segunda-feira, 27 de maio de 2013

HOMEM: HABITAÇÃO DE DEUS


No mais profundo de cada criatura humana há um lugar onde reside a misteriosa essência do seu ser. Esta realidade interior consiste de si própria e não pode ser comparada a nenhuma outra parte da complexa natureza humana. Constitui o “eu sou” do homem, dádiva do “Eu Sou” que o criou.

O grande Eu Sou que é Deus não deriva de nada e é auto-existente; o “eu sou” que é o homem é derivado de Deus e depende, em cada momento, do Seu Fiat criador para a continuidade da sua existência. Um é o Criador, elevado acima de tudo e de todos, ancião de dias, que habita a luz inacessível. O outro é uma criatura que, mesmo sendo mais privilegiado que todas as demais criaturas, é um dependente da generosidade de Deus e um suplicante diante do Seu trono.

Nas escrituras, a profunda entidade que estamos falando é denominada o espírito do homem. “Porque, qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o seu próprio espírito que nele está? Assim também as coisas de Deus ninguém as conhece senão o Espírito de Deus” (I Cor. 2.11). Como o auto-conhecimento de Deus está no Espírito eterno, assim o auto-conhecimento do homem é pelo seu espírito, e o seu conhecimento de Deus é impresso diretamente no espírito humano pelo Espírito de Deus.  

Não é possível ignorar a importância disso tudo quando pensamos, estudamos e oramos. Este fato revela a espiritualidade essencial da humanidade. Nega que o homem é uma criatura dotada de espírito e declara que ele é um espírito dotado de corpo. O que o torna ser humano não é o seu corpo, mas, sim, o seu espírito, no qual estava originalmente a imagem de Deus.

Uma das declarações mais libertadoras do Novo Testamento é esta: “Os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores. Deus é espírito, e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade” (João 4.23-24). Aqui se demonstra que a natureza do culto é totalmente espiritual. A religião verdadeira trata do principal; da união do homem com o Espírito de Deus.

No íntimo e oculto centro do ser humano há uma sarça própria para ser a morada do Deus Triúno. Ali Deus planejou permanecer e arder em chamas morais e espirituais. Por seu pecado, o homem perdeu o direito a esse privilégio maravilhoso, e agora se vê forçado a viver ali sozinho. Pois o lugar é tão intimamente privado, que nenhuma criatura pode invadi-lo; ninguém senão Cristo pode entrar ali, e Ele só entrará se for convidado pela fé. “Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e cearei com ele e ele comigo” (Ap. 3.20).

Pela misteriosa operação do espírito no novo nascimento, aquilo que Pedro chama de “natureza divina” penetra o âmago do coração daquele que crê e ali estabelece morada. “Se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele”, pois “o próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus” (Rm. 8.9, 16). Estes são os verdadeiros cristãos, e somente estes.

O batismo, a declaração de fé, a participação nos memoriais, ser membro de igreja – estas coisas nada significam, a não ser que também seja realizado o ato supremo de Deus na regeneração. As práticas religiosas externas podem ter sentido para a alma habitada por Deus; para outras quaisquer elas não somente são inúteis, mas de fato podem ser verdadeiras armadilhas, levando as pessoas enganosamente a um falso e perigoso senso de segurança.

“Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração” é mais que um sábio pronunciamento; é uma solene incumbência dada a nós por Aquele que tem o máximo cuidado de nós. A isto devemos dar a mais perfeita atenção, para que possamos viver uma vida perfeita com Deus.

segunda-feira, 20 de maio de 2013



O CHAMAMENTO DE CRISTO

Ser chamado para seguir a Cristo é uma elevada honra; na verdade, mais elevada que qualquer honra que os homens possam dar uns aos outros.

Se todas as nações da terra se unissem formando uma grande federação e chamassem um homem para chefiá-la, esse homem teria honra superior a todo e qualquer homem que já viveu. Contudo, o mais humilde homem que ouve o chamamento para seguir a Cristo tem honra superior à daquele homem; pois as nações da terra só poderiam dar essa honra dentro dos limites de seu potencial, ao passo que a honra de Cristo é absolutamente suprema. Deus lhe deu um nome que está acima de todo nome.

Sendo esta a verdade, e sabendo disso as pessoas familiarizadas com as coisas lá do alto, vemos que os métodos, que muitas vezes são empregados, para convencer os homens a seguirem a Cristo nos parecem extremamente ilógicos, se não francamente errados.

Há cristãos conservadores que comumente oferecem Cristo à humanidade como uma panacéia para curar os seus males, uma saída para os seus problemas, um meio fácil e rápido para a obtenção dos seus objetivos pessoais. A mensagem é apresentada de maneira que deixa o ouvinte com a impressão de que se lhe pede que renuncie muito para ganhar mais. E isso não é bom, por melhor que seja a intenção.

O que fazem é precisamente o que faz um bom vendedor quando apresenta a excelência da sua mercadoria comparando-a com a do seu competidor mais combativo. O Freguês escolhe a melhor das duas, pois quem não o faria? Mas existe um ponto que transparece em toda técnica de venda: a idéia de lucro egoísta está presente na transação toda.

Jesus Cristo é um homem que veio salvar homens. Nele a natureza divina uniu-se à nossa natureza humana, e onde quer que exista natureza humana, ali está a matéria prima da qual Ele produz seguidores e santos. Nosso senhor não discrimina classes sociais, altas ou baixas, ricos ou pobres, velhos ou jovens, homem ou mulher: todos são seres humanos, e todos são semelhantes a Ele. Seu convite dirige-se à humanidade toda.

No tempo do Novo Testamento, pessoas de muitos e diferentes níveis sociais ouviram Seu chamado e atenderam: Pedro o pescador; Levi o funcionário público; Lucas o médico, Paulo o erudito; Maria a possessa; Lídia a comerciante; Sérgio Paulo o estadista. Umas poucas personalidades de vulto e muitas pessoas comuns vieram a Jesus. Vieram e o Senhor as recebeu todas do mesmo modo e nos mesmos termos.

De qualquer profissão ou ocupação, os homens e as mulheres podem vir, se quiserem. É simples a regra: Se a ocupação é boa, continue nela, se desejar; se é má, abandone-a logo e procure outra. Se o chamado inclui desligamento de todos os interesses comuns para dedicação integral à obra do Evangelho, nenhuma ocupação ou profissão, seja boa ou nobre quanto for, deverá impedir-nos de obedecer ao chamado.

