segunda-feira, 29 de abril de 2013


FÉ: DOUTRINA MAL COMPREENDIDA

No esquema divino de salvação, a doutrina da fé é central. Deus dirige as Suas palavras à fé, e onde não há fé, nenhuma revelação é possível. “Sem fé é impossível agradar a Deus”.

Todo e qualquer benefício decorrente da expiação de Cristo vem ao indivíduo através do portal da fé. O perdão, a purificação, a regeneração, o Espírito Santo; todas as respostas à oração, são dados à fé e recebidos pela fé. Não há outro caminho. Essa é uma doutrina comum aos evangélicos e é aceita onde quer que haja compreensão da cruz de Cristo.

Porque a fé é tão vital para todas as nossas esperanças, tão necessária para o cumprimento de toda aspiração dos nossos corações, não nos atrevemos a tomar coisa nenhuma como líquida e certa no que lhe diz respeito. Uma coisa que traz consigo tanto bem ou tanto mal que, na verdade, decide o nosso céu ou nosso inferno, é importante demais para ser negligenciada. Simplesmente é preciso que não nos permitamos ficar sem informação ou mal informados. Temos de saber.

Já faz alguns anos, meu coração tem estado inquieto quanto à maneira como a doutrina da fé recebida e ensinada entre os cristãos em toda a parte. Nos círculos cristãos, grande ênfase é dada à fé. E isso é bom; mas continuo inquieto. Especificamente, o que temo é que o conceito moderno da fé não é bíblico; que, quando os mestres de nossos dias empregam a palavra fé, não lhe dão o sentido que os escritores da Bíblia lhe deram quando a empregaram.

Estas são as causas da minha intranqüilidade:
1.      A falta de fruto espiritual nas vidas de muitos que dizem que têm fé.
2.    A raridade com que ocorre radical mudança na conduta e na perspectiva geral das pessoas que professam sua nova fé em Cristo como seu Salvador pessoal.
3.    O defeito dos nossos mestres quanto a definir ou mesmo descrever aquilo a que se supõe que a palavra fé se refere.
4.    A desanimadora frustração de multidões de interessados que, por zelosos que sejam, nada conseguem extrair da doutrina e nenhuma experiência satisfatória recebem por meio dela.
5.     O real perigo de que uma doutrina tão amplamente papagueada e recebida tão acriticamente por tantas pessoas, seja falsa, nos termos em que a compreendem.
6.    Tenho visto a fé ser colocada como um substituto da obediência, uma fuga da realidade, um refúgio para a evasão da necessidade de pensar com seriedade, um abrigo para as personalidades fracas. Conheço gente que confunde fé com bom humor meramente animal, com otimismo natural, com vibrações emocionais e com tiques nervosos.
7.     O puro senso crítico deveria dizer-nos que qualquer coisa que não opere mudança no homem que a professa, tampouco faz qualquer diferença para Deus, e é um fato facilmente observável que, para incontável número de pessoas, a mudança da ausência de fé para a fé não faz nenhuma diferença real na vida.

Talvez nos ajude a saber o que é a fé observar primeiro o que não é. Não é acreditar numa afirmação que sabemos que é verdadeira. A mente humana é estruturada de tal maneira que, necessariamente, tem de acreditar quando a prova a ela apresentada é convincente. Não pode evitá-lo. Quando a prova não convence, não é possível fé alguma. Ameaças e punições não conseguem compelir a mente a crer contra as claras evidências.

A fé baseada na razão é um tipo de fé, é certo; mas não é conforme o caráter da fé bíblica, pois segue infalivelmente a demonstração das provas e nada contém de uma natureza moral ou espiritual. Tal fé nada mais é do que a conseqüência de uma argumentação com provas do que fruto de uma convicção moral.

A fé verdadeira firma-se no caráter de Deus e não pede mais provas que as perfeições morais daquele que não pode mentir. Basta que Deus fale e, se a Sua declaração contradisser cada um dos cinco sentidos e também todas as deduções da lógica, ainda o crente continuará a crer. “Seja Deus verdadeiro, e mentiroso todo homem”, é a linguagem da fé verdadeira. O céu aprova tal fé, porque ela se ergue acima das meras provas e repousa no coração de Deus.

