O carcereiro disse a Paulo: “Os magistrados deram ordens para que você e Silas sejam libertados. Agora podem sair. Vão em Paz” (Atos 16: 36).
Mas Paulo disse aos soldados: “Sendo nós cidadãos romanos, eles nos açoitaram publicamente sem processo formal e nos lançaram na prisão. E agora querem livrar-se de nós secretamente? Não! Venham eles mesmos e nos libertem” (Atos 16: 37).
Como vimos nos textos mencionados, Paulo tinha cidadania judaica e romana. Sabemos que, posteriormente ele adquiriu, pelo novo nascimento, a cidadania do Reino dos céus e isso poderia ser um grande problema para ele, mas ao ler a respeito de sua história, relatada em Atos dos Apóstolos, vemos que ele se comportava corretamente em todas as circunstâncias.
Como cidadão judeu ele praticou as leis judaicas até o ponto de ser irrepreensível. Como romano ele soube se portar adequadamente e mesmo tendo sido injustamente preso algumas vezes, não se rebelou ou pregou contra Roma, mas evocou a lei romana para sua defesa e apelou ao imperador para julgar sua causa.
Seus ensinos aos cristãos eram sempre pautados pelo respeito às autoridades:
“Lembra-lhes que se sujeitem aos que governam, às autoridades; sejam obedientes, estejam prontos para toda boa obra, não difamem a ninguém; nem sejam altercadores, mas cordatos, dando provas de toda cortesia, para com todos os homens” (Tito 3: 1-2).
Estudando a sua postura ética vemos que Paulo conciliava bem suas obrigações de dupla cidadania simplesmente observando as leis e submetendo-se aos governantes judeus e romanos. Porém, em relação às suas prioridades vemos que sua maior autoridade era o Rei do Reino dos céus. Ele considerava que as autoridades eram representantes de Deus e por isso, Deus estava acima de todas elas.
“Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas. De modo que aquele que se opõe à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos condenação” (Romanos 13: 1-2).
O governo civil é um meio ordenado por Deus para reger e manter a ordem nas comunidades. É um dentre vários desses meios, inclusive ministros na igreja e os pais no lar. Isso significa que cada um deles tem a sua própria esfera de autoridade sob Cristo, que agora governa e sustenta a criação, e os limites de cada esfera são estabelecidos como um anteparo contra a anarquia e contra a dissolução da sociedade ordenada.
A Confissão de Westminster explica, como segue, a esfera do governo civil:
“Deus, o Senhor supremo e Rei de todo o mundo, para sua própria glória e para o bem público, constituiu sobre o povo magistrados civis, a ele sujeitos, e para esse fim os armou com o poder da espada para defesa e incentivo dos bons e castigo dos malfeitores. Os magistrados não podem tomar sobre si a administração da Palavra ou o poder das chaves do Reino de Deus”.
Pelo fato de o governo civil existir para o bem de toda a sociedade, Deus lhe confere o ‘poder da espada’, o uso legal da força para aplicar as leis justas:
“Visto que a autoridade é ministro de Deus para o teu bem. Entretanto, se fizeres o mal, teme; porque não é sem motivo que ela traz a espada; pois é ministro de Deus, vingador, para castigar o que pratica o mal” (Rm 13: 4).
Porém, se o governo civil proíbe aquilo que Deus exige ou exige aquilo que Deus proíbe, os cidadãos do Reino não devem submeter-se, e alguma forma de desobediência civil se torna inevitável:
Tendo sido levados perante o Sinédrio, foram interrogados pelo sumo sacerdote: “Demos ordens expressas para vocês para que não ensinassem nesse nome. Todavia, vocês encheram Jerusalém com sua doutrina e nos querem tornar culpados do sangue desse homem” (Atos 5: 27-28).
Pedro e os outros apóstolos responderam: “É preciso obedecer antes a Deus do que aos homens!” (Atos 5: 29).
O cristão deve buscar primeiro o Reino o Reino de Deus e a sua justiça. Fazendo assim ele nunca será confundido em sua dupla cidadania. Viverá sempre em paz com Deus e com a sua consciência.
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