Uma coisa é certa: a vocação de Cristo é sempre uma promoção. Se Cristo chamasse um rei, para deixar seu trono e pregar o Evangelho a alguma tribo de aborígines, esse rei seria elevado a uma posição superior a tudo quanto conhecera. Qualquer movimento em direção a Cristo é ascensão, e qualquer rumo que nos afaste dEle é ir para baixo.

Perante Deus e os anjos, é grande honra seguir a Cristo, o que não o é perante os homens. O Cristo que agora o mundo finge honrar, outrora foi rejeitado e crucificado pelo mesmo mundo. O grande santo só recebe honra depois de sua morte. Raramente é reconhecido como tal enquanto vive na terra. As homenagens e os aplausos do mundo chegam tarde demais, quando ele já não pode ouvi-los; e talvez seja melhor assim. Não muitos são bastante livres do egoísmo para suportar as honras sem prejudicar suas almas.

Naqueles primeiros dias na Galiléia, os seguidores de Cristo ouviram o Seu chamamento, abandonaram a antiga vida, ligaram-se a Ele, começaram a obedecer Seus ensinamentos e se juntaram ao Seu grupo de discípulos. Esta entrega total foi a confirmação de sua fé. Nada menos que isso o seria.

E não é diferente hoje. Cristo nos chama para deixarmos a velha vida e começar a nova. É preciso que não haja vácuo nenhum, nenhum lugar neutro no qual o mundo possa identificar-nos. Pedro a aquecer-se ao pé da fogueira do mundo e procurando parecer despreocupado é um exemplo da espécie de discipulado pela metade com o qual muitos estão satisfeitos.

O mártir, saltando para a arena e exigindo que o lancem aos leões junto com os seus sofredores irmãos na fé, é um exemplo da única espécie de dedicação que Deus aprova. 

segunda-feira, 13 de maio de 2013


O SENHORIO DO HOMEM JESUS É BÁSICO

Paira sobre a igreja atual a constante tentação de substituir o Cristo do Novo Testamento por outro. Toda a tendência da religião moderna é para essa substituição.

Para evitar isso, temos de apegar-nos com firmeza ao conceito de Cristo como está exposto clara e simplesmente nas Escrituras da verdade. Seguir o conselho de Paulo quando diz: Ainda que um anjo do céu pregue algo que seja menos que o Cristo dos apóstolos, seja considerado anátema e, por isso, rejeitado veementemente.

A poderosa e revolucionária mensagem da Igreja Primitiva era que um homem chamado Jesus, que fora crucificado, agora havia ressuscitado dos mortos e havia sido exaltado à destra de Deus. “Esteja absolutamente certa, pois, toda a casa de Israel de que a este Jesus que vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo”.

Menos de trezentos anos após o Pentecostes, os defensores da fé redigiram um manifesto sintetizando os ensinos do Novo Testamento referentes à natureza de Cristo. Este manifesto declara que Cristo é “Deus da substância de Seu Pai, gerado antes de todas as eras; homem da substância da Sua mãe, nascido no mundo; perfeito Deus e perfeito homem, tendo uma alma racional e carne humana; igual ao Seu Pai, no tocante à sua divindade; menos que o Pai no tocante à Sua humanidade.

Mesmo entre os que reconhecem a divindade de Cristo, muitas vezes há o erro de não se reconhecer a Sua humanidade. Somos rápidos em afirmar com segurança que quando Ele andou pela terra, era Deus com os homens, mas omitimos a verdade igualmente importante, de que onde Ele está assentado agora, em Seu trono, Ele é homem com Deus.

O ensino do Novo Testamento é que agora, neste exato momento, há um homem na glória, que compareceu à presença de Deus por nós. Ele é um homem tão certamente como o foi Adão ou Moisés ou Paulo. É um homem glorificado, mas a Sua glorificação não O desumanizou. Ele é hoje um homem real da raça da humanidade, levando nossos traços e dimensões, homem visível e audível que qualquer outro homem o reconheceria imediatamente como um de nós.

Mais do que isso, porém, Ele é o herdeiro de todas as coisas, o Senhor de todos os mundos, a cabeça da igreja e o primogênito da nova criação. É o caminho para Deus, a vida do crente, a esperança de Israel e o sumo sacerdote de todo o verdadeiro adorador. Ele tem em Suas mãos as chaves da morte e do inferno, e se levanta como o advogado e o fiador de todo aquele que n’Ele crê verdadeiramente.

Este é, em resumo, o Cristo que pregamos aos pecadores como seu único meio de fuga da ira vindoura. Nele repousam as mais nobres esperanças e sonhos dos homens. Todos os anseios pela imortalidade que surgem e se inflamam no coração humano se cumprirão n’Ele – ou nunca terão cumprimento. Não há outro caminho (João 14.6): “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, a não ser por mim”.

A salvação vem, não por aceitar a “obra consumada” ou “por decidir-se por Cristo”. Vem pela fé no Senhor Jesus Cristo, o Senhor completo, vivo, vitorioso, que, como Deus e homem, empreendeu a nossa luta e a ganhou, aceitou como Sua a nossa dívida e pagou-a, tomou sobre Si os nossos pecados e morreu por causa deles, e ressuscitou para nos tornar livres. Este é o Cristo verdadeiro, e menos que isso de nada valerá.

Mas há entre nós algo que é menos, não obstante, e faremos bem em identificá-lo. Trata-se de uma ficção poética, um produto da imaginação romântica e da fantasia religiosa sentimental. É um Jesus gentil, do mundo dos sonhos, tímido, meigo, quase efeminado, e maravilhosamente adaptável a qualquer sociedade em que se ache.

É patrocinado por mil e uma celebridades e recomendado por psiquiatras como um modelo de personalidade bem integrada. Ele é usado como um meio para quase todos os fins carnais, mas nunca é reconhecido como senhor. Estes cristãos irreais seguem um Cristo irreal. Querem Seu auxílio, mas não querem a Sua interferência. Eles o bajulam, mas nunca Lhe obedecem.

O argumento dos apóstolos é que o homem Jesus foi feito mais elevado que os anjos, mais elevado que Moisés e Arão, mais elevado que qualquer criatura, na terra ou no céu. E esta posição exaltada Ele a alcançou como homem. Como Deus Ele já estava infinitamente acima de todos os outros seres.