A fé, como a Bíblia a conhece, é confiança em Deus e em Seu Filho Jesus Cristo; é a resposta da alma ao Ser divino revelado nas Escrituras; e mesmo essa resposta é impossível sem a ação interna do espírito Santo. A fé é dom de Deus à alma penitente, e absolutamente nada tem que ver com os sentidos ou com os dados fornecidos por eles.

A fé é um milagre; é a capacidade que Deus dá ao homem para confiar em Seu Filho, e aquilo que não resulte em ação conforme a vontade de Deus não é fé, mas algo diferente.

Qualquer fé que professar Cristo Jesus como Salvador pessoal e não colocar a vida do crente sob plena obediência a Cristo como Senhor é inadequada e só poderá trair sua vítima no final. O homem que crê, obedece; não obedecer é dar prova convincente de que não está presente a fé verdadeira.

Para tentar o impossível, ou Deus dá a fé ou não haverá nenhuma, pois Ele somente dá a fé ao coração obediente. Onde há arrependimento real, há obediência; pois o arrependimento não é apenas tristeza por erros e pecados passados, mas a determinação de começar a fazer agora a vontade de Deus por Ele revelada a nós.


segunda-feira, 22 de abril de 2013


A RELIGIÃO VERDADEIRA NÃO É EMOÇÃO, MAS VONTADE

Uma das questões enigmáticas que, mais cedo ou mais tarde, tendem a inquietar o cristão sincero é como pode ele cumprir o mandamento bíblico que exige que ame a Deus de todo o coração e ao próximo como a si mesmo.

O cristão zeloso pode experimentar um sentimento de frustração quando reconhece que nem sempre ele tem um sentimento emocional entusiasmado por seu Senhor ou por seus irmãos em Cristo. Deseja fazê-lo, mas não pode. As emoções positivas simplesmente não fluem.

Muitas pessoas sinceras ficam desanimadas com a ausência de emoção religiosa e acabam concluindo que, afinal, não são cristãs. Concluem que devem ter perdido rumo em algum ponto do caminho e que sua religião é pouco mais que uma crença vazia. Assim, por algum tempo, censuram-se por sua frieza e finalmente caem num estado de melancólico desalento, mal sabendo o que pensar.

Crêem em Deus; na verdade, confiam em Cristo como seu salvador, mas o amor que esperavam sentir, persistentemente se lhes escapa. Qual será o problema?
Não é um problema simples. Envolve uma dificuldade real, dificuldade que pode ser exposta em forma de pergunta: Como posso amar por mandamento? De todas as emoções de que é capaz a alma humana, o amor é, de longe, a mais livre, a mais irrazoável, a que tem menos probabilidade de surgir ao chamado do dever ou da obrigação, e certamente é a emoção que não se sujeitará à voz de comando de outrem.

Jamais se decretou lei capaz de compelir um ser moral a amar outro, pois, por sua própria natureza, o amor tem de ser voluntário. Ninguém pode ser levado a amar alguém por coação ou pelo medo. Não é dessa maneira que o amor vem. Daí, que havemos de fazer com o mandamento do Senhor que nos ordena amar a Deus e ao próximo?

Para responder a essa questão, é preciso saber que existem duas classes de amor: o amor do sentir e o amor do querer. O primeiro firma-se nas emoções, o segundo, na vontade. Temos pouco domínio sobre o primeiro. Ele vem e vai, levanta-se e cai, mostra-se deslumbrante e desaparece como lhe apraz, e passa de fervente a quente e a frio, e de novo quente, lembrando as variações do tempo.

Não era esse amor que estava na mente de Cristo quando Ele disse aos Seus que amassem a Deus e uns aos outros. Querer mandar que este caprichoso tipo de afeto visite nossos corações é o mesmo que mandar uma borboleta pousar em nosso ombro e ali ficar.

