à destra da Majestade nas alturas” (Hb 1.3). Com a mesma dose de verdade
podemos dizer que o crente inicia sua vida cristã “em Cristo”, isto é, quando
pela fé ele se vê assentado ao lado de Cristo nas alturas.
A vida cristã é engraçada! Se
logo de início tentarmos fazer alguma coisa, nada obteremos; se procurarmos
atingir algo, perdemos tudo. É que o cristianismo não começa com um grande
FAÇA, mas com um grandioso JÁ FOI FEITO. Assim é que a carta aos Efésios se
inicia com a declaração de que Deus “nos abençoou com todas as bênçãos
espirituais nas regiões celestiais em Cristo” (1.3) e somos convidados, logo de
início, a assentar-nos e usufruir de tudo quanto Deus já fez por nós. Não
devemos lançar-nos a tentar conseguir as coisas por nós mesmos.
Andar implica esforço, mas Deus
nos diz que somos salvos não pelas obras, mas “pela graça... por meio da fé”
(Ef 2.8). Estamos constantemente falando de “salvação pela fé”, mas que
queremos dizer com isso? Queremos dizer o seguinte: Que fomos salvos quando
repousamos em Cristo Jesus. Nada fizemos, absolutamente, para salvar-nos a nós
mesmos; apenas depositamos no Senhor o fardo de nossas almas sobrecarregadas de
pecado.
Iniciamos nossa vida cristã,
não dependendo de nós mesmos, de algo que fizemos, mas na dependência do que
Cristo já fez. Enquanto a pessoa não proceder assim, não é um cristão. Se
alguém disser: “Nada posso fazer a fim de salvar-me; mas pela sua graça Deus já
fez tudo para mim, em Cristo”, terá dado o primeiro passo na vida de fé.
A vida cristã, do início até o
fim, baseia-se no princípio da nossa total dependência do Senhor Jesus. Não há
limite para a graça que Deus deseja derramar sobre nós. Ele quer dar-nos tudo,
mas nada poderemos receber, a não ser que descansemos nele. Assentar é uma
atitude de descanso. Algo foi terminado; o trabalho é paralisado, e nós nos
assentamos. É paradoxal, mas verdadeiro: nós só avançamos na vida cristã se
aprendermos em primeiro lugar a assentar-nos.
Que significa de fato
assentar-nos? Quando caminhamos ou ficamos de pé, suportamos em nossas pernas
todo o peso de nosso corpo, mas quando nos assentamos, todo nosso peso descansa
sobre a cadeira, ou o sofá em que nos sentamos. Nós ficamos cansados depois de
caminhar, ou ficar muito tempo em pé, mas sentimo-nos repousados se nos
sentamos durante algum tempo.
Caminhando ou ficando de pé,
despendemos muita energia, mas quando nos sentamos, nós relaxamos
completamente, visto que o peso não recai sobre nossos músculos e nervos, mas
sobre algo fora de nós mesmos. Assim ocorre também no reino espiritual.
Assentarmo-nos equivale a depositar nosso peso total – nossa pessoa, nosso
futuro, nossas aflições, tudo – sobre o Senhor. Deixamos que Ele assuma a
responsabilidade e descansamos; deixamos de carregar aquele fardo.
O cristianismo na verdade
significa que Deus fez tudo em Cristo, e que nós apenas penetramos nessa
realidade para usufruí-la mediante a fé. A palavra chave aqui, observando o
contexto, é para que nos vejamos “assentados” em Cristo.
Paulo ora para que os olhos de
nosso entendimento sejam iluminados (1.18), a fim de compreendermos tudo a
respeito desse fato duplo: Que Deus, pelo seu infinito poder, primeiramente fez
com que Cristo “assentasse à sua direita nos céus” (1.20) e, depois, pela sua
graça, “nos fez assentar nas regiões celestiais, em Cristo Jesus” (2.6). A
primeira lição que devemos aprender, portanto, é esta: Que o trabalho não é
inicialmente nosso, mas do Senhor.
