segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

A autoridade decrescente de Cristo nas igrejas

“Em memória do servo A.W. Tozer, baseado em seu último escrito publicado em maio de 63, dois dias após a sua morte”
Este é um fardo em meu coração e embora não reivindique para mim  qualquer inspiração especial, sinto porém, que este é também um fardo do Espírito. Se conheço o meu próprio coração é apenas o amor que me leva a escrever isto. O que deixo aqui por escrito não é o fermento ácido de alguém agitado por contendas com companheiros cristãos. Não houve conflitos.
Não fui abusado, maltratado ou atacado por ninguém. Essas observações também não são fruto de experiências desagradáveis que tenha tido em minha associação com outros. Minha convivência com a igreja que freqüento assim como cristãos de outras denominações sempre foram amigáveis, corteses e satisfatórias. Minha tristeza resulta simplesmente de uma condição que acredito achar-se quase universalmente presente nas igrejas.
“Meu Deus! Estou confuso e envergonhado para levantar a ti a minha face, meu Deus: porque as nossas iniqüidades se multiplicaram sobre nossa cabeça, e a nossa culpa cresceu até os céus” (Esdras 9: 13).
Qualquer crítica feita aqui a outros deve voltar-se contra mim. Eu também sou culpado. Isto está sendo escrito na esperança de que possamos todos voltar-nos para o Senhor nosso Deus e não pecar mais contra Ele. Permita que declare a causa do meu fardo:
            “Jesus Cristo não tem hoje quase nenhuma autoridade entre os grupos que se chamam pelo seu nome”.
Não estou me referindo aqui aos católico-romanos, nem aos liberais, nem sequer aos cultos quase-cristãos. Refiro-me às igrejas protestantes em geral e incluo aquelas que protestam mais alto que não se acham num declive espiritual, afastando-se de nosso Senhor e seus apóstolos, a saber, os “evangélicos”.
Trata-se de uma doutrina básica do Novo Testamento que após a sua ressurreição o Homem Jesus foi declarado por Deus como sendo Senhor e Cristo, e que Ele foi investido pelo Pai com absoluta soberania sobre a igreja que é o seu Corpo. Ele possui toda a autoridade no céu e na terra. Na hora oportuna Ele irá exercê-la plenamente, mas durante este período na história Ele permite que esta autoridade seja desafiada ou ignorada. E justamente agora ela está sendo desafiada pelo mundo e ignorada pela igreja.
A posição atual de Cristo nas igrejas evangélicas pode ser comparada à de um rei numa monarquia limitada, constitucional. O rei não passa em tal país de um símbolo agradável de unidade e lealdade, tal como uma bandeira ou hino nacional. Ele é louvado, festejado e sustentado, mas sua autoridade como rei é insignificante. De maneira nominal lidera a todos, mas nas horas de crise alguém mais toma as decisões. Nas ocasiões solenes aparece em suas roupagens reais a fim de pronunciar o discurso insípido, incolor, colocado em seus lábios pelos verdadeiros senhores do país.
Entre as igrejas evangélicas, Cristo não passa hoje de um simples símbolo, muito amado. “Todos louvem o Poder do Nome de Jesus” é o hino nacional da igreja e a cruz sua bandeira oficial. Mas nos cultos semanais da igreja e na conduta diária de seus membros, alguém mais, e não Cristo, toma as decisões.
Nas ocasiões adequadas, permite-se que Cristo diga: “Vinde a mim, todos vós que estais cansados e sobrecarregados” ou “Não se turbe o vosso coração”, mas no momento em que termina o sermão alguém toma a dianteira. Os que têm autoridade decidem quais devem ser os padrões morais da igreja, assim como todos os objetivos e métodos empregados para alcançá-los. Devido a uma organização longa e meticulosa, o jovem pastor recém saído do seminário exerce hoje muitas vezes mais autoridade sobre a igreja do que Jesus Cristo.
Cristo não só tem agora menos ou nenhuma autoridade, Ele também está perdendo cada vez mais a sua influência. Não diria que ela é inexistente, mas sim que é pequena e está diminuindo. A soberania de Jesus não está de todo esquecida entre os cristãos, mas foi relegada aos hinos, onde toda responsabilidade em relação a ela pode ser confortavelmente descarregada num brilho de agradável emoção religiosa.
No caso de ser ensinada como uma teoria na sala de aula, ela é raramente aplicada na vida diária. A idéia de que o Homem Cristo Jesus possui autoridade final e absoluta sobre toda a igreja e todos os seus membros, em cada detalhe de suas vidas, é simplesmente posta de lado hoje como não sendo verdadeira pelos cristãos evangélicos de modo geral.
O que fazemos é o seguinte: aceitamos o cristianismo de nosso grupo como sendo idêntico ao de Cristo e seus apóstolos. As crenças práticas, ética e atividades de nosso grupo são equacionadas com o cristianismo do Novo Testamento. O que quer que o grupo pense, diga ou faça é bíblico, sem que se façam perguntas. Presume-se que tudo que o Senhor nos pede é para ocupar-nos com todas as atividades do grupo; e, agindo assim, estamos cumprindo os mandamentos de Cristo.
No sentido de evitar a dura necessidade de obedecer ou rejeitar as claras instruções do Senhor no Novo Testamento, nos refugiamos na interpretação liberal das mesmas. Os evangélicos sabem perfeitamente fugir das arestas aguçadas da obediência por meio de explicações sutis e complexas. Estas são feitas sob medida para a carne. Eles desculpam a desobediência, acomodam a carnalidade e neutralizam as palavras de Cristo. A essência de tudo é simplesmente que Cristo não poderia ter pretendido dizer o que disse. Seus ensinos, mesmo em teoria, são aceitos apenas depois de terem sido diluídos pela interpretação.
Para o verdadeiro cristão, o teste supremo de tudo quanto se refere à religião é o lugar que o Senhor ocupa. Ele é Senhor ou símbolo? Acha-se no controle do projeto ou não passa de um simples ajudante? Decide as coisas ou apenas colabora na execução dos planos de outros? Todas as atividades religiosas, desde o ato mais simples de um único cristão até as operações cansativas e dispendiosas de uma denominação, podem ser testadas de acordo com a resposta dada à pergunta: “Jesus Cristo é Senhor neste ato?
O fato de nossas obras provarem ser de madeira, palha e mato em lugar de ouro, prata e pedras preciosas naquele grande dia, vai depender da resposta certa a essa pergunta.
Que fazer então? Cada um de nós deve decidir, e existem três escolhas possíveis. Uma delas é indignar-se e acusar-me de uma atitude irresponsável. Outra é concordar de maneira geral com o que escrevi, mas consolar-se com a idéia de que existem exceções e estamos entre estas. A terceira é prostar-se humildemente e confessar que entristecemos o Espírito e desonramos o Senhor, deixando de dar-lhe a posição que o Pai lhe conferiu como Cabeça e Senhor da igreja.
A primeira e a segunda não farão senão confirmar o erro. Mas a terceira, se levada até sua execução final, poderá remover a maldição. A decisão é nossa.

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