O amor que a Bíblia nos impõe não é o amor do sentir; é o amor do querer, a tendência voluntária do coração. Jamais foi da intenção de Deus que um ser como o homem fosse um joguete dos seus sentimentos. A vida emocional é uma parte válida e nobre da personalidade total, mas, por sua própria natureza, tem importância secundária. Como a retidão, a religião firma-se na vontade. A única bondade que Deus reconhece é a bondade exercida pela vontade; a única santidade válida é a santidade exercida pela vontade.

Para satisfazer as exigências do amor a Deus, a alma precisa simplesmente querer amar, e o milagre começa a florescer como a vara de Arão. A vontade é o piloto automático que mantém a alma na rota. Uma bendita verdade é que a vontade, não os sentimentos, determina a direção moral.

Para amar a Deus de todo o nosso coração precisamos, antes de tudo, querer fazê-lo. Devemos arrepender-nos da falta de amor e, deste momento em diante, determinar-nos a fazer de Deus o objeto da nossa devoção. Devemos ler as escrituras com devoção todo dia e lhes obedecer com espírito de oração, sempre querendo com firmeza amar a Deus de todo o nosso coração e ao próximo como a nós mesmos.

Se agirmos assim, podemos estar certos de que experimentaremos uma esplêndida mudança em toda a nossa vida interior. Nossa afeição religiosa começará a elevar-se sobre asas firmes e constantes, em vez de esvoaçar para cá e para lá ociosamente, sem propósito ou sem direção inteligente.
Mas a primeira coisa que temos de fazer é querer, pois a vontade é o fator decisivo que comanda o nosso coração.

quinta-feira, 18 de abril de 2013


A IRA DE DEUS

Raramente há algo de bom na ira humana. Quase sempre ela brota de sentimentos que nada têm de santos, e muitas vezes leva a maldições e violência. O homem de mau gênio é imprevisível e perigoso, e normalmente os homens de paz e de boa vontade o evitam.

Entre os mestres religiosos dos dias atuais há uma forte tendência para dissociar a ira do caráter divino e para defender Deus em suas explicações das passagens bíblicas que relacionam a ira com a Sua pessoa. Isto é compreensível, mas à luz da completa revelação de Deus, essa atitude é indesculpável.   

Em primeiro lugar, Deus não precisa de defesa. Os mestres que estão tentando fazer Deus à sua imagem poderiam ocupar-se melhor procurando fazer-se a si mesmos à imagem de Deus. Nas escrituras “Deus falou todas estas palavras”, e não existe um critério independente pelo qual julgar a revelação que Deus faz concernente a Si próprio.

A recusa de muitos, a aceitar a doutrina da ira de Deus, faz parte de um esquema maior de incredulidade que começa com a dúvida a respeito da veracidade das Escrituras Cristãs. Deixe que um homem questione a inspiração das Escrituras, e uma curiosa inversão, monstruosa mesmo, tem lugar: daí por diante ele julga a Palavra, em vez de deixar que a Palavra o julgue; ele determina o que a Palavra deve ensinar, em vez de permitir que ela determine o que ele deve crer; ela a revisa, emenda, corta, faz acréscimos a seu bel-prazer; mas sempre se põe acima da Palavra e a faz submissa a si, em vez de ajoelhar-se diante de Deus e fazer-se submisso à Palavra.

O intérprete demasiado sensível, que procura proteger Deus das implicações da Sua Palavra, está empenhado num esforço inútil e inconveniente, que só poderá ser completamente desperdiçado.

O cristão maduro e instruído na verdade sabe que a ira de Deus é uma realidade, que a Sua ira é tão santa como o Seu amor, e que entre o Seu amor e a Sua ira não há incompatibilidade. Ele sabe o que a ira de Deus é e o que não é. Para compreendermos a ira de Deus, precisamos examiná-la à luz da Sua santidade. Deus é santo e faz da santidade a condição moral necessária para a saúde do Seu universo.

A presença temporária do pecado no mundo só acentua isso. Tudo que é santo é saudável; o mal é uma doença moral que finalmente terá de acabar em morte. Desde que o primeiro interesse de Deus por Seu universo é sua saúde moral, isto é, a sua santidade, tudo quanto a contrarie estará necessariamente sob Seu eterno desagrado. Sempre que a santidade de Deus confronta o que não é santo, há conflito.