Os primeiros cristãos criam que Jesus de Nazaré, um homem que eles conheciam, tinha sido elevado a posição de senhorio sobre o universo. Ele continuava sendo seu amigo, continuava sendo um deles, mas os tinha deixado por um pouco para comparecer à presença de Deus em favor deles. E a prova disso era a presença do Espírito Santo entre eles.

Uma importante causa da fraqueza moral da igreja hoje é uma cristologia inadequada. Pensamos em Cristo como Deus, mas não o entendemos como homem glorificado. Para reconquistar o poder da Igreja Primitiva, temos de crer no que aqueles cristãos criam. Eles criam que tinham um homem aprovado por Deus a representá-los no céu.












segunda-feira, 6 de maio de 2013


POR QUE ALGUNS ACHAM DIFÍCIL A BÍBLIA

Os que estão familiarizados com os fatos não negam que muitos acham a Bíblia difícil de entender. Testemunhos das dificuldades encontradas na leitura da Bíblia são muito numerosos e demasiadamente difundidos, para serem postos de lado ligeiramente.

Na experiência humana, para tudo existe um complexo de causas, e não apenas uma. Assim é com a dificuldade com que nos deparamos na Bíblia. À pergunta, por que é difícil entender a Bíblia? Não se pode dar resposta num abrir e fechar de olhos; a resposta pronta certamente será a resposta errada. O problema é múltiplo e, por essa razão, o esforço para encontrar uma solução única para ele será decepcionante.

Mesmo diante dessa dificuldade, aventuro-me a dar uma curta resposta à questão e, embora não seja a resposta completa, é uma resposta importante e provavelmente traz em seu bojo uma explicação interessante: Creio que achamos a Bíblia difícil porque tentamos lê-la como lemos qualquer outro livro, e a Bíblia não se assemelha a nenhum outro livro.

A Bíblia não se dirige a qualquer um. Sua mensagem é dirigida a uns poucos escolhidos. Se estes poucos são escolhidos por Deus num ato soberano de eleição, ou se são escolhidos porque preenchem certas condições que os qualificam, deixo a cada qual decidir como quiser, sabendo muito bem que a sua decisão será determinada por suas crenças básicas acerca de matérias como predestinação, livre-arbítrio, os decretos eternos e outras doutrinas correlatas.

Mas, seja o que for que tenha acontecido na eternidade, o que acontece no tempo é obvio: Uns crêem, outros não; uns são moralmente receptivos, outros não; uns têm capacidade espiritual, outros não. Aos que crêem, são escolhidos e têm o Espírito é que a Bíblia se dirige. A sua leitura será vã para os que não crêem, não são e não tem.

Neste ponto só posso esperar fortes objeções de alguns leitores, por razões não difíceis de entender. O cristianismo atual está centralizado no homem, não em Deus. Deus é posto a esperar pacientemente, até mesmo respeitosamente, pelos caprichos dos homens. A imagem que a maioria tem de Deus é a de um Pai inquieto a lutar desesperadamente para conseguir que as pessoas aceitem um Salvador do qual elas não sentem nenhuma necessidade e por quem elas têm pouquíssimo interesse.

Para persuadir estas almas auto-suficientes a responder afirmativamente às Suas generosas ofertas, Deus fará quase tudo, usando até os métodos de barganha e fazendo descer ao nível delas a Sua linguagem, da maneira mais camarada que se possa imaginar. Naturalmente, este modo de ver as coisas é uma espécie de romantismo religioso que arranja as coisas para fazer do homem o astro do espetáculo.

A noção de que a Bíblia é dirigida a toda gente tem produzido confusão dentro e fora da igreja. O esforço para aplicar o ensino das doutrinas principais às nações não regeneradas do mundo é um exemplo disto. Citar as palavras e os ensinos de Cristo a certas autoridades policiais, juízes, generais e governantes poderosos, sem a graça de Deus é, na maioria das vezes, “lançar pérolas aos porcos”.

As palavras de Cristo, repassadas de Sua graça, são para os filhos e filhas da graça, não para as nações pagãs. Deus não somente dirige as Suas palavras da verdade aos que têm competência para recebê-las; Ele de fato oculta o seu significado à multidão. O pregador usa suas historietas para tornar clara a verdade; o Senhor freqüentemente as usava para obscurecê-la. As parábolas de Cristo eram o oposto da moderna “ilustração”, cujo propósito é iluminar; as parábolas eram “dizeres obscuros” e Cristo afirmou que às vezes as utilizava de modo que os Seus discípulos as pudessem entender e Seus inimigos não.

O poder salvador da palavra está reservado para aqueles aos quais visa. O segredo do Senhor está com os que o temem. Pode-se compreender filosofia sem passar pelo arrependimento; pode-se compreender Platão sem crer numa só palavra dita por ele; mas o arrependimento e a humildade, juntamente com fé e obediência, são necessários para um reto entendimento das Escrituras.

O homem natural precisa conhecer para crer; o homem espiritual precisa crer para conhecer. A fé que salva não é fruto de uma conclusão deduzida de prova; é algo moral, uma coisa do Espírito, uma sobrenatural infusão de confiança em Jesus Cristo, um verdadeiro dom de Deus.

A fé que salva descansa na pessoa de Cristo; leva imediatamente a uma entrega do ser total a Cristo, ato impossível ao homem natural. Crer retamente é tão miraculoso como a saída de Lázaro da sepultura, por ordem de Cristo.

A Bíblia é um livro sobrenatural e só pode ser compreendido com auxílio sobrenatural.
   

segunda-feira, 29 de abril de 2013


FÉ: DOUTRINA MAL COMPREENDIDA

No esquema divino de salvação, a doutrina da fé é central. Deus dirige as Suas palavras à fé, e onde não há fé, nenhuma revelação é possível. “Sem fé é impossível agradar a Deus”.

Todo e qualquer benefício decorrente da expiação de Cristo vem ao indivíduo através do portal da fé. O perdão, a purificação, a regeneração, o Espírito Santo; todas as respostas à oração, são dados à fé e recebidos pela fé. Não há outro caminho. Essa é uma doutrina comum aos evangélicos e é aceita onde quer que haja compreensão da cruz de Cristo.

Porque a fé é tão vital para todas as nossas esperanças, tão necessária para o cumprimento de toda aspiração dos nossos corações, não nos atrevemos a tomar coisa nenhuma como líquida e certa no que lhe diz respeito. Uma coisa que traz consigo tanto bem ou tanto mal que, na verdade, decide o nosso céu ou nosso inferno, é importante demais para ser negligenciada. Simplesmente é preciso que não nos permitamos ficar sem informação ou mal informados. Temos de saber.

