Uma
vez fechadas as janelas, trancadas as portas e apertadas as porcas e parafusos
em nossas engrenagens mentais, começamos a nos sentir seguros. Mas o tédio e o
desespero silenciosos de nossa existência hermeticamente fechada nos levam a
buscar compensações e satisfações através de todos os tipos de experiências agradáveis.
Quando
as formas de prazer, lazer e recreação reanimam a mente e o corpo e revitalizam
o espírito, elas proporcionam uma sensação de equilíbrio, tranqüilidade e
completude. Mas, buscadas em si mesmas, elas nos enviam a um passeio na
montanha-russa, durante o qual cada sensação deve ser maior que a anterior para
que a emoção continue.
O
sexo pode ser a forma de prazer mais procurada, seguido pelo efeito embriagador
do álcool ou pela energia impulsionadora das drogas. Para alguns, o prazer é
encontrado no conforto da comida. Para outros, é a vida por meio da música ou
do cinema que dá acesso à vida emocional, profundamente enterrada. Quão
facilmente a busca de prazer se transforma em obsessão, e a obsessão em um tipo
de morte da alma:
“Quem
vive segundo a carne tem a mente voltada para o que a carne deseja; mas quem
vive de acordo com o Espírito, tem a mente voltada para o que o Espírito
deseja. A mentalidade da carne é morte, mas a mentalidade do Espírito é vida e
paz; a mentalidade da carne é inimiga de Deus porque não se submete à Lei de
Deus, nem pode fazê-lo. Quem é dominado pela carne não pode agradar a Deus”. Romanos 8:5-8.
O
homem carnal está ostensivamente ligado à carne, segundo a qual vive e anda. No
entanto, muitos cristãos praticam uma “prudência da carne” ambivalente, a qual
aspira a um tipo de mediocridade dourada: o “eu” é cuidadosamente distribuído
entre carne e espírito, mantendo um olho atento em ambos.
Paulo
chama a isso “visão espiritual imperfeita”. É a visão dos que receberam o Espírito,
mas permanecem espiritualmente imaturos porque não se sujeitam por completo ao
domínio do Espírito. Eles se rendem às suas paixões, permitindo, assim, que
seus impulsos os limitem a uma espiritualidade infantil. Paulo os compara a
bebês incapazes de receber alimento sólido (I Co 3.2). O cristão perfeito é
aquele que normalmente não se rende às exigências da carne, e que normalmente é
submisso aos impulsos do Espírito.
Uma
das formas mais intrigantes de auto-indulgência é a obsessão narcisista com o
próprio corpo. Partindo do interesse válido e útil de manter a saúde, gastamos
uma quantidade inacreditável de tempo e energia para conquistar ou manter uma
boa aparência. O planejamento estratégico de Napoleão para a invasão da Rússia foi
um esforço militar amador, se comparado à engenhosidade, habilidade e precisão
logística do cuidado corporal.
Não
há lanches rápidos casuais, nem exercícios não planejados, nem carboidrato ou
caloria que não seja contabilizado. Procura-se orientação profissional,
consultam-se livros e periódicos, procuram-se spas, avaliam-se cirurgias
plásticas e debatem-se os méritos da dieta da moda na televisão. O que é uma
rica vida espiritual comparada à primorosa sensação de se parecer com uma
celebridade?
Logicamente,
a preocupação com a aparência física não mantém nenhuma relação com a mente de
Jesus Cristo. O Senhor sente apenas tristeza e compaixão pela nossa patética
perseguição da sensação física. Os esforços para se encontrar excitação e
deflagrar uma paixão não terminam com o físico. Os cristãos são tão propensos a
dependência química, romances, amizades interesseiras e comportamentos de risco
quanto aqueles que não possuem Cristo no coração. Querem e buscam meios de
preencher as lacunas abertas na vida. No entanto, saem dessas experiências com
pouco mais do que uma sensação temporária de plenitude.
Pense
como as religiões têm explorado e aproveitado da carência para substituir o
entorpecimento em nossa vida por uma paixão por algo mais, qualquer coisa.
Criamos a adoração na qual a música serve para mexer com as emoções, mas a alma
permanece impassível, em que palavras ditas são pouco mais do que manipulações
do coração. Criamos experiências catárticas cheias de choro e “dança no
Espírito”, que nos deixam com a sensação de que Deus nos tocou.
Não
é de se surpreender que as experiências espirituais estejam crescendo
rapidamente por todos os lados e se tornando artigos comerciais altamente
procurados. Multidões correm para lugares e pessoas que prometem intensas
experiências de comunhão, emoções catárticas de alegria, doçura e sensações
libertadoras de arrebatamento e êxtase. Em nossa desesperada necessidade de
plenitude e incessante busca pela experiência da intimidade divina, somos todos
propensos a construir nossos próprios eventos “espirituais”.
A
falta de experiência com o amor divino fica dolorosamente evidente. Quer
busquemos preencher o vazio com atividades ostensivamente carnais, como sexo
ilícito, álcool ou drogas; quer nos enganemos acreditando que nossa necessidade
de prazer é baseada em uma preferência espiritual, o nome do jogo é o mesmo.
0 comentários:
Postar um comentário