quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

O Livre-Arbítrio

É inerente à natureza humana que a sua vontade tem de ser livre. Feito à imagem de Deus, que é completamente livre, o homem deve gozar de certa medida de liberdade. Esta o capacita a escolher os seus companheiros para seu convívio social e para o porvir; capacita-o a sujeitar a sua alma a quem ele quiser, a aliar-se a Deus ou ao diabo, a continuar pecador ou tornar-se santo.
E Deus respeita esta liberdade. No princípio Deus viu tudo que tinha feito, e eis, que era muito bom. Tão alta consideração Deus tem pela obra das Suas mãos, que por nenhum motivo lhe fará violência. Para Deus, passar por cima da liberdade do homem e forçá-lo a agir contrariamente à sua vontade seria escarnecer da imagem de Deus no homem. Deus jamais fará isso.
Deus dará nove passos em direção a nós, porém não dará o décimo. Ele nos inclinará ao arrependimento, mas não poderá arrepender-se por nós. Deus pode ficar à espera do homem que pecou; pode sustar o seu julgamento; pode exercer paciente tolerância; mas não pode forçar o homem a arrepender-se. Fazê-lo seria violar a liberdade do homem e esvaziar o dom que originalmente Deus lhe dera.
Onde não há liberdade de escolha não pode haver nem pecado nem retidão, porque é da natureza de ambos que sejam voluntários. Por melhor que seja um ato, ele não será bom se for imposto de fora. O ato de imposição destrói o conteúdo moral do ato e o torna nulo e vazio. Para que um ato seja pecaminoso é preciso que também esteja presente o seu caráter voluntário.
Pecado é a prática voluntária de um ato que se sabe contrário à vontade de Deus. Onde não há conhecimento moral ou onde não há escolha voluntária, o ato não é pecaminoso; não pode ser, pois o pecado é a transgressão da lei, e transgressão tem de ser voluntária.
Lúcifer se tornou Satanás quando fez a sua escolha fatídica: “Subirei acima das mais altas nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo” (Isaías 14:14). Claramente se vê aí uma escolha feita deliberadamente contra o Senhor e soberano dos céus e da terra. Tanto o conhecimento como a vontade estavam presentes no ato.
De modo totalmente inverso, Cristo revelou Sua submissão quando bradou em Sua agonia “Não se faça a minha vontade, e, sim a tua” (Lucas 22: 42). Vê-se aí uma escolha deliberada, feita com pleno conhecimento das conseqüências. Ali duas vontades estiveram em conflito temporário, a vontade inferior do homem Jesus e a vontade superior do Cristo de Deus. A vontade superior prevaleceu. Viu-se ali, em evidente contraste, a enorme diferença entre Cristo e Satanás; é essa diferença que deve separar o santo do pecador, o Reino dos céus do reino das trevas.
Nenhum ato que seja praticado voluntariamente constitui uma revogação do livre-arbítrio. Se alguém escolhe a vontade de Deus, não está negando, mas, sim, exercendo o seu direito de escolha. O que ele está fazendo é admitir que a escolha de Deus sempre será muito mais sábia do que a sua própria escolha, e que escolheu fazer aquilo que é mais sábio. Para o homem decaído, este é o retorno ao estado original que tinha com Deus antes do pecado no Éden, quando ele buscava saber de Deus o certo e o errado e obedecia confiante.
O segredo de uma vida santificada não está na destruição da vontade, mas em fazê-la submergir na vontade de Deus. O verdadeiro santo é alguém que reconhece que possui o dom da liberdade oriundo de Deus. Ele sabe que jamais será espancado para obedecer, nem adulado, como uma criança mimada, para fazer a vontade de Deus; sabe que estes métodos são indignos de Deus e da sua própria alma. Sabe que é livre para fazer a escolha que quiser e, com esse conhecimento, escolhe para sempre a bendita vontade de Deus.
“Pois eu não busco a minha vontade, mas a vontade do Pai que me enviou” (João 5: 30).
Mas Paulo respondeu: “Que fazeis vós, chorando e magoando-me o coração? Eu estou pronto não só a ser ligado, mas ainda a morrer em Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus”. Como não podíamos persuadi-lo, dissemos: “Faça-se a vontade do Senhor” (Atos 21: 13-14).    

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