Já faz alguns anos, meu coração tem estado inquieto quanto à maneira como a doutrina da fé recebida e ensinada entre os cristãos em toda a parte. Nos círculos cristãos, grande ênfase é dada à fé. E isso é bom; mas continuo inquieto. Especificamente, o que temo é que o conceito moderno da fé não é bíblico; que, quando os mestres de nossos dias empregam a palavra fé, não lhe dão o sentido que os escritores da Bíblia lhe deram quando a empregaram.

Estas são as causas da minha intranqüilidade:
1.      A falta de fruto espiritual nas vidas de muitos que dizem que têm fé.
2.    A raridade com que ocorre radical mudança na conduta e na perspectiva geral das pessoas que professam sua nova fé em Cristo como seu Salvador pessoal.
3.    O defeito dos nossos mestres quanto a definir ou mesmo descrever aquilo a que se supõe que a palavra fé se refere.
4.    A desanimadora frustração de multidões de interessados que, por zelosos que sejam, nada conseguem extrair da doutrina e nenhuma experiência satisfatória recebem por meio dela.
5.     O real perigo de que uma doutrina tão amplamente papagueada e recebida tão acriticamente por tantas pessoas, seja falsa, nos termos em que a compreendem.
6.    Tenho visto a fé ser colocada como um substituto da obediência, uma fuga da realidade, um refúgio para a evasão da necessidade de pensar com seriedade, um abrigo para as personalidades fracas. Conheço gente que confunde fé com bom humor meramente animal, com otimismo natural, com vibrações emocionais e com tiques nervosos.
7.     O puro senso crítico deveria dizer-nos que qualquer coisa que não opere mudança no homem que a professa, tampouco faz qualquer diferença para Deus, e é um fato facilmente observável que, para incontável número de pessoas, a mudança da ausência de fé para a fé não faz nenhuma diferença real na vida.

Talvez nos ajude a saber o que é a fé observar primeiro o que não é. Não é acreditar numa afirmação que sabemos que é verdadeira. A mente humana é estruturada de tal maneira que, necessariamente, tem de acreditar quando a prova a ela apresentada é convincente. Não pode evitá-lo. Quando a prova não convence, não é possível fé alguma. Ameaças e punições não conseguem compelir a mente a crer contra as claras evidências.

A fé baseada na razão é um tipo de fé, é certo; mas não é conforme o caráter da fé bíblica, pois segue infalivelmente a demonstração das provas e nada contém de uma natureza moral ou espiritual. Tal fé nada mais é do que a conseqüência de uma argumentação com provas do que fruto de uma convicção moral.

A fé verdadeira firma-se no caráter de Deus e não pede mais provas que as perfeições morais daquele que não pode mentir. Basta que Deus fale e, se a Sua declaração contradisser cada um dos cinco sentidos e também todas as deduções da lógica, ainda o crente continuará a crer. “Seja Deus verdadeiro, e mentiroso todo homem”, é a linguagem da fé verdadeira. O céu aprova tal fé, porque ela se ergue acima das meras provas e repousa no coração de Deus.

A fé, como a Bíblia a conhece, é confiança em Deus e em Seu Filho Jesus Cristo; é a resposta da alma ao Ser divino revelado nas Escrituras; e mesmo essa resposta é impossível sem a ação interna do espírito Santo. A fé é dom de Deus à alma penitente, e absolutamente nada tem que ver com os sentidos ou com os dados fornecidos por eles.

A fé é um milagre; é a capacidade que Deus dá ao homem para confiar em Seu Filho, e aquilo que não resulte em ação conforme a vontade de Deus não é fé, mas algo diferente.

Qualquer fé que professar Cristo Jesus como Salvador pessoal e não colocar a vida do crente sob plena obediência a Cristo como Senhor é inadequada e só poderá trair sua vítima no final. O homem que crê, obedece; não obedecer é dar prova convincente de que não está presente a fé verdadeira.

Para tentar o impossível, ou Deus dá a fé ou não haverá nenhuma, pois Ele somente dá a fé ao coração obediente. Onde há arrependimento real, há obediência; pois o arrependimento não é apenas tristeza por erros e pecados passados, mas a determinação de começar a fazer agora a vontade de Deus por Ele revelada a nós.


segunda-feira, 22 de abril de 2013


A RELIGIÃO VERDADEIRA NÃO É EMOÇÃO, MAS VONTADE

Uma das questões enigmáticas que, mais cedo ou mais tarde, tendem a inquietar o cristão sincero é como pode ele cumprir o mandamento bíblico que exige que ame a Deus de todo o coração e ao próximo como a si mesmo.

O cristão zeloso pode experimentar um sentimento de frustração quando reconhece que nem sempre ele tem um sentimento emocional entusiasmado por seu Senhor ou por seus irmãos em Cristo. Deseja fazê-lo, mas não pode. As emoções positivas simplesmente não fluem.

Muitas pessoas sinceras ficam desanimadas com a ausência de emoção religiosa e acabam concluindo que, afinal, não são cristãs. Concluem que devem ter perdido rumo em algum ponto do caminho e que sua religião é pouco mais que uma crença vazia. Assim, por algum tempo, censuram-se por sua frieza e finalmente caem num estado de melancólico desalento, mal sabendo o que pensar.

Crêem em Deus; na verdade, confiam em Cristo como seu salvador, mas o amor que esperavam sentir, persistentemente se lhes escapa. Qual será o problema?
Não é um problema simples. Envolve uma dificuldade real, dificuldade que pode ser exposta em forma de pergunta: Como posso amar por mandamento? De todas as emoções de que é capaz a alma humana, o amor é, de longe, a mais livre, a mais irrazoável, a que tem menos probabilidade de surgir ao chamado do dever ou da obrigação, e certamente é a emoção que não se sujeitará à voz de comando de outrem.

Jamais se decretou lei capaz de compelir um ser moral a amar outro, pois, por sua própria natureza, o amor tem de ser voluntário. Ninguém pode ser levado a amar alguém por coação ou pelo medo. Não é dessa maneira que o amor vem. Daí, que havemos de fazer com o mandamento do Senhor que nos ordena amar a Deus e ao próximo?

Para responder a essa questão, é preciso saber que existem duas classes de amor: o amor do sentir e o amor do querer. O primeiro firma-se nas emoções, o segundo, na vontade. Temos pouco domínio sobre o primeiro. Ele vem e vai, levanta-se e cai, mostra-se deslumbrante e desaparece como lhe apraz, e passa de fervente a quente e a frio, e de novo quente, lembrando as variações do tempo.