A atitude e a ação de Deus neste conflito são a Sua ira. Para preservar a Sua criação, Deus tem de destruir tudo o que ameaça destruí-la. Quando Ele se levanta para impor destruição e para salvar o mundo de um irreparável colapso moral, diz-se que Ele está irado. Todo julgamento de Deus na história do mundo, em Sua ira, é um santo ato de preservação.

A santidade de Deus, a ira de Deus e a saúde da criação são inseparavelmente unidas. Não só é direito de Deus mostrar ira contra o pecado, mas eu acho impossível entender como Ele poderia agir de outro modo. A ira de Deus é Sua total intolerância a tudo aquilo que é degradante e destrutivo. Ele odeia a iniqüidade como a mãe odeia a doença que ameaça seu filho.

Quando Deus adverte os homens da Sua ira iminente e os exorta a arrepender-se e evitá-la, Ele se expressa numa linguagem que a humanidade pode compreender, dizendo-lhes: “Fugi da ira vindoura”. Noutras palavras, diz Ele:

“A tua vida é má e, porque é má, és um inimigo da saúde moral da minha criação. Tenho de extirpar tudo que poderia destruir o mundo que eu amo. Arrepende-te do mal antes que Eu me levante irado contra ti. Eu te amo, mas odeio o pecado que tu amas. Aparta-te do mal, antes que eu envie o juízo contra ti”.


segunda-feira, 15 de abril de 2013


A SOBERANIA DE DEUS

A soberania de Deus é um atributo pelo qual Ele domina sobre toda a criação. Para ser soberano, Deus tem de ser onisciente, onipotente e absolutamente livre. As razões para isso são as seguintes:
Se houvesse uma parcela de conhecimento, por menor que fosse, desconhecida de Deus, Seu domínio iria falhar nesse ponto. Para ser Senhor de toda a criação, Ele tem de possuir todo o conhecimento. Se um pequeno, infinitesimal grau de poder faltasse a Deus, essa falta acabaria com o Seu reino; esse único átomo de poder extraviado pertenceria a outro, e Deus seria um governante limitado, e não soberano.

A concepção de liberdade sem limites exige um esforço vigoroso da mente. O nosso conceito de liberdade foi formado num mundo em que não existe a liberdade absoluta, e onde cada objeto natural depende de muitos outros objetos, sendo que essa dependência limita nossa liberdade.

Ser livre como um pássaro, não é ser livre. Os naturalistas sabem que as aves supostamente livres vivem numa gaiola de temor, fome e instinto; sendo limitadas pelas condições climáticas, suprimentos de alimento no local, animais predadores, e a mais estranha das algemas: a compulsão de permanecer dentro do pequeno território onde vive. A ave mais livre, como toda coisa criada, está presa a uma rede de necessidades. Só Deus é livre.

Deus é totalmente livre porque ninguém e nada poderão impedi-Lo, compeli-Lo ou fazê-Lo parar. Ele pode sempre fazer a que Lhe agrada, em todo lugar e eternamente. Para ser assim livre, deve possuir também autoridade universal. Sabemos pelas Escrituras que Seu poder não tem limites, e também podemos deduzir isso de outros dos Seus atributos. Mas, que dizer de Sua autoridade?

Um problema criado pela doutrina da soberania está ligado com a vontade do homem. Se Deus rege a Seu universo soberanamente, como pode o homem exercer seu livre-arbítrio? E se não tem liberdade de escolha, como pode ser responsável pela sua conduta? Não seria ele apenas um boneco cujas ações são determinadas por um Deus, atrás do palco, que puxa as cordas conforme quer?

A tentativa de responder a essas questões dividiu a igreja em dois campos que respondem pelo nome de dois distintos teólogos, Jacobus Arminius e João Calvino. A maioria dos cristãos se contenta em oscilar entre esses dois campos: ou negam a soberania de Deus, ou negam o livre- arbítrio do homem. No entanto é possível reconciliar essas duas posições sem violentarmos uma ou outra, embora o esforço seguinte possa parecer deficiente aos partidários de um ou de outro campo.

