quinta-feira, 3 de março de 2011

A VERDADEIRA RELIGIÃO NÃO SE BASEIA EM SENTIMENTOS MAS NA VONTADE

Uma das questões desconcertantes que mais cedo ou mais tarde surge para confundir o cristão é saber como poderá cumprir o mandamento bíblico de amar a Deus de todo o coração e o próximo como a si mesmo.

O cristão sincero, enquanto medita nesta obrigação sagrada de amar a Deus e à humanidade, pode experimentar uma certa frustração gerada pelo conhecimento de que ele não pode criar deliberadamente qualquer entusiasmo emocional com relação a seu Senhor ou seus irmãos. Ele deseja isso, mas não consegue fazê-lo. As deliciosas fontes do sentimento não correm.

Muitas pessoas sinceras desanimaram por causa da ausência de emoção religiosa e concluíram que não eram cristãs afinal de contas, achando que perderam o caminho certo em algum ponto e sua religião tornou-se praticamente vazia de sentido. Durante algum tempo, então, censuraram-se pela sua frieza e finalmente entraram num estado de desânimo completo, mal sabendo o que pensar. Elas acreditam em Deus; confiam verdadeiramente em Cristo como seu salvador, mas o amor que esperavam sentir lhes escapa sempre. Qual será o problema?

Ele não é de fácil solução. Existe uma dificuldade real, a qual pode ser estabelecida em forma de pergunta: Como posso amar obrigado? De todas as emoções de que a alma é passível, o amor é a mais livre, e a menos racional, a que tem menor probabilidade de atender ao chamado do dever ou da obrigação, e certamente aquela que não atende ao mandado de outrem. Nenhuma lei jamais foi passada que pudesse compelir um ser moral a amar outro, pois pela sua própria natureza o amor deve necessariamente ser voluntário. Ninguém pode ser coagido ou ameaçado a fim de amar alguém. O amor não surge assim. O que fazer então com o mandamento do Senhor, para amar a Deus e a nosso próximo?

A fim de descobrir o caminho que leva da escuridão para a luz, precisamos apenas saber que existem duas espécies de amor: o amor do sentimento e o amor da vontade. Um deles está preso às emoções, o outro à vontade. Sobre o primeiro é mínimo o nosso controle. Ele vem e vai, sobe e desce, se inflama e desaparece segundo lhe apraz e muda de quente para morno, para frio, e depois se aquece de novo como faz o tempo.

Não foi a esse amor que Cristo se referiu quando disse aos discípulos que amassem a Deus e uns aos outros. Tentar fazer com que esse tipo de afeição caprichosa entrasse obrigatoriamente em nosso coração seria o mesmo que ordenar a uma borboleta que pousasse em nosso ombro.

O amor recomendado na Bíblia não é o amor-sentimento; mas o amor-vontade, uma decisão tomada deliberadamente. Deus jamais pretendeu que um ser como o homem fosse um cativo de suas emoções. A vida emocional é uma parte nobre e adequada da personalidade total, mas, pela sua própria natureza tem uma importância secundária. A religião tem como base a vontade e o mesmo acontece com a retidão. O único bem que Deus reconhece é o bem deliberado; a única santidade válida é a deliberada.

O pensamento de que diante de Deus todo homem é aquilo que quer ser deve animar-nos. O primeiro requisito da conversão é a transformação da vontade. “Quem quiser”, diz o Senhor e interrompe-se nesse ponto. A fim de satisfazer as exigências do amor para com Deus, a alma precisa apenas querer amar e o milagre começa a florescer como a vara de Arão.

A vontade é o piloto automático que mantém a alma no rumo certo. “Voar é fácil” disse um amigo que pilota seu próprio avião. “Basta colocá-lo no ar, apontá-lo para a direção que deseja seguir e ligar o piloto automático. Depois disso ele voa sozinho”. Embora não devamos demorar-nos nessa idéia é, todavia, abençoadamente verdadeiro que é a vontade, e não os sentimentos, quem determina a direção moral.

A raiz de todos os males na natureza humana é a corrupção da vontade. Os pensamentos e as intenções do coração são errados e, como conseqüência, toda a vida se torna errada. O arrependimento é em primeiro lugar uma mudança de propósito moral, uma inversão súbita e violenta da direção seguida pela alma. O filho pródigo deu o primeiro passo para sair do chiqueiro quando disse: “Levantar-me-ei e irei ter com meu pai”. Da mesma forma que um dia desejou sair da casa do pai, queria agora voltar. Sua atitude subsequente provou sua sinceridade. Ele realmente voltou.

Para amar a Deus de todo o coração devemos primeiramente querer isso. É preciso arrepender-nos de nossa falta de amor e decidir, desse momento em diante, fazer de Deus o objeto de nossa devoção. Devemos fixar nossa afeição nas coisas do alto e dirigir nossos corações para Cristo e as coisas celestiais. Devemos ler as Escrituras todos os dias e obedecer-lhes com o espírito de oração, sempre desejando firmemente amar a Deus de todo coração e a nosso próximo como a nós mesmos.

Se fizermos essas coisas podemos estar certos de que experimentaremos uma transformação maravilhosa em toda a nossa vida interior. Logo descobriremos, para nossa grande alegria, que nossos sentimentos estão se tornando menos erráticos e estão começando a mover-se no sentido da decisão tomada deliberadamente. Nossas emoções se tornarão disciplinadas e dirigidas. Começaremos a gozar da “doçura penetrante” do amor de Cristo.

Nossos sentimentos religiosos se elevarão uniformemente sobre asas firmes em lugar de esvoaçar por toda parte, ociosos, sem propósito ou direção inteligente. A vida, como um delicado instrumento, será sintonizada para dar louvores Àquele que nos amou e que nos lavou de nossos pecados em seu próprio sangue.

Mas, em primeiro lugar devemos querer, pois a vontade é a senhora do coração. 

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