Não era esse amor que estava na mente de Cristo quando Ele disse aos Seus que amassem a Deus e uns aos outros. Querer mandar que este caprichoso tipo de afeto visite nossos corações é o mesmo que mandar uma borboleta pousar em nosso ombro e ali ficar.

O amor que a Bíblia nos impõe não é o amor do sentir; é o amor do querer, a tendência voluntária do coração. Jamais foi da intenção de Deus que um ser como o homem fosse um joguete dos seus sentimentos. A vida emocional é uma parte válida e nobre da personalidade total, mas, por sua própria natureza, tem importância secundária. Como a retidão, a religião firma-se na vontade. A única bondade que Deus reconhece é a bondade exercida pela vontade; a única santidade válida é a santidade exercida pela vontade.

Para satisfazer as exigências do amor a Deus, a alma precisa simplesmente querer amar, e o milagre começa a florescer como a vara de Arão. A vontade é o piloto automático que mantém a alma na rota. Uma bendita verdade é que a vontade, não os sentimentos, determina a direção moral.

Para amar a Deus de todo o nosso coração precisamos, antes de tudo, querer fazê-lo. Devemos arrepender-nos da falta de amor e, deste momento em diante, determinar-nos a fazer de Deus o objeto da nossa devoção. Devemos ler as escrituras com devoção todo dia e lhes obedecer com espírito de oração, sempre querendo com firmeza amar a Deus de todo o nosso coração e ao próximo como a nós mesmos.

Se agirmos assim, podemos estar certos de que experimentaremos uma esplêndida mudança em toda a nossa vida interior. Nossa afeição religiosa começará a elevar-se sobre asas firmes e constantes, em vez de esvoaçar para cá e para lá ociosamente, sem propósito ou sem direção inteligente.
Mas a primeira coisa que temos de fazer é querer, pois a vontade é o fator decisivo que comanda o nosso coração.

quinta-feira, 18 de abril de 2013


A IRA DE DEUS

Raramente há algo de bom na ira humana. Quase sempre ela brota de sentimentos que nada têm de santos, e muitas vezes leva a maldições e violência. O homem de mau gênio é imprevisível e perigoso, e normalmente os homens de paz e de boa vontade o evitam.

Entre os mestres religiosos dos dias atuais há uma forte tendência para dissociar a ira do caráter divino e para defender Deus em suas explicações das passagens bíblicas que relacionam a ira com a Sua pessoa. Isto é compreensível, mas à luz da completa revelação de Deus, essa atitude é indesculpável.   

Em primeiro lugar, Deus não precisa de defesa. Os mestres que estão tentando fazer Deus à sua imagem poderiam ocupar-se melhor procurando fazer-se a si mesmos à imagem de Deus. Nas escrituras “Deus falou todas estas palavras”, e não existe um critério independente pelo qual julgar a revelação que Deus faz concernente a Si próprio.

A recusa de muitos, a aceitar a doutrina da ira de Deus, faz parte de um esquema maior de incredulidade que começa com a dúvida a respeito da veracidade das Escrituras Cristãs. Deixe que um homem questione a inspiração das Escrituras, e uma curiosa inversão, monstruosa mesmo, tem lugar: daí por diante ele julga a Palavra, em vez de deixar que a Palavra o julgue; ele determina o que a Palavra deve ensinar, em vez de permitir que ela determine o que ele deve crer; ela a revisa, emenda, corta, faz acréscimos a seu bel-prazer; mas sempre se põe acima da Palavra e a faz submissa a si, em vez de ajoelhar-se diante de Deus e fazer-se submisso à Palavra.

O intérprete demasiado sensível, que procura proteger Deus das implicações da Sua Palavra, está empenhado num esforço inútil e inconveniente, que só poderá ser completamente desperdiçado.

O cristão maduro e instruído na verdade sabe que a ira de Deus é uma realidade, que a Sua ira é tão santa como o Seu amor, e que entre o Seu amor e a Sua ira não há incompatibilidade. Ele sabe o que a ira de Deus é e o que não é. Para compreendermos a ira de Deus, precisamos examiná-la à luz da Sua santidade. Deus é santo e faz da santidade a condição moral necessária para a saúde do Seu universo.

A presença temporária do pecado no mundo só acentua isso. Tudo que é santo é saudável; o mal é uma doença moral que finalmente terá de acabar em morte. Desde que o primeiro interesse de Deus por Seu universo é sua saúde moral, isto é, a sua santidade, tudo quanto a contrarie estará necessariamente sob Seu eterno desagrado. Sempre que a santidade de Deus confronta o que não é santo, há conflito.

A atitude e a ação de Deus neste conflito são a Sua ira. Para preservar a Sua criação, Deus tem de destruir tudo o que ameaça destruí-la. Quando Ele se levanta para impor destruição e para salvar o mundo de um irreparável colapso moral, diz-se que Ele está irado. Todo julgamento de Deus na história do mundo, em Sua ira, é um santo ato de preservação.

A santidade de Deus, a ira de Deus e a saúde da criação são inseparavelmente unidas. Não só é direito de Deus mostrar ira contra o pecado, mas eu acho impossível entender como Ele poderia agir de outro modo. A ira de Deus é Sua total intolerância a tudo aquilo que é degradante e destrutivo. Ele odeia a iniqüidade como a mãe odeia a doença que ameaça seu filho.

Quando Deus adverte os homens da Sua ira iminente e os exorta a arrepender-se e evitá-la, Ele se expressa numa linguagem que a humanidade pode compreender, dizendo-lhes: “Fugi da ira vindoura”. Noutras palavras, diz Ele:

“A tua vida é má e, porque é má, és um inimigo da saúde moral da minha criação. Tenho de extirpar tudo que poderia destruir o mundo que eu amo. Arrepende-te do mal antes que Eu me levante irado contra ti. Eu te amo, mas odeio o pecado que tu amas. Aparta-te do mal, antes que eu envie o juízo contra ti”.


segunda-feira, 15 de abril de 2013


A SOBERANIA DE DEUS

A soberania de Deus é um atributo pelo qual Ele domina sobre toda a criação. Para ser soberano, Deus tem de ser onisciente, onipotente e absolutamente livre. As razões para isso são as seguintes:
Se houvesse uma parcela de conhecimento, por menor que fosse, desconhecida de Deus, Seu domínio iria falhar nesse ponto. Para ser Senhor de toda a criação, Ele tem de possuir todo o conhecimento. Se um pequeno, infinitesimal grau de poder faltasse a Deus, essa falta acabaria com o Seu reino; esse único átomo de poder extraviado pertenceria a outro, e Deus seria um governante limitado, e não soberano.

