segunda-feira, 29 de abril de 2013


FÉ: DOUTRINA MAL COMPREENDIDA

No esquema divino de salvação, a doutrina da fé é central. Deus dirige as Suas palavras à fé, e onde não há fé, nenhuma revelação é possível. “Sem fé é impossível agradar a Deus”.

Todo e qualquer benefício decorrente da expiação de Cristo vem ao indivíduo através do portal da fé. O perdão, a purificação, a regeneração, o Espírito Santo; todas as respostas à oração, são dados à fé e recebidos pela fé. Não há outro caminho. Essa é uma doutrina comum aos evangélicos e é aceita onde quer que haja compreensão da cruz de Cristo.

Porque a fé é tão vital para todas as nossas esperanças, tão necessária para o cumprimento de toda aspiração dos nossos corações, não nos atrevemos a tomar coisa nenhuma como líquida e certa no que lhe diz respeito. Uma coisa que traz consigo tanto bem ou tanto mal que, na verdade, decide o nosso céu ou nosso inferno, é importante demais para ser negligenciada. Simplesmente é preciso que não nos permitamos ficar sem informação ou mal informados. Temos de saber.

Já faz alguns anos, meu coração tem estado inquieto quanto à maneira como a doutrina da fé recebida e ensinada entre os cristãos em toda a parte. Nos círculos cristãos, grande ênfase é dada à fé. E isso é bom; mas continuo inquieto. Especificamente, o que temo é que o conceito moderno da fé não é bíblico; que, quando os mestres de nossos dias empregam a palavra fé, não lhe dão o sentido que os escritores da Bíblia lhe deram quando a empregaram.

Estas são as causas da minha intranqüilidade:
1.      A falta de fruto espiritual nas vidas de muitos que dizem que têm fé.
2.    A raridade com que ocorre radical mudança na conduta e na perspectiva geral das pessoas que professam sua nova fé em Cristo como seu Salvador pessoal.
3.    O defeito dos nossos mestres quanto a definir ou mesmo descrever aquilo a que se supõe que a palavra fé se refere.
4.    A desanimadora frustração de multidões de interessados que, por zelosos que sejam, nada conseguem extrair da doutrina e nenhuma experiência satisfatória recebem por meio dela.
5.     O real perigo de que uma doutrina tão amplamente papagueada e recebida tão acriticamente por tantas pessoas, seja falsa, nos termos em que a compreendem.
6.    Tenho visto a fé ser colocada como um substituto da obediência, uma fuga da realidade, um refúgio para a evasão da necessidade de pensar com seriedade, um abrigo para as personalidades fracas. Conheço gente que confunde fé com bom humor meramente animal, com otimismo natural, com vibrações emocionais e com tiques nervosos.
7.     O puro senso crítico deveria dizer-nos que qualquer coisa que não opere mudança no homem que a professa, tampouco faz qualquer diferença para Deus, e é um fato facilmente observável que, para incontável número de pessoas, a mudança da ausência de fé para a fé não faz nenhuma diferença real na vida.

Talvez nos ajude a saber o que é a fé observar primeiro o que não é. Não é acreditar numa afirmação que sabemos que é verdadeira. A mente humana é estruturada de tal maneira que, necessariamente, tem de acreditar quando a prova a ela apresentada é convincente. Não pode evitá-lo. Quando a prova não convence, não é possível fé alguma. Ameaças e punições não conseguem compelir a mente a crer contra as claras evidências.

A fé baseada na razão é um tipo de fé, é certo; mas não é conforme o caráter da fé bíblica, pois segue infalivelmente a demonstração das provas e nada contém de uma natureza moral ou espiritual. Tal fé nada mais é do que a conseqüência de uma argumentação com provas do que fruto de uma convicção moral.

A fé verdadeira firma-se no caráter de Deus e não pede mais provas que as perfeições morais daquele que não pode mentir. Basta que Deus fale e, se a Sua declaração contradisser cada um dos cinco sentidos e também todas as deduções da lógica, ainda o crente continuará a crer. “Seja Deus verdadeiro, e mentiroso todo homem”, é a linguagem da fé verdadeira. O céu aprova tal fé, porque ela se ergue acima das meras provas e repousa no coração de Deus.

A fé, como a Bíblia a conhece, é confiança em Deus e em Seu Filho Jesus Cristo; é a resposta da alma ao Ser divino revelado nas Escrituras; e mesmo essa resposta é impossível sem a ação interna do espírito Santo. A fé é dom de Deus à alma penitente, e absolutamente nada tem que ver com os sentidos ou com os dados fornecidos por eles.

A fé é um milagre; é a capacidade que Deus dá ao homem para confiar em Seu Filho, e aquilo que não resulte em ação conforme a vontade de Deus não é fé, mas algo diferente.

Qualquer fé que professar Cristo Jesus como Salvador pessoal e não colocar a vida do crente sob plena obediência a Cristo como Senhor é inadequada e só poderá trair sua vítima no final. O homem que crê, obedece; não obedecer é dar prova convincente de que não está presente a fé verdadeira.

Para tentar o impossível, ou Deus dá a fé ou não haverá nenhuma, pois Ele somente dá a fé ao coração obediente. Onde há arrependimento real, há obediência; pois o arrependimento não é apenas tristeza por erros e pecados passados, mas a determinação de começar a fazer agora a vontade de Deus por Ele revelada a nós.


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