O meu ponto de vista é o seguinte: Deus soberanamente decretou liberdade ao homem para exercer escolha moral, e desde o princípio o homem tem cumprido esse decreto escolhendo entre o bem e o mal. Quando escolhe o mal, não anula a vontade soberana de Deus, mas a cumpre, pois Deus não determinou qual seria a escolha do homem, e sim que ele teria liberdade de escolha. A vontade do homem é livre porque Deus é soberano. Um Deus menos soberano não poderia outorgar às Suas criaturas a liberdade moral. Teria medo de fazê-lo.

A liberdade do homem e a soberania de Deus não se contradizem. O propósito soberano de Deus mantém firme o seu curso através da história. Deus se move, imperturbável e sem obstáculos em direção ao cumprimento de Seus objetivos eternos em Cristo Jesus, os quais foram definidos antes da fundação do mundo.

Sabemos que Deus cumprirá cada promessa feita aos profetas; sabemos que os pecadores serão um dia eliminados da terra; sabemos que os remidos entrarão no gozo do Senhor e que os justos resplandecerão no reino de seu Pai; sabemos que a perfeição de Deus ainda virá a ser aclamada universalmente, que toda a inteligência criada reconhecerá Jesus Cristo como Senhor, para a glória de Deus Pai, e que a presente ordem imperfeita desaparecerá, e um novo céu e uma nova terra serão estabelecidos eternamente.

Se reduzirmos tudo a termos individuais, chegamos a algumas conclusões de vital importância a altamente pessoais. No violento conflito moral que agora se processa atingindo a todos, quem estiver do lado de Deus está do lado vencedor e não poderá perder; quem estiver do outro lado está do lado perdedor e não poderá vencer. Não há chance nem acaso.

Há liberdade de escolha quanto ao lado em que lutaremos, mas não poderemos modificar os resultados da escolha, uma vez feita. Pela misericórdia de Deus podemos nos arrepender duma escolha errada e alterar as suas conseqüências, fazendo nova e acertada escolha. Além disso nós não podemos ir.

Toda a questão da escolha moral se concentra em Jesus Cristo. Ele definiu claramente: “Quem não é por mim e contra mim”, e “Ninguém vem ao Pai senão por Mim”. Temos de decidir se obedeceremos ao evangelho ou nos afastaremos dele, incrédulos, rejeitando a sua autoridade. A escolha é nossa, mas as conseqüências já foram determinadas pela vontade soberana de Deus, e dela não poderemos apelar.   

segunda-feira, 8 de abril de 2013


QUE FAZER DO DIABO

A natureza humana tende a excessos, por uma espécie de maligna atração magnética. Instintivamente corremos de um extremo a outro, razão por que muitas vezes estamos no erro.

Uma prova desta propensão para os extremos se vê na atitude do cristão vulgar para com o diabo. Tenho observado entre pessoas espirituais a tendência ou de ignorá-lo totalmente ou de levá-lo demasiadamente em conta. Ambas as atitudes são erradas.

Há no mundo um inimigo que não nos atrevemos a ignorar. Vemo-lo primeiro no capítulo três de Genesis e por fim no capítulo vinte de Apocalipse. Quer dizer que ele estava presente no princípio da história humana e presente estará no seu término terreno.

Este inimigo não é criação da fantasia religiosa, nem simples personificação do mal por conveniência, mas é um ser tão real como o próprio homem. A Bíblia lhe atribui qualidades pessoais muito pormenorizadas para serem figuradas, e o mostra falando e agindo em situações concretas e práticas, muito distantes da imaginação poética.

As Escrituras declaram que o diabo é inimigo de Deus e de todos os homens de bem. É descrito como mentiroso, enganador e assassino, que procura atingir seus fins mediante fraude e embuste. Como é um espírito, pode “rodear a terra, e passear por ela”, a seu bel-prazer. Embora não seja onipresente (a onipresença é atributo de Deus somente), é alguém que procura se movimentar na história, como se o fosse, na tentativa de alcançar seus propósitos.