A concepção de liberdade sem limites exige um esforço vigoroso da mente. O nosso conceito de liberdade foi formado num mundo em que não existe a liberdade absoluta, e onde cada objeto natural depende de muitos outros objetos, sendo que essa dependência limita nossa liberdade.

Ser livre como um pássaro, não é ser livre. Os naturalistas sabem que as aves supostamente livres vivem numa gaiola de temor, fome e instinto; sendo limitadas pelas condições climáticas, suprimentos de alimento no local, animais predadores, e a mais estranha das algemas: a compulsão de permanecer dentro do pequeno território onde vive. A ave mais livre, como toda coisa criada, está presa a uma rede de necessidades. Só Deus é livre.

Deus é totalmente livre porque ninguém e nada poderão impedi-Lo, compeli-Lo ou fazê-Lo parar. Ele pode sempre fazer a que Lhe agrada, em todo lugar e eternamente. Para ser assim livre, deve possuir também autoridade universal. Sabemos pelas Escrituras que Seu poder não tem limites, e também podemos deduzir isso de outros dos Seus atributos. Mas, que dizer de Sua autoridade?

Um problema criado pela doutrina da soberania está ligado com a vontade do homem. Se Deus rege a Seu universo soberanamente, como pode o homem exercer seu livre-arbítrio? E se não tem liberdade de escolha, como pode ser responsável pela sua conduta? Não seria ele apenas um boneco cujas ações são determinadas por um Deus, atrás do palco, que puxa as cordas conforme quer?

A tentativa de responder a essas questões dividiu a igreja em dois campos que respondem pelo nome de dois distintos teólogos, Jacobus Arminius e João Calvino. A maioria dos cristãos se contenta em oscilar entre esses dois campos: ou negam a soberania de Deus, ou negam o livre- arbítrio do homem. No entanto é possível reconciliar essas duas posições sem violentarmos uma ou outra, embora o esforço seguinte possa parecer deficiente aos partidários de um ou de outro campo.

O meu ponto de vista é o seguinte: Deus soberanamente decretou liberdade ao homem para exercer escolha moral, e desde o princípio o homem tem cumprido esse decreto escolhendo entre o bem e o mal. Quando escolhe o mal, não anula a vontade soberana de Deus, mas a cumpre, pois Deus não determinou qual seria a escolha do homem, e sim que ele teria liberdade de escolha. A vontade do homem é livre porque Deus é soberano. Um Deus menos soberano não poderia outorgar às Suas criaturas a liberdade moral. Teria medo de fazê-lo.

A liberdade do homem e a soberania de Deus não se contradizem. O propósito soberano de Deus mantém firme o seu curso através da história. Deus se move, imperturbável e sem obstáculos em direção ao cumprimento de Seus objetivos eternos em Cristo Jesus, os quais foram definidos antes da fundação do mundo.

Sabemos que Deus cumprirá cada promessa feita aos profetas; sabemos que os pecadores serão um dia eliminados da terra; sabemos que os remidos entrarão no gozo do Senhor e que os justos resplandecerão no reino de seu Pai; sabemos que a perfeição de Deus ainda virá a ser aclamada universalmente, que toda a inteligência criada reconhecerá Jesus Cristo como Senhor, para a glória de Deus Pai, e que a presente ordem imperfeita desaparecerá, e um novo céu e uma nova terra serão estabelecidos eternamente.

Se reduzirmos tudo a termos individuais, chegamos a algumas conclusões de vital importância a altamente pessoais. No violento conflito moral que agora se processa atingindo a todos, quem estiver do lado de Deus está do lado vencedor e não poderá perder; quem estiver do outro lado está do lado perdedor e não poderá vencer. Não há chance nem acaso.

Há liberdade de escolha quanto ao lado em que lutaremos, mas não poderemos modificar os resultados da escolha, uma vez feita. Pela misericórdia de Deus podemos nos arrepender duma escolha errada e alterar as suas conseqüências, fazendo nova e acertada escolha. Além disso nós não podemos ir.

Toda a questão da escolha moral se concentra em Jesus Cristo. Ele definiu claramente: “Quem não é por mim e contra mim”, e “Ninguém vem ao Pai senão por Mim”. Temos de decidir se obedeceremos ao evangelho ou nos afastaremos dele, incrédulos, rejeitando a sua autoridade. A escolha é nossa, mas as conseqüências já foram determinadas pela vontade soberana de Deus, e dela não poderemos apelar.   

segunda-feira, 8 de abril de 2013


QUE FAZER DO DIABO

A natureza humana tende a excessos, por uma espécie de maligna atração magnética. Instintivamente corremos de um extremo a outro, razão por que muitas vezes estamos no erro.

Uma prova desta propensão para os extremos se vê na atitude do cristão vulgar para com o diabo. Tenho observado entre pessoas espirituais a tendência ou de ignorá-lo totalmente ou de levá-lo demasiadamente em conta. Ambas as atitudes são erradas.

Há no mundo um inimigo que não nos atrevemos a ignorar. Vemo-lo primeiro no capítulo três de Genesis e por fim no capítulo vinte de Apocalipse. Quer dizer que ele estava presente no princípio da história humana e presente estará no seu término terreno.

Este inimigo não é criação da fantasia religiosa, nem simples personificação do mal por conveniência, mas é um ser tão real como o próprio homem. A Bíblia lhe atribui qualidades pessoais muito pormenorizadas para serem figuradas, e o mostra falando e agindo em situações concretas e práticas, muito distantes da imaginação poética.

As Escrituras declaram que o diabo é inimigo de Deus e de todos os homens de bem. É descrito como mentiroso, enganador e assassino, que procura atingir seus fins mediante fraude e embuste. Como é um espírito, pode “rodear a terra, e passear por ela”, a seu bel-prazer. Embora não seja onipresente (a onipresença é atributo de Deus somente), é alguém que procura se movimentar na história, como se o fosse, na tentativa de alcançar seus propósitos.

O inimigo tem muitos nomes, dentre os quais os de dragão, serpente, diabo e Satanás. Em acréscimo a este ser maligno, existem demônios, “principados”, “potestades”, “dominadores deste mundo tenebroso”, “forças espirituais do mal, nas regiões celestes”, que operam sob a sua direção. Quanto sucesso este bando de foras-da-lei cósmicos tem tido está escrito na história humana com pena mergulhada em sangue.

