A IRA
DE DEUS
Raramente
há algo de bom na ira humana. Quase sempre ela brota de sentimentos que nada
têm de santos, e muitas vezes leva a maldições e violência. O homem de mau
gênio é imprevisível e perigoso, e normalmente os homens de paz e de boa
vontade o evitam.
Entre
os mestres religiosos dos dias atuais há uma forte tendência para dissociar a
ira do caráter divino e para defender Deus em suas explicações das passagens
bíblicas que relacionam a ira com a Sua pessoa. Isto é compreensível, mas à luz
da completa revelação de Deus, essa atitude é indesculpável.
Em
primeiro lugar, Deus não precisa de defesa. Os mestres que estão tentando fazer
Deus à sua imagem poderiam ocupar-se melhor procurando fazer-se a si mesmos à
imagem de Deus. Nas escrituras “Deus falou todas estas palavras”, e não existe
um critério independente pelo qual julgar a revelação que Deus faz concernente
a Si próprio.
A
recusa de muitos, a aceitar a doutrina da ira de Deus, faz parte de um esquema
maior de incredulidade que começa com a dúvida a respeito da veracidade das
Escrituras Cristãs. Deixe que um homem questione a inspiração das Escrituras, e
uma curiosa inversão, monstruosa mesmo, tem lugar: daí por diante ele julga a
Palavra, em vez de deixar que a Palavra o julgue; ele determina o que a Palavra
deve ensinar, em vez de permitir que ela determine o que ele deve crer; ela a
revisa, emenda, corta, faz acréscimos a seu bel-prazer; mas sempre se põe acima
da Palavra e a faz submissa a si, em vez de ajoelhar-se diante de Deus e
fazer-se submisso à Palavra.
O
intérprete demasiado sensível, que procura proteger Deus das implicações da Sua
Palavra, está empenhado num esforço inútil e inconveniente, que só poderá ser
completamente desperdiçado.
O
cristão maduro e instruído na verdade sabe que a ira de Deus é uma realidade,
que a Sua ira é tão santa como o Seu amor, e que entre o Seu amor e a Sua ira
não há incompatibilidade. Ele sabe o que a ira de Deus é e o que não é. Para
compreendermos a ira de Deus, precisamos examiná-la à luz da Sua santidade.
Deus é santo e faz da santidade a condição moral necessária para a saúde do Seu
universo.
A
presença temporária do pecado no mundo só acentua isso. Tudo que é santo é
saudável; o mal é uma doença moral que finalmente terá de acabar em morte.
Desde que o primeiro interesse de Deus por Seu universo é sua saúde moral, isto
é, a sua santidade, tudo quanto a contrarie estará necessariamente sob Seu
eterno desagrado. Sempre que a santidade de Deus confronta o que não é santo,
há conflito.
A
atitude e a ação de Deus neste conflito são a Sua ira. Para preservar a Sua
criação, Deus tem de destruir tudo o que ameaça destruí-la. Quando Ele se
levanta para impor destruição e para salvar o mundo de um irreparável colapso
moral, diz-se que Ele está irado. Todo julgamento de Deus na história do mundo,
em Sua ira, é um santo ato de preservação.
A
santidade de Deus, a ira de Deus e a saúde da criação são inseparavelmente
unidas. Não só é direito de Deus mostrar ira contra o pecado, mas eu acho
impossível entender como Ele poderia agir de outro modo. A ira de Deus é Sua
total intolerância a tudo aquilo que é degradante e destrutivo. Ele odeia a
iniqüidade como a mãe odeia a doença que ameaça seu filho.
Quando
Deus adverte os homens da Sua ira iminente e os exorta a arrepender-se e
evitá-la, Ele se expressa numa linguagem que a humanidade pode compreender,
dizendo-lhes: “Fugi da ira vindoura”. Noutras palavras, diz Ele:
“A tua vida é má e, porque é má, és um inimigo da saúde moral da minha criação. Tenho de extirpar tudo que poderia destruir o mundo que eu amo. Arrepende-te do mal antes que Eu me levante irado contra ti. Eu te amo, mas odeio o pecado que tu amas. Aparta-te do mal, antes que eu envie o juízo contra ti”.
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