O inimigo tem muitos nomes, dentre os quais os de dragão, serpente, diabo e Satanás. Em acréscimo a este ser maligno, existem demônios, “principados”, “potestades”, “dominadores deste mundo tenebroso”, “forças espirituais do mal, nas regiões celestes”, que operam sob a sua direção. Quanto sucesso este bando de foras-da-lei cósmicos tem tido está escrito na história humana com pena mergulhada em sangue.

O estrago feito por eles na terra é tão horrendo que excede todo o poder de descrição. Todos os jornais e todos os noticiários do rádio e da TV são provas da existência desse gênio mau chamado diabo e do seu bando de espíritos corrompidos, dedicados à destruição.
Satanás odeia a Deus e odeia tudo que é caro a Deus, pela simples razão de que Deus ama isso. Porque o homem foi feito à imagem de Deus, o ódio com que Satanás o vê é particularmente malévolo, e desde que o cristão é duplamente caro a Deus, é odiado pelos poderes das trevas com redobrada fúria, provavelmente sem igual em todo e qualquer ponto do universo moral.

Em vista disso, não pode ser menos que loucura nós, cristãos, ficarmos desatentos à realidade e à presença do inimigo. Viver num mundo em estado de sítio é viver em constante perigo. Viver num mundo assim e estar totalmente inconsciente do perigo, é aumentá-lo cem vezes e transformar o mundo num paraíso para loucos.

Da mesma forma que não devemos subestimar a força do adversário, devemos ao mesmo tempo ter o cuidado de não cair em seu fascínio e viver sempre com medo dele. “Não lhe ignoramos os desígnios”. Se ele não conseguir nos fazer desacreditar de sua existência, tentará nos fazer cientes dele, e assim lançará uma sombra permanente sobre nossas vidas.
Apenas uma linha fina como um fio de cabelo separa a verdade da superstição. Devemos aprender a verdade sobre o inimigo, mas devemos evitar a superstição de que ele é onipotente. A verdade nos fará livres, mas a superstição nos escravizará.

Conheço cristãos que se acham tão absorvidos na luta contra os maus espíritos, que vivem num estado de constante inquietação. Este patético esforço para manter o diabo encurralado os deixa com esgotamento nervoso e físico, e eles pelejam para continuar vivendo em frenética repreensão do diabo em nome de Cristo. Ficam a cada dia mais sensíveis e desconfiados, sempre tentando localizar um mau espírito como a causa que está por trás de tudo que os irrita.

O mal disso tudo é que esse comportamento é contagioso e depressa torna uma igreja alegre e fiel na adoração a Deus em uma multidão de gente alarmada e excitada, gente nervosa e completamente infeliz.

O modo bíblico de ver as coisas é colocar o Senhor sempre diante de nós. É pôr Cristo no centro de nossa visão, e se Satanás estiver rondando e espionando, só aparecerá na margem e será visto como uma sombra na margem do resplendor. É sempre errado inverter isto – pôr Satanás no centro focal da nossa visão e empurrar Deus para a margem. Nada senão tragédia pode provir de tal inversão.

O melhor meio de manter o inimigo fora é manter Cristo dentro. As ovelhas não precisam ser aterrorizadas pelo lobo; basta que fiquem perto do pastor. Não é a ovelha em oração que Satanás teme, mas a presença do pastor que é Cristo. O cristão instruído, cujas faculdades se desenvolveram mediante a Palavra e o Espírito, não temerá o diabo. Se for preciso, ele se levantará contra os poderes das trevas e os dominará pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do seu testemunho.

Reconhecerá o perigo em que vive e saberá o que fazer a respeito, mas experimentará a presença de Deus e nunca permitirá que Satanás tenha lugar em sua vida e em seus pensamentos.  

segunda-feira, 1 de abril de 2013


A QUEM ENVIAREI?

“Depois disto ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei, e quem há de ir por nós? Disse eu: Eis-me aqui, envia-me a mim” (Isaías 6:8).

