A RELIGIÃO VERDADEIRA NÃO É
EMOÇÃO, MAS VONTADE
Uma das questões enigmáticas
que, mais cedo ou mais tarde, tendem a inquietar o cristão sincero é como pode
ele cumprir o mandamento bíblico que exige que ame a Deus de todo o coração e
ao próximo como a si mesmo.
O cristão zeloso pode
experimentar um sentimento de frustração quando reconhece que nem sempre ele tem
um sentimento emocional entusiasmado por seu Senhor ou por seus irmãos em
Cristo. Deseja fazê-lo, mas não pode. As emoções positivas simplesmente não
fluem.
Muitas pessoas sinceras ficam
desanimadas com a ausência de emoção religiosa e acabam concluindo que, afinal,
não são cristãs. Concluem que devem ter perdido rumo em algum ponto do caminho
e que sua religião é pouco mais que uma crença vazia. Assim, por algum tempo,
censuram-se por sua frieza e finalmente caem num estado de melancólico
desalento, mal sabendo o que pensar.
Crêem em Deus; na verdade,
confiam em Cristo como seu salvador, mas o amor que esperavam sentir,
persistentemente se lhes escapa. Qual será o problema?
Não é um problema simples.
Envolve uma dificuldade real, dificuldade que pode ser exposta em forma de
pergunta: Como posso amar por
mandamento? De todas as emoções de que é capaz a alma humana, o amor é, de
longe, a mais livre, a mais irrazoável, a que tem menos probabilidade de surgir
ao chamado do dever ou da obrigação, e certamente é a emoção que não se
sujeitará à voz de comando de outrem.
Jamais se decretou lei capaz de
compelir um ser moral a amar outro, pois, por sua própria natureza, o amor tem
de ser voluntário. Ninguém pode ser levado a amar alguém por coação ou pelo
medo. Não é dessa maneira que o amor vem. Daí, que havemos de fazer com o
mandamento do Senhor que nos ordena amar a Deus e ao próximo?
Para responder a essa questão,
é preciso saber que existem duas classes de amor: o amor do sentir e o amor do querer. O primeiro firma-se nas emoções, o segundo, na vontade. Temos
pouco domínio sobre o primeiro. Ele vem e vai, levanta-se e cai, mostra-se
deslumbrante e desaparece como lhe apraz, e passa de fervente a quente e a
frio, e de novo quente, lembrando as variações do tempo.
Não era esse amor que estava na
mente de Cristo quando Ele disse aos Seus que amassem a Deus e uns aos outros.
Querer mandar que este caprichoso tipo de afeto visite nossos corações é o
mesmo que mandar uma borboleta pousar em nosso ombro e ali ficar.
O amor que a Bíblia nos impõe
não é o amor do sentir; é o amor do
querer, a tendência voluntária do coração. Jamais foi da intenção de Deus
que um ser como o homem fosse um joguete dos seus sentimentos. A vida emocional
é uma parte válida e nobre da personalidade total, mas, por sua própria
natureza, tem importância secundária. Como
a retidão, a religião firma-se na vontade. A única bondade que Deus
reconhece é a bondade exercida pela vontade; a única santidade válida é a
santidade exercida pela vontade.
Para satisfazer as exigências
do amor a Deus, a alma precisa simplesmente querer amar, e o milagre começa a
florescer como a vara de Arão. A vontade é o piloto automático que mantém a
alma na rota. Uma bendita verdade é que a vontade, não os sentimentos,
determina a direção moral.
Para amar a Deus de todo o
nosso coração precisamos, antes de tudo, querer fazê-lo. Devemos arrepender-nos
da falta de amor e, deste momento em diante, determinar-nos a fazer de Deus o
objeto da nossa devoção. Devemos ler as escrituras com devoção todo dia e lhes
obedecer com espírito de oração, sempre querendo com firmeza amar a Deus de todo
o nosso coração e ao próximo como a nós mesmos.
Se agirmos assim, podemos estar
certos de que experimentaremos uma esplêndida mudança em toda a nossa vida
interior. Nossa afeição religiosa começará a elevar-se sobre asas firmes e
constantes, em vez de esvoaçar para cá e para lá ociosamente, sem propósito ou
sem direção inteligente.
Mas a primeira coisa que
temos de fazer é querer, pois a vontade é o fator decisivo que comanda o nosso
coração.
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