segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Vivendo no Reino

É impossível contemplar Deus com o coração e a cabeça cheios de assuntos terrenos. Viver em comunhão com o Pai celestial requer que vivamos no Espírito e também que tenhamos a experiência existencial de sermos amados por Ele. Mas muitas coisas que fazemos em nossos momentos de solidão nada têm a ver com o Espírito ou com a vontade soberana de Deus.
Somos pouco propensos a renunciar ao ‘livre arbítrio’. Querermos ter o controle administrativo de nossas vidas e, por isso mesmo, achamos muito arriscado viver em união com Javé. Procuramos então segurança pessoal e certezas em rituais, devoções, liturgias e encontros de oração. Essas atividades proporcionam uma sensação de paz passageira e prometem que não precisaremos deixar nossa zona de conforto e também que as nossas posses materiais não serão perturbadas.
Precisamos discernir claramente que, a seriedade, a sinceridade e o esforço são importantes, mas alguma coisa está faltando. A glória que resplandece na face de Cristo não resplandece em muitos de nós. Diferentemente de Jesus, não temos uma convicção profunda e interna sobre o que pretendemos ser.
Talvez porque não nos rendemos ao fogo do Espírito que queima por dentro. Nós até nos aproximamos o suficiente do fogo para sentir o calor, mas jamais mergulhamos nele, não somos tocados e transformados de forma sobrenatural. Podemos ser mais agradáveis do que a maioria das pessoas, ou ter melhor moral, mas não vivemos como ‘novas criaturas’. Em vez disso, nossa personalidade reflete nosso coração dividido.
A única maneira de mudar essa situação e entrar na vida de Cristo é a rendição a Deus, permitindo que Deus seja Deus. Tal rendição envolve escavar o campo de nosso coração e procurar a pérola da verdade escondida no fundo de nosso ser: pertencemos a Deus!
Ao declarar a realidade de nossa condição divina como filhos e filhas do Criador do universo, adquirimos o sentido de ‘pertencimento’. A consciência amorosa de filho do Pai nos afasta de uma vida perdida na procura de nossos desejos básicos e nos liberta da busca pelo Reino de Deus. Agora não precisamos viver vidas preocupadas e ansiosas por nossas necessidades.
Tudo o que temos e somos forma somente um “eu”, um coração que bate em sintonia com Jesus. Não pode haver firmeza de caráter ou conduta consistente sem esse ato corajoso de auto-afirmação. Paulo disse: “Já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim” (Gálatas 2:20).
De algum modo, o processo de focar nossa vida na mente e na obra de Jesus implica distanciar nosso “eu” do mundo ao redor e, não raramente, seremos tachados de loucos ou fanáticos. Portanto, esse tipo de foco exige de nós uma decisão constante de rendição ao domínio do Espírito. É aqui que encontraremos grande dificuldade e nos depararemos com os obstáculos do egoísmo, da sensualidade, da ambição, do ressentimento, do orgulho e do medo.
Os cristãos falam muitas vezes da necessidade de submissão a Deus. Mas há uma diferença essencial entre submissão e rendição. A primeira é uma aceitação consciente. Há uma rendição superficial, mas a tensão continua. Dizemos que aceitaremos a vontade de Deus, mas não de forma total. Trata-se de uma aceitação passiva, que pode ser descrita por palavras como resignação, complacência, reconhecimento, concessão. Existe em tal atitude um sentimento de reserva, um esforço na direção da não aceitação.
Em contrapartida, a rendição é o momento quando as forças de resistência param de agir, quando não podemos fazer mais nada, exceto responder ao comando do Espírito.
A capacidade de se entregar é um dom de Deus. Por mais que ansiosamente possamos desejar isso, por mais que diligentemente possamos nos esforçar para obter isso, a rendição não pode ser alcançada por empenho pessoal. Somente através de Cristo isso será possível:
“Eu sou a videira verdadeira, vos sois os ramos. Se alguém permanece em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; sem mim nada podeis fazer” (João 15:5).
A pérola de grande valor – a mente de Cristo – deve ser o mais valioso tesouro em nossa vida, e devemos procurá-la na oração perseverante, na comunhão com nossos irmãos a na vida como cidadãos do Reino dos céus. Somente então se revelará em nossa vida o milagre do amor e da unidade.
A vontade de Deus é que cresçamos em santidade (I TS 4:7), que conheçamos a verdade que nos liberta (Jo 8:32), e que nos alegremos com a alegria que ninguém pode nos tirar (Jo 16:22).



  

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