Podemos notar claramente na Bíblia que Deus necessita do homem, de sua cooperação a fim de realizar seu plano eterno. Nos seis dias da criação, o homem é o centro da obra de Deus. Depois de criar o homem, Deus descansa; pois sem o homem não pode descansar.

Embora mais tarde o homem caia, o propósito de Deus para ele não é mudado. Deus ainda deseja tê-lo como cooperador. A salvação, edificação e a maturidade espiritual do homem nesta vida são para satisfazer a necessidade de Deus. Pode-se dizer que na obra de Deus não há ocasião quando o homem não participa. O homem é chamado para operar juntamente com Deus; Ele trabalha juntamente com o homem.

Ao examinarmos de Gênesis ao Apocalipse veremos que Deus está sempre procurando, sempre guiando e utilizando o homem como canal para sua obra. Antes de fazer a obra, primeiro consegue o homem certo. Se não puder obtê-lo, Ele não poderá fazer a obra.

É evidente, pela história de Noé e da arca, que durante os dias de Noé o Senhor queria salvar os homens. Mas se não encontrasse Noé, não tinha jeito de realizar o Seu propósito. Deus precisava encontrar um Noé – precisava encontrar uma pessoa que tivesse a sua mente e que com Ele andasse. 

Desejoso de ter uma arca, Deus deve encontrar alguém cujo coração se incline para Ele e que com Ele coopere de modo que possa usá-lo para construir a arca.

E depois de Deus ter encontrado em Noé o homem que estava de acordo com Ele, começou a trabalhar. Por isso dizemos que a menos que o Senhor encontre o homem, não pode trabalhar. Tal é o andar e o trabalhar do homem com Deus e de Deus com o homem.

A Bíblia está repleta de exemplos que fortalecem esse argumento. Com o advento do Novo Testamento, vemos que na vinda do Senhor a cooperação entre o homem e Deus encontra sua expressão mais pura. Quem é o Senhor Jesus? Ele é Deus feito carne. Porque homem algum no universo inteiro pode preencher o requisito de Deus para a realização de Sua obra máxima; a salvação, Deus mesmo vem para ser homem.

Embora o Senhor Jesus seja muito superior aos homens, durante seus dias na terra Ele sempre agiu como homem. Embora seja Deus, Filho de Deus, fez tudo na posição do homem. Quando, por exemplo, Jesus é tentado no deserto, Satanás declara-lhe repetidas vezes que se for o Filho de Deus ele pode fazer isso ou aquilo. Satanás tentou tirar Cristo de sua posição de homem e elevá-lo à posição de Deus. Mas a resposta de nosso Senhor Jesus é: 

“Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus” (Mateus 4.4).

 Com isso ele quer dizer: “Estou aqui para ser homem, estou sendo tentado hoje porque sou o Verbo que se tornou carne de homem; sou Jesus de Nazaré”.

O Senhor Jesus sempre se apresenta como “o Filho do homem”, indicando plenamente que enquanto na terra Ele sempre agirá como o “Filho do homem”. Isso mostra o fato de que Deus deve realizar sua obra por meio de um homem. Mas percebendo que o homem comum não poderia preencher Sua exigência, Deus enviou seu Filho amado a fim de cumprir Sua exigência e realizar Sua obra.

“A quem enviarei, e quem há de ir por nós”? pergunta Deus. O motivo pelo qual muita gente não está sendo atraída para o reino não é que Deus não deseja que se pregue pó evangelho, nem porque não tenha intenção de salvar os homens, mas porque não tem o homem ou homens que possa usar.

Muitos cristãos estão possuídos de vanglória; muitos cristãos estão envolvidos no divertimento; muitos estão ocupados demais com suas famílias; muitos são escravos do conforto. Estas pessoas preocupam-se somente com seus próprios interesses. Não têm desejo de pregar o evangelho ou fazer a obra de Deus. Muitas pessoas permanecem perdidas não porque Deus não tenha desejo de salvá-las, mas porque não cooperamos com Ele...

  O motivo pelo qual a obra de Deus é retardada é que Ele não possui o seu homem. Que possamos compreender, realmente, que o Senhor deve ter você e a mim antes de poder realizar o que deseja.