A SOBERANIA DE DEUS
A soberania de Deus é um
atributo pelo qual Ele domina sobre toda a criação. Para ser soberano, Deus tem
de ser onisciente, onipotente e absolutamente livre. As razões para isso são as
seguintes:
Se houvesse uma parcela de
conhecimento, por menor que fosse, desconhecida de Deus, Seu domínio iria
falhar nesse ponto. Para ser Senhor de toda a criação, Ele tem de possuir todo
o conhecimento. Se um pequeno, infinitesimal grau de poder faltasse a Deus, essa
falta acabaria com o Seu reino; esse único átomo de poder extraviado
pertenceria a outro, e Deus seria um governante limitado, e não soberano.
A concepção de liberdade sem
limites exige um esforço vigoroso da mente. O nosso conceito de liberdade foi formado
num mundo em que não existe a liberdade absoluta, e onde cada objeto natural
depende de muitos outros objetos, sendo que essa dependência limita nossa
liberdade.
Ser livre como um pássaro, não
é ser livre. Os naturalistas sabem que as aves supostamente livres vivem numa
gaiola de temor, fome e instinto; sendo limitadas pelas condições climáticas,
suprimentos de alimento no local, animais predadores, e a mais estranha das
algemas: a compulsão de permanecer dentro do pequeno território onde vive. A
ave mais livre, como toda coisa criada, está presa a uma rede de necessidades.
Só Deus é livre.
Deus é totalmente livre porque
ninguém e nada poderão impedi-Lo, compeli-Lo ou fazê-Lo parar. Ele pode sempre
fazer a que Lhe agrada, em todo lugar e eternamente. Para ser assim livre, deve
possuir também autoridade universal. Sabemos pelas Escrituras que Seu poder não
tem limites, e também podemos deduzir isso de outros dos Seus atributos. Mas,
que dizer de Sua autoridade?
Um problema criado pela
doutrina da soberania está ligado com a vontade do homem. Se Deus rege a Seu
universo soberanamente, como pode o homem exercer seu livre-arbítrio? E se não
tem liberdade de escolha, como pode ser responsável pela sua conduta? Não seria
ele apenas um boneco cujas ações são determinadas por um Deus, atrás do palco,
que puxa as cordas conforme quer?
A tentativa de responder a
essas questões dividiu a igreja em dois campos que respondem pelo nome de dois
distintos teólogos, Jacobus Arminius e João Calvino. A maioria dos cristãos se
contenta em oscilar entre esses dois campos: ou negam a soberania de Deus, ou
negam o livre- arbítrio do homem. No entanto é possível reconciliar essas duas
posições sem violentarmos uma ou outra, embora o esforço seguinte possa parecer
deficiente aos partidários de um ou de outro campo.
O meu ponto de vista é o
seguinte: Deus soberanamente decretou liberdade ao homem para exercer escolha
moral, e desde o princípio o homem tem cumprido esse decreto escolhendo entre o
bem e o mal. Quando escolhe o mal, não anula a vontade soberana de Deus, mas a
cumpre, pois Deus não determinou qual seria a escolha do homem, e sim que ele
teria liberdade de escolha. A vontade do homem é livre porque Deus é soberano.
Um Deus menos soberano não poderia outorgar às Suas criaturas a liberdade
moral. Teria medo de fazê-lo.
A liberdade do homem e a
soberania de Deus não se contradizem. O propósito soberano de Deus mantém firme
o seu curso através da história. Deus se move, imperturbável e sem obstáculos
em direção ao cumprimento de Seus objetivos eternos em Cristo Jesus, os quais
foram definidos antes da fundação do mundo.
Sabemos que Deus cumprirá cada
promessa feita aos profetas; sabemos que os pecadores serão um dia eliminados
da terra; sabemos que os remidos entrarão no gozo do Senhor e que os justos
resplandecerão no reino de seu Pai; sabemos que a perfeição de Deus ainda virá
a ser aclamada universalmente, que toda a inteligência criada reconhecerá Jesus
Cristo como Senhor, para a glória de Deus Pai, e que a presente ordem imperfeita
desaparecerá, e um novo céu e uma nova terra serão estabelecidos eternamente.
Se reduzirmos tudo a termos
individuais, chegamos a algumas conclusões de vital importância a altamente
pessoais. No violento conflito moral que agora se processa atingindo a todos,
quem estiver do lado de Deus está do lado vencedor e não poderá perder; quem
estiver do outro lado está do lado perdedor e não poderá vencer. Não há chance
nem acaso.
Há liberdade de escolha quanto
ao lado em que lutaremos, mas não poderemos modificar os resultados da escolha,
uma vez feita. Pela misericórdia de Deus podemos nos arrepender duma escolha
errada e alterar as suas conseqüências, fazendo nova e acertada escolha. Além
disso nós não podemos ir.
Toda a questão da escolha moral
se concentra em Jesus Cristo. Ele definiu claramente: “Quem não é por mim e
contra mim”, e “Ninguém vem ao Pai senão por Mim”. Temos de decidir se
obedeceremos ao evangelho ou nos afastaremos dele, incrédulos, rejeitando a sua
autoridade. A escolha é nossa, mas as conseqüências já foram determinadas pela
vontade soberana de Deus, e dela não poderemos apelar.
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