O estrago feito por eles na terra é tão horrendo que excede todo o poder de descrição. Todos os jornais e todos os noticiários do rádio e da TV são provas da existência desse gênio mau chamado diabo e do seu bando de espíritos corrompidos, dedicados à destruição.
Satanás odeia a Deus e odeia tudo que é caro a Deus, pela simples razão de que Deus ama isso. Porque o homem foi feito à imagem de Deus, o ódio com que Satanás o vê é particularmente malévolo, e desde que o cristão é duplamente caro a Deus, é odiado pelos poderes das trevas com redobrada fúria, provavelmente sem igual em todo e qualquer ponto do universo moral.

Em vista disso, não pode ser menos que loucura nós, cristãos, ficarmos desatentos à realidade e à presença do inimigo. Viver num mundo em estado de sítio é viver em constante perigo. Viver num mundo assim e estar totalmente inconsciente do perigo, é aumentá-lo cem vezes e transformar o mundo num paraíso para loucos.

Da mesma forma que não devemos subestimar a força do adversário, devemos ao mesmo tempo ter o cuidado de não cair em seu fascínio e viver sempre com medo dele. “Não lhe ignoramos os desígnios”. Se ele não conseguir nos fazer desacreditar de sua existência, tentará nos fazer cientes dele, e assim lançará uma sombra permanente sobre nossas vidas.
Apenas uma linha fina como um fio de cabelo separa a verdade da superstição. Devemos aprender a verdade sobre o inimigo, mas devemos evitar a superstição de que ele é onipotente. A verdade nos fará livres, mas a superstição nos escravizará.

Conheço cristãos que se acham tão absorvidos na luta contra os maus espíritos, que vivem num estado de constante inquietação. Este patético esforço para manter o diabo encurralado os deixa com esgotamento nervoso e físico, e eles pelejam para continuar vivendo em frenética repreensão do diabo em nome de Cristo. Ficam a cada dia mais sensíveis e desconfiados, sempre tentando localizar um mau espírito como a causa que está por trás de tudo que os irrita.

O mal disso tudo é que esse comportamento é contagioso e depressa torna uma igreja alegre e fiel na adoração a Deus em uma multidão de gente alarmada e excitada, gente nervosa e completamente infeliz.

O modo bíblico de ver as coisas é colocar o Senhor sempre diante de nós. É pôr Cristo no centro de nossa visão, e se Satanás estiver rondando e espionando, só aparecerá na margem e será visto como uma sombra na margem do resplendor. É sempre errado inverter isto – pôr Satanás no centro focal da nossa visão e empurrar Deus para a margem. Nada senão tragédia pode provir de tal inversão.

O melhor meio de manter o inimigo fora é manter Cristo dentro. As ovelhas não precisam ser aterrorizadas pelo lobo; basta que fiquem perto do pastor. Não é a ovelha em oração que Satanás teme, mas a presença do pastor que é Cristo. O cristão instruído, cujas faculdades se desenvolveram mediante a Palavra e o Espírito, não temerá o diabo. Se for preciso, ele se levantará contra os poderes das trevas e os dominará pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do seu testemunho.

Reconhecerá o perigo em que vive e saberá o que fazer a respeito, mas experimentará a presença de Deus e nunca permitirá que Satanás tenha lugar em sua vida e em seus pensamentos.  

segunda-feira, 1 de abril de 2013


A QUEM ENVIAREI?

“Depois disto ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei, e quem há de ir por nós? Disse eu: Eis-me aqui, envia-me a mim” (Isaías 6:8).

Podemos notar claramente na Bíblia que Deus necessita do homem, de sua cooperação a fim de realizar seu plano eterno. Nos seis dias da criação, o homem é o centro da obra de Deus. Depois de criar o homem, Deus descansa; pois sem o homem não pode descansar.

Embora mais tarde o homem caia, o propósito de Deus para ele não é mudado. Deus ainda deseja tê-lo como cooperador. A salvação, edificação e a maturidade espiritual do homem nesta vida são para satisfazer a necessidade de Deus. Pode-se dizer que na obra de Deus não há ocasião quando o homem não participa. O homem é chamado para operar juntamente com Deus; Ele trabalha juntamente com o homem.

Ao examinarmos de Gênesis ao Apocalipse veremos que Deus está sempre procurando, sempre guiando e utilizando o homem como canal para sua obra. Antes de fazer a obra, primeiro consegue o homem certo. Se não puder obtê-lo, Ele não poderá fazer a obra.

É evidente, pela história de Noé e da arca, que durante os dias de Noé o Senhor queria salvar os homens. Mas se não encontrasse Noé, não tinha jeito de realizar o Seu propósito. Deus precisava encontrar um Noé – precisava encontrar uma pessoa que tivesse a sua mente e que com Ele andasse. 

Desejoso de ter uma arca, Deus deve encontrar alguém cujo coração se incline para Ele e que com Ele coopere de modo que possa usá-lo para construir a arca.

E depois de Deus ter encontrado em Noé o homem que estava de acordo com Ele, começou a trabalhar. Por isso dizemos que a menos que o Senhor encontre o homem, não pode trabalhar. Tal é o andar e o trabalhar do homem com Deus e de Deus com o homem.

A Bíblia está repleta de exemplos que fortalecem esse argumento. Com o advento do Novo Testamento, vemos que na vinda do Senhor a cooperação entre o homem e Deus encontra sua expressão mais pura. Quem é o Senhor Jesus? Ele é Deus feito carne. Porque homem algum no universo inteiro pode preencher o requisito de Deus para a realização de Sua obra máxima; a salvação, Deus mesmo vem para ser homem.

Embora o Senhor Jesus seja muito superior aos homens, durante seus dias na terra Ele sempre agiu como homem. Embora seja Deus, Filho de Deus, fez tudo na posição do homem. Quando, por exemplo, Jesus é tentado no deserto, Satanás declara-lhe repetidas vezes que se for o Filho de Deus ele pode fazer isso ou aquilo. Satanás tentou tirar Cristo de sua posição de homem e elevá-lo à posição de Deus. Mas a resposta de nosso Senhor Jesus é: 

“Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus” (Mateus 4.4).

 Com isso ele quer dizer: “Estou aqui para ser homem, estou sendo tentado hoje porque sou o Verbo que se tornou carne de homem; sou Jesus de Nazaré”.