Não se trata de nós
trabalharmos para Deus, mas de Deus trabalhar para nós. Deus nos dá essa
posição de repouso. Ele nos traz a obra de seu Filho terminada e no-la
apresenta, dizendo: “Por favor, sente-se”. Penso que a oferta de Deus a nós
pode ser expressa de melhor forma nas palavras do convite para o grandioso
banquete: “Vinde, pois tudo já está pronto” (Lc 14.17). Nossa vida cristã
inicia-se com a descoberta das coisas que Deus já havia providenciado para nós.
Todas as novas experiências
espirituais se iniciam com a aceitação, pela fé, da obra realizada por Deus.
Este é um princípio da vida, algo que o próprio Deus determinou; e do princípio
ao fim, cada estágio sucessivo da vida cristã obedece ao mesmo princípio
estipulado por Deus.
Como posso eu receber o poder
do Espírito para o serviço? Devo pôr-me a trabalhar e esforçar-me a fim de
recebê-lo? Devo implorar a Deus que me conceda? Devo afligir minha alma com
jejuns e auto-negações a fim de merecê-lo? Jamais! Não é esse o ensino das
Escrituras. Pense um pouco: Como foi que recebemos o perdão dos nossos pecados?
Diz-nos Paulo que foi “segundo as riquezas da sua graça” que Ele “nos deu
gratuitamente no Amado” (EF 1.6-7). Nada fizemos para merecê-lo. Fomos
redimidos pelo sangue de Cristo, ou seja, temos redenção pelo que o Senhor fez.
Qual é, então, o critério de
Deus para o derramamento de seu Espírito? É a exaltação do Senhor Jesus (Atos
2.33). Porque Cristo morreu na cruz, meus pecados foram perdoados; porque Ele
foi exaltado e colocado no trono, recebo poder do alto. Nem uma dessas dádivas
dependem do que eu sou, nem do que eu faço. Jamais mereci o perdão, e jamais
mereci o dom do Espírito. Recebo tudo, não mediante o andar, mas mediante o
assentar, não pelo que eu faço, mas porque eu descanso no Senhor.
Daí se conclui que assim como
não há necessidade de esperar pela experiência inicial da salvação, tampouco há
necessidade de esperar o derramamento do Espírito. Posso lhe assegurar que você
não precisa implorar a Deus essa dádiva, você não precisa agonizar, nem engajar-se
em “reuniões demoradas de espera”. Essa dádiva lhe pertence não por causa de
algo que você tenha feito, mas por causa da exaltação de Cristo, pois “tendo
nele crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa” (Ef 1.13). Este
selo, tanto quanto o perdão de pecados, já vem embutido no “evangelho da vossa
salvação”.
Nossa história foi escrita em
Cristo antes que houvéssemos nascido. Você crê nesta realidade? É a verdade!
Nossa crucificação com Cristo é um glorioso fato histórico. “Estamos mortos
para o pecado”, “Fomos batizados na sua morte”. “Fomos sepultados com Ele”.
Deus “nos ressuscitou juntamente com Cristo” (Rm 6.2-4; Ef 2.5). Todos esses
acontecimentos estão descritos no passado. Por que? Porque o Senhor Jesus foi
crucificado Há mais de 2.000 anos, e eu fui crucificado com Ele. Eis um
grandioso fato histórico.
A experiência de Cristo
tornou-se minha história espiritual, e Deus pode referir-se a mim como já tendo
eu todas as coisas “Nele”. Tudo quanto tenho agora, eu o tenho “em Cristo” Nas
escrituras nós nunca encontramos estes fatos descritos no futuro, e tampouco
como sendo desejados no presente. São fatos históricos de Cristo, e nós, os que
cremos, penetramos neles pela fé.
Quando este fato penetra em
nossa consciência e nós repousamos nele (Rm 6.11), temos descoberto o segredo da
vida santificada.
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