O Senhor Jesus sempre se apresenta como “o Filho do homem”, indicando plenamente que enquanto na terra Ele sempre agirá como o “Filho do homem”. Isso mostra o fato de que Deus deve realizar sua obra por meio de um homem. Mas percebendo que o homem comum não poderia preencher Sua exigência, Deus enviou seu Filho amado a fim de cumprir Sua exigência e realizar Sua obra.

“A quem enviarei, e quem há de ir por nós”? pergunta Deus. O motivo pelo qual muita gente não está sendo atraída para o reino não é que Deus não deseja que se pregue pó evangelho, nem porque não tenha intenção de salvar os homens, mas porque não tem o homem ou homens que possa usar.

Muitos cristãos estão possuídos de vanglória; muitos cristãos estão envolvidos no divertimento; muitos estão ocupados demais com suas famílias; muitos são escravos do conforto. Estas pessoas preocupam-se somente com seus próprios interesses. Não têm desejo de pregar o evangelho ou fazer a obra de Deus. Muitas pessoas permanecem perdidas não porque Deus não tenha desejo de salvá-las, mas porque não cooperamos com Ele...

  O motivo pelo qual a obra de Deus é retardada é que Ele não possui o seu homem. Que possamos compreender, realmente, que o Senhor deve ter você e a mim antes de poder realizar o que deseja. 

segunda-feira, 25 de março de 2013


EVANGELHO

Evangelho quer dizer “boas novas, boas notícias”. O portador das boas notícias é Jesus de Nazaré. As boas notícias são que “o Reino de Deus chegou”. E as notícias ficam melhores ainda quando entendemos que Jardim do Éden, paraíso, céu e Reino de Deus são expressões sinônimas.

Céu e paraíso são expressões que descrevem uma condição existencial resultante de uma qualidade de relacionamento entre o ser humano e o Deus Criador. O céu é o ambiente em que a vontade de Deus é feita em perfeição, isto é, ambiente em que o Universo funciona absolutamente dentro dos padrões definidos pela natureza, a essência e o caráter do Deus Criador. É exatamente isso que é o Reino de Deus.

O evangelho de Jesus é a afirmação de que o Reino de Deus está disponível, desde já, para todos aqueles que abandonarem o reino do “eu” e abrirem mão de sua pretensão de ser, para si mesmos, o padrão de bem e de mal. Essa é a experiência que o Novo Testamento chama de arrependimento. Esse foi o chamado de Jesus: “Arrependei-vos e crede”. E porque devemos nos arrepender e crer? Simples, “porque o Reino de Deus está próximo”, isto é, o Reino de Deus está acessível, disponível. Basta crer e viver à luz dessa verdade para que, a seu redor, o caos comece a entrar em ordem, isto é, o Jardim comece a dar seus sinais.

O chamado ao arrependimento significa “mudem completamente seu jeito de viver e de fazer as coisas, creiam que os recursos de Deus estão disponíveis e que o mundo pode ser diferente”.

Essa perspectiva de céu e terra amaldiçoada dá um novo significado ao nosso conceito e nossa atitude em relação ao trabalho. O trabalho deixa de ser um castigo que acompanha a expulsão do paraíso. Na verdade, mesmo no paraíso, o ser humano tinha trabalho. Deus o colocou no paraíso para cuidar do jardim e cultivá-lo. É fato que, expulsos do paraíso e habitando uma terra amaldiçoada que produz espinhos e cardos, as coisas ficam mais difíceis. 

Mas também é fato que, quando abrimos mão da nossa pretensão de controle e dedicamos as coisas para que sobre elas venha o Reino de Deus, e a vontade de Deus seja feita fora do paraíso como é feita dentro do paraíso, o caos começa a entrar em ordem.

Construir é cooperar com Deus para colocar ordem no caos. Construir é plantar jardins no meio do caos. Esse caos pode ser seu mundo interior, seu ambiente familiar, suas relações de trabalho e a sociedade onde você vive. Não importa. O que importa é que você cumpra sua vocação de cooperar com Deus.

A partir dessa experiência, tudo o que você faz é inserido na dimensão do sagrado. Todo serviço passa a ser um ato de cooperação com Deus para a redenção do Universo. Não importa se esse serviço é falar palavras de encorajamento e de consolo para alguém em aflição, consertar um automóvel, fazer um parto, dar uma aula de matemática, fechar um balanço da empresa ou passar a manhã de sábado com os filhos no parque.

Todo trabalho realizado com devoção a Deus é também uma dádiva ao próximo e um sinal do Reino de Deus. O bispo sul-africano Desmond Tutu disse que “é por meio do trabalho que nos tornamos cooperadores de Deus”.

Talvez por isso Jesus nos advertiu que o julgamento final seria nos termos da solidariedade e da promoção da justiça: tive sede, e você me deu de beber; fome, e você me deu de comer; estive preso, e você me visitou; nu, e você me vestiu; desabrigado, e  você me deu terra para plantar, sem horizontes, e você me deu crédito; oprimido, e você foi meu advogado; era analfabeto, e você me alfabetizou; fiquei doente, e você me operou; estava na fila, e você me atendeu com dignidade; com dor de dente; e você me fez sentir alívio; desempregado, e você me deu oportunidade; triste, e você me fez rir; chorando sozinho, e você chorou comigo.

Estamos aqui para mostrar ao mundo que outro mundo é possível – que pretensão maravilhosa. Essa é a pretensão que move os cidadãos do Reino de Deus. Acreditamos que o caos pode entrar em ordem, que o deserto pode florescer e que este mundo, este lado de cá do céu, é digno de ser trabalhado. Somos vocacionados para plantar jardins.

Ó vinde, vós, os povos de todas as nações, erguei-vos e cantai com alegria.
Fazei soar nos ares a nova melodia que Jesus Cristo traz libertação.
É tempo de romper a vil escravidão que em vós exercem os homens ou idéias.
É tempo de dizer que só Deus pode ser o único Senhor da humanidade.
A verdade vos libertará, sereis em Cristo verdadeiramente livres.

Vinde todos, sim, vinde já, e celebrai com alegria a vossa libertação.
E vós os oprimidos, e vós os explorados, e vós os que viveis em agonia, e vós os cegos, coxos, vós cativos, sós, sabei que em breve vem um novo dia. Um dia de justiça, um dia de verdade, um dia em que haverá paz na terra, e que a vida vencerá a morte, e a escravidão